Celebração foi marcada por homenagens, reencontros e música (Foto: Alexandre Dornelas)

O centenário do casarão do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), comemorado nesta sexta-feira, 1°, foi marcado pela celebração de uma história que perpassa muitas vidas. A abertura foi feita com a exibição do documentário “100 anos de Villa Cecy”, criado e dirigido pelo professor de Comunicação Social da UFJF e atual diretor do Forum da Cultura, Flávio Lins. Nele, os cem anos de história do casarão foram recontados, retomando detalhes e curiosidades de quem por lá passou, reescrevendo memórias dos descendentes de Cecy, e, consequentemente, retomando um pouco da história da UFJF e da cidade de Juiz de Fora.

Em sua fala de abertura, Lins destacou os trabalhadores que ajudaram a preservar o casarão, atuando com reparos, limpezas e pinturas ao longo dos anos. Também teceu agradecimentos especiais às famílias, aos grupos e às instituições que marcaram a história da casa, como os familiares dos primeiros moradores, os ex-reitores Gilson Salomão e Michel Bechara, o ex-diretor da Faculdade de Direito, Benjamin Colucci, o ex-diretor do Forum da Cultura, José Luiz Ribeiro, e o atual reitor da instituição, Marcus Vinicius David. O diretor do Forum relata, no vídeo a seguir, como foi descoberta a data do centenário:

Em seguida, o ex-diretor do Forum, José Luiz Ribeiro, afirmou que, para ele, a casa significa afeto e generosidade. “É saber que, em uma boa parte desse centenário, nós viemos para dar alma a essa casa. Quando trouxemos o teatro, com uma preocupação social, fizemos com que as comunidades pudessem usufruir dessa casa, outrora pertencente à elite, fazendo com que a alma do povo entrasse por meio do trabalho do teatro”. Ele ainda fez uma homenagem à atriz do Grupo Divulgação e coordenadora de Projetos de Extensão desenvolvidos no Forum, Márcia Falabella, que atua há 33 anos no Fórum.

Teatro fez com que “a alma do povo entrasse” no casarão, afirma José Luiz Ribeiro (Foto: Alexandre Dornelas)

Marcinha, como é conhecida, contou que seus pais dizem que o Forum da Cultura é mais sua casa do que a sua própria residência pessoal – e ela concorda. “Eu fico muito emocionada e muito feliz. É particularmente especial para nós, do Grupo Divulgação, que veio para cá em 1971. Esta virou nossa casa, nossa sede e, como nos apresentamos aqui, o nosso templo. Que continuemos a resistir.”

O reitor Marcus David, homenageado durante a noite, afirmou que a Universidade assume funções que vão além do ensino e da pesquisa, se inserindo na sociedade de outras formas, como através da cultura. “Podermos comemorar uma data tão importante como esta significa que a Universidade cumpriu uma função muito importante, que é a de disseminar cultura e arte para a nossa sociedade. E ela faz isso através de esforço e de uma capacidade de manter um patrimônio tão bonito como esse aberto ao público, organizando produções artísticas e culturais de muita sensibilidade e que permitem um desenvolvimento da nossa sociedade.”

Seguindo a programação, foi dado início ao Concerto para Cecy, em homenagem a Maria Cecília Schlobach Valle, que se apresentava como pianista em concertos públicos quando jovem e, após se casar, ensinou seus filhos a tocar piano. A apresentação contou com a abertura do pianista do Coral da UFJF, Bernard Rodrigues e, em seguida, com a Orquestra de Juiz de Fora, regida por Yuri Reis. O recital conquistou o público que, com palmas, participou das músicas e ainda pediu bis. A noite foi finalizada com um coquetel para os convidados.

Um século de historia
Em sua primeira fase, o casarão abrigou a origem dos filhos, netos, bisnetos e outros familiares do casal Maria Cecília Schlobach Valle e Clóvis Guimarães Mascarenhas, que enlaçou matrimônio no dia 29 de janeiro de 1919. Nesta data, a casa, inicialmente nomeada como Villa Cecy, foi dada como presente de casamento. Anos mais tarde, a família do comerciante de Cataguases, Roque Domingues de Araújo, adquiriu a casa e nela viveu, fazendo com que o fio da história enlaçasse muitas outras vidas.

A segunda fase começou quando a casa foi vendida pela viúva de Araújo para a Faculdade de Direito. Após reformas e ampliações, passou a ser a sede do curso e do gabinete do Reitor da UFJF, recebendo o nome de Edifício Benjamin Colucci.

Já a terceira fase foi iniciada em 1971, acarretada pela mudança da Faculdade de Direito para o campus da UFJF. Assim, o casarão foi convertido em espaço cultural, nomeado “Forum da Cultura”. Em 1972, passou a abrigar um teatro, um museu e uma galeria de arte, além de ser ocupado pelo Grupo Divulgação e o Coral Universitário, todos ainda em atividade.

Joana de Oliveira, bisneta de Cecy, afirma que a família cultiva a tradição de visitar a cidade e o casarão (Foto: Paola Ferreira)

A bisneta de Cecy, Joana Pires Mascarenhas de Oliveira, nascida em Belo Horizonte, afirmou que sua família sempre teve como tradição vir a Juiz de Fora para revisitar suas origens. Emocionada, lembra que sua avó, Zelinha, como é chamada, sempre falou muito de sua bisavó Maria Cecília e de Etelvina, mãe de Cecy. Ela contou que, enquanto caminhavam pela Rua Santo Antônio a caminho do evento, a avó ia apontando para casas e enumerando quais familiares já moraram ali e, ao chegar à antiga Villa Cecy, ela, emocionada, apontava as fotos de seus pais mostrando: “Olha o papai, olha a mamãe”. Segundo a bisneta de Cecy, a experiência de entrar na casa onde sua avó nasceu e que faz parte da história de tantas outras vidas foi única: “É procurar um pouco da gente em cada um desses lugares.”