O Aedes aegypti talvez seja um dos insetos mais temidos pelos brasileiros. E não é para menos. Ele é o responsável pela transmissão da zika, chikungunya e do mais conhecido desses vírus: a dengue. Este ano, em Minas Gerais – um dos estados brasileiros com maior incidência da doença – já foram registrados, até a última segunda-feira, 13, mais de 247 mil casos suspeitos e 38 mortes provocadas pela dengue. Os números são bem superiores aos de 2018, quando 12 pessoas morreram e 29.369 foram notificadas. Governador Valadares, apesar de estar entre os municípios mineiros com baixa incidência das arboviroses – como são chamadas as doenças causadas pelos vírus transmitidos por insetos –, ainda é considerada uma cidade endêmica, o que exige atenção permanente.
E quem não tira os olhos desse cenário é o professor do campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), Thiago Vinícius Ávila. Desde 2016 – época em que Minas Gerais viveu uma epidemia de dengue –, o docente do Departamento de Ciências Básicas da Vida desenvolve ações voltados para a diminuição dos focos do Aedes aegypti e, consequentemente, dos casos de arboviroses na cidade. A mais recente dessas atividades aconteceu na última sexta-feira, 17, e consistiu em uma oficina oferecida a profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) de Governador Valadares.
O treinamento faz parte de um dos três projetos – 2 de extensão e um de pesquisa – que Ávila desenvolve em parceria com outra professora da UFJF-GV, Alexandra Paiva Araújo Vieira, e mais cinco estudantes de Medicina do campus. Esta iniciativa tem o objetivo de criar uma rede de mobilização social, com a participação e o envolvimento de toda a população valadarense na busca por alternativas de combate ao mosquito.
Estratégia inovadora
Apesar das campanhas educativas, promovidas pelo poder público nas mais diversas mídias, Ávila observava que a incidência das arboviroses não era reduzida. O motivo do insucesso dessas ações – observou ele – estava relacionado à falta de envolvimento da comunidade, que apesar de receber informações sobre zika, chikungunya e dengue e da importância de eliminação do mosquito transmissor, não era estimulada a fazer parte dessas estratégias.
O professor então concluiu: “se a gente montar uma rede de mobilização social, induz a participação das pessoas”. Foi aí que idealizou as oficinas ministradas aos profissionais do Nasf, que, posteriormente, transmitem os conteúdos aos usuários dos serviços de saúde. A ideia desses treinamentos é “adquirir conhecimento da comunidade para entender quais são as dificuldades para combater a doença em cada território”, afirma Ávila. Essa forma de combate focada no envolvimento efetivo dos moradores e em ações sob demanda de cada região da cidade é uma estratégia inovadora contra a dengue e demais arboviroses.
Das seis oficinas previstas no cronograma do projeto de extensão, três já foram realizadas. As duas primeiras foram focadas no mapeamento dos territórios, mobilização dos principais atores sociais de cada um deles e identificação da realidade de saúde de cada área. Já a terceira, realizada na última sexta-feira, abordou as formas de tornar a rede de mobilização cada vez mais ativa.
E o trabalho desempenhado por professores e alunos da UFJF-GV já tem surtido efeitos, como explica a assistente social do Nasf. “A população tem discutido sobre o tema, tem achado relevante e está multiplicando isso com os outros atores sociais do território. Já estão criando estratégias de falar – nas missas, nos cultos, nas escolas – sobre a questão de mobilizar a população em relação às arboviroses”, afirma Caroline Ávila.
Pesquisa chega a resultado inédito
Além do projeto de extensão, Ávila também coordena atividades de pesquisa que buscam entender por que alguns grupos são mais vulneráveis à dengue do que outros. O Núcleo de Estudos em Doenças Inflamatórias (Nedi) – composto por alunos e professores do curso de Medicina da UFJF-GV –, do qual faz parte, analisou os dados de cerca de 180 pacientes acometidos pelo surto de dengue que ocorreu em Belo Horizonte no ano de 2010. E foi com base nessas informações que os pesquisadores chegaram a um resultado inédito: hipertensão, diabetes e tabagismo não determinaram uma manifestação da forma mais severa da doença em indivíduos jovens. Tais fatores só são relevantes em pessoas acima dos 55 anos.
Uma das estudantes a participarem da pesquisa, Iara Arruda dos Santos explica que “possivelmente, não são essas comorbidades que justificam um pior prognóstico nos indivíduos mais velhos, mas outros fatores relacionados ao próprio envelhecimento, como o estado de inflamação crônica e a redução generalizada das funções fisiológicas.”
Como se trata de uma descoberta inovadora, o Nedi pretende apresentar os resultados nesta edição do Congresso Brasileiro de Medicina Tropical, que acontece em Belo Horizonte, em julho deste ano.
O próximo passo, agora, é juntar esses dados às informações que o grupo também coletou dos prontuários de 60 pacientes das cinco unidades de saúde de Governador Valadares que mais notificaram casos de dengue nos anos de 2017 e 2018.