Ingressar em uma universidade pública é o sonho de muitos jovens e adultos, mas manter-se no ensino superior nem sempre é fácil. Um dos desafios que boa parte dos estudantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) enfrentam é a distância de casa e o trajeto até o campus sede, localizado no bairro São Pedro, zona oeste do município. Metade dos alunos e alunas usa o transporte coletivo público para chegar ao campus e a minoria possui veículo próprio.
Os dados são da V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais, realizada pelo Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) que indicam onde moram e quais os meios de transporte utilizados pelos estudantes.
Para o pró-reitor de assistência estudantil, Marcos Freitas, conhecer esses dados ajudam a traçar o perfil socioeconômico dos estudantes e reafirmam a importância das políticas de assistência estudantil. “A partir desse levantamento percebemos que nos últimos anos a universidade pública ampliou o acesso de pessoas que antes não tinham a possibilidade de um ensino superior. E isso confirma a necessidade de incluí-las e garantir suas permanências.”
Perto do campus
O transporte público é o meio utilizado pela maioria dos alunos da UFJF. Os dados indicam que 50,5% utilizam os ônibus urbanos para o acesso ao campus e 18% possuem veículo próprio. Apesar de morar em Juiz de Fora, a estudante de Ciências Sociais, Letícia Smanio, faz parte dessas estatísticas. Ela reside no bairro Araújo, localizado na zona norte, e demora entre 40 minutos e uma hora e meia no trânsito. “Quando consigo pegar o ônibus direto, é mais rápido. Quando tenho que fazer baldeação, leva muito mais tempo”. Letícia conta que, muitas vezes, gasta quatro passagens para ir e voltar da aula, além do longo tempo no transporte coletivo. Para ela, apesar de cansativo, o esforço é recompensado. “Sou a primeira pessoa da minha família a estar no ensino superior, para eles é uma coisa grandiosa e motivo de orgulho. Eu não teria como pagar uma faculdade particular, então a universidade pública é uma oportunidade de realizar esse sonho.”
A estudante participa dos programas de assistência estudantil da UFJF e recebe os auxílios transporte e alimentação. “Quando entrei na faculdade, não tinha nenhuma renda e minha família também não podia me bancar aqui dentro. Os auxílios foram essenciais para minha permanência até hoje. Com essa ajuda, consigo vir mais cedo e ficar o dia inteiro, almoçando e jantando no Restaurante Universitário”, conta.
Marcos Freitas ressalta que o auxílio transporte é um elemento essencial para a permanência dos alunos da graduação que se enquadram no perfil socioeconômico determinado, com renda per capita familiar de até 1,5 salário mínimo por mês. “O deslocamento dentro de Juiz de Fora produz um custo que muitas famílias não conseguem arcar”. O pró-reitor explica que há duas modalidades de apoio financeiro para a locomoção entre a residência e a UFJF durante o período letivo. “Uma se refere aos estudantes que moram perto e só precisam de duas passagens ida e volta. Para os que residem em bairros mais distantes, fornecemos o auxílio pecuniário para quatro passagens.”
O aluno do Instituto de Artes e Design (IAD), Gabriel Miranda, é um dos que costumam fazer o trajeto de carro. Para ele, a vantagem é o conforto e a possibilidade de sair de casa um pouco mais tarde, por não depender do horário de coletivos. Ele conta que aproveita a viagem para dar carona aos colegas. “É essencial usufruir do benefício que você tem para ajudar as pessoas”. Segundo o levantamento, 3,9% dos alunos deslocam-se até a universidade por meio das caronas e 24% fazem o trajeto a pé. De acordo com a pesquisa, 34% dos estudantes demoram até meia hora para chegar à universidade e 23% gastam menos de 15 minutos.
