Raphael Dutra irá apresentar 30 aquarelas e guaches sobre papel na casa sede do Jardim Botânico (Foto: Raissa Segantini)Binóculos, máquina fotográfica, gravador, aquarela, bloco e lápis compõem o arsenal de Raphael Dutra em suas incursões solitárias a campo para registro de alguns dos principais personagens de um ofício que o apaixona – a ilustração de aves. Dutra é o autor da série “Aves da Mata do Krambeck no Jardim Botânico da UFJF”, conjunto de 30 aquarelas e guaches sobre papel que permanecerá exposto na casa sede do Jardim Botânico. O trabalho foi realizado in loco, a convite da Universidade, por meio da Pró-reitoria de Cultura, como parte dos preparativos para a abertura da visitação pública ao mais novo espaço da UFJF, adquirido em 2010 e com inauguração na próxima sexta-feira, 12.
As pranchas de 50x70cm apresentam alguns dos pássaros e aves desse habitat, que constitui com a vizinha Mata do Krambeck (Área de Proteção Ambiental) um extenso remanescente florestal fundamental para a preservação de ecossistemas de Mata Atlântica. A ilustração científica desempenha um extraordinário papel na divulgação da ciência – especialmente quando voltada para o público geral. Seu apelo junto ao segmento infantil é óbvio: “A ilustração tem um poder grande com crianças. Elas as veem e querem desenhar também”, observa o ilustrador.
Capaz de conciliar rigor e arte, a ilustração científica proporciona informação sobre características das espécies, como variações morfológicas, proporções, padrões e, inclusive, comportamento, por oferecer também aspectos de sua ambientação. Realizadas ao longo de cinco anos, com interrupções, as pranchas de Aves da Mata do Krambeck no Jardim Botânico da UFJF têm um caráter artístico mais livre, por não serem trabalhos voltados para biólogos. Raphael Dutra pôde se concentrar no desenho dos animais em sua interação com o ambiente.
O ilustrador trabalha com esboço a lápis, realizado no local da observação, interessado em captar movimentos e atento a detalhes como plantas, fundos, luzes e sombras. “Procuro fazer uma fotografia mental da cena”, explica Dutra, que em média gasta 15 dias na produção de cada prancha, enfrentando às vezes a “síndrome do papel em branco” – o desafio de transpor as observações para o trabalho artístico-científico, finalizado em seu estúdio. “A composição é a maior dificuldade do processo”, avalia. “A ilustração tem que ter uma disposição harmônica e ser como um palco de teatro, ou o passarinho não sai do papel”, afirma. Além do trabalho de campo, o ilustrador recorre a museus onde há aves taxidermizadas para estudo de espécies.
Riqueza natural
Em suas incursões ao Jardim Botânico da UFJF, Raphael Dutra pôde constatar a rica biodiversidade do local. Ali observou um exemplar de Maria-cabeçuda, ave muito associada a bambuzais e cuja população existente é muito pequena. Seu primeiro registro na região foi feito no Jardim Botânico. O local também é habitat para aves como a marreca-do-bico-roxo, frequentadora do lago, e os tangarás – pouco conhecidos, mas comuns na região, com um papel na dispersão de sementes -, além da saíra-andorinha, do tucano-de-bico-verde, de jacus, surucuás e frangos d´água, dentre outros.
“São muitas aves e outros animais que dependem daquele ambiente”, alerta o ilustrador. “Os pássaros têm um território. Se tiram a mata, espécies especializadas, florestais, vão morrer”, ressalta, preocupado com as consequências da intervenção humana, como as mudanças climáticas e a redução de áreas verdes em cidades como Juiz de Fora.
Segundo o ilustrador, a criação do Jardim Botânico é de importância gigantesca para Juiz de Fora, cidade “muito cinza”, para que as pessoas, “cada vez mais urbanas, voltem a ter contato com a natureza, sintam o pé no chão, e para que as futuras gerações aprendam in loco a beleza daquilo”. Além disso, diz ele, a área será um campo de pesquisas acadêmicas que contribuirão para a preservação do patrimônio genético das espécies que a habitam.
Fascinado por retratar a natureza, Raphael Dutra tornou-se um autodidata em ilustração científica, atividade que hoje exerce paralelamente ao trabalho como professor de canto. “Nunca fiz outra coisa diferente de cantar e desenhar. Sou um abençoado por viver de arte”, conta ele, que desde cedo se interessou pela área e buscou a literatura especializada para se aprofundar e construir o conhecimento que hoje domina.
As galerias
A casa sede do Jardim Botânico passa a contar com três galerias, nomeadas com verbetes Puris, povo indígena que dominou a região no século XIX, também identificado como Coroados. Foram pensadas palavras caras à cultura, à extensão e ao Jardim Botânico, daí a escolha de *Tchóre*, que significa mato, *Mehtl’on*, que significa força e *Tlegapé*, que significa luta.
Aves da Mata do Krambeck no Jardim Botânico da UFJF – Raphael Dutra – Exposição permanente de aquarelas e guaches sobre papel
Abertura:
Dia 12, às 9h30 (para convidados da solenidade de inauguração) e às 13h (para o público em geral), na Galeria Tlegapé, na Casa Sede do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora
Rua Coronel Almeida Novais s/n, Bairro Santa Terezinha
Sem estacionamento.
Visitação: de terça a sexta-feira, das 8h às 17h, e domingos, das 8h às 17h. Última entrada às 16h30. Feriados: sob consulta pelo telefone 3224-6725.
Outras informações: Pró-reitoria de Cultura – 2102-3964
Jardim Botânico – 3224-6725