O estudante de Engenharia Civil, Wesley do Vale, é um dos alunos que costuma ir andando de casa até a faculdade. Ele mora no bairro São Pedro, em uma república próxima ao campus. “Vim de São João Nepomuceno com um grupo de amigos do ensino médio e resolvemos morar juntos para dividir os custos. Um dos critérios na escolha da casa foi a proximidade, para não gastar com ônibus.” Para Wesley, a vida em república tem aprendizados importantes. “Você passa a ser responsável pela sua casa e aprende a respeitar as diferenças, que é uma coisa bastante produtiva.” Em Juiz de Fora há quase três anos, conta que aprendeu a viver em uma nova cidade e a lidar com a saudades de casa. “Tenho gostado bastante de tudo na UFJF, uma experiência muito enriquecedora. Além disso, a cidade te oferece muitas coisas, mas não chega a ser estressante como uma grande metrópole, tem o equilíbrio necessário.”
Bate e volta
De acordo com a pesquisa, 90,5% dos alunos residem no município onde cursam a graduação e um percentual de 9,5 vive em outras localidades enquanto estuda. A prática é comum uma vez que Juiz de Fora é pólo regional de ensino para muitas cidades do entorno e as distâncias relativamente curtas permitem o bate e volta de alunos que, diariamente, enfrentam a estrada para chegar ao campus.
É o caso da estudante Inês Maria de Oliveira, que sai de Ewbank da Câmara todos os dias para cursar Rádio, TV e Internet. Ela conta que costuma pegar o ônibus interurbano pela manhã, saindo de casa duas horas antes do início da aula. Com cerca de 41 km de distância entre as duas cidades, a viagem tem duração de, aproximadamente, 50 minutos. “Depois pego outro ônibus do centro até o campus, que demora cerca de 25 minutos para chegar.” No quinto período e a única da família a cursar o ensino superior, ela acredita que a motivação para o esforço diário está no crescimento proporcionado pelas experiências na graduação. “Brinco que antes de escolher a UFJF, ela me escolheu. Para mim, estar na faculdade significa resistência em uma época tão difícil. Por isso, busco viver intensamente cada momento proporcionado pela UFJF.”
Assim como Inês, cerca de 14,5% dos alunos da UFJF gastam entre uma e duas horas para chegar à universidade e 25% demoram entre 30 minutos e uma hora neste trajeto.
Moradia estudantil
O levantamento da Andifes aponta que mais de 20% dos estudantes da UFJF residem em repúblicas, enquanto 47% moram com os pais. O restante divide-se entre morar sozinho (11,7%), com companheiros (7,7%), com outros familiares (4,9%), na casa de amigos (1,2%) ou em moradias coletivas (3,6%). Na UFJF, quem é de fora e se enquadra nos critérios de seleção tem a chance de conseguir uma vaga na moradia estudantil, localizada no bairro São Pedro. Atualmente a moradia contempla 100 alunos regularmente matriculados nos cursos de graduação presencial. Segundo Freitas, o alojamento permite que os estudantes de outras cidades estejam em Juiz de Fora e tenham um local digno para viver. “O estudante da moradia tem garantia de teto e alimentação gratuita no RU. A gente entende que esses são os maiores pilares para a permanência”, ressalta o pró-reitor.
Se não fosse a moradia eu não estaria onde estou hoje
Para o estudante de Artes e Design, Isaac Nobre Garcia, que reside na moradia há cerca de um ano, a experiência tem sido essencial para sua permanência no ensino superior. “Se não fosse a moradia eu não estaria onde estou hoje. E reconheço também a importância de outros auxílios. Se você tem a certeza de um teto para dormir todos os dias, três refeições diárias gratuitas e transporte para o campus garantido, isso faz muita diferença no final.”
O estudante costuma ir a pé até o campus e utiliza o ônibus circular para os trajetos internos, como acesso ao instituto e ao RU. Isaac veio do interior de São Paulo e, apesar dos desafios do alojamento compartilhado, enxerga na sua formação a possibilidade de crescimento pessoal e coletivo. “A convivência com a pluralidade de pessoas diferentes permite desenvolver diversos atributos que nos tornam seres conscientes do meio em que vivemos. É um exercício diário que traz desafios, conhecimentos, dificuldades, mas também muita alegria”.