O centenário do casarão do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), comemorado nesta sexta-feira, 1°, foi marcado pela celebração de uma história que perpassa muitas vidas. A abertura foi feita com a exibição do documentário “100 anos de Villa Cecy”, criado e dirigido pelo professor de Comunicação Social da UFJF e atual diretor do Forum da Cultura, Flávio Lins. Nele, os cem anos de história do casarão foram recontados, retomando detalhes e curiosidades de quem por lá passou, reescrevendo memórias dos descendentes de Cecy, e, consequentemente, retomando um pouco da história da UFJF e da cidade de Juiz de Fora.
Em sua fala de abertura, Lins destacou os trabalhadores que ajudaram a preservar o casarão, atuando com reparos, limpezas e pinturas ao longo dos anos. Também teceu agradecimentos especiais às famílias, aos grupos e às instituições que marcaram a história da casa, como os familiares dos primeiros moradores, os ex-reitores Gilson Salomão e Michel Bechara, o ex-diretor da Faculdade de Direito, Benjamin Colucci, o ex-diretor do Forum da Cultura, José Luiz Ribeiro, e o atual reitor da instituição, Marcus Vinicius David. O diretor do Forum relata, no vídeo a seguir, como foi descoberta a data do centenário:
Em seguida, o ex-diretor do Forum, José Luiz Ribeiro, afirmou que, para ele, a casa significa afeto e generosidade. “É saber que, em uma boa parte desse centenário, nós viemos para dar alma a essa casa. Quando trouxemos o teatro, com uma preocupação social, fizemos com que as comunidades pudessem usufruir dessa casa, outrora pertencente à elite, fazendo com que a alma do povo entrasse por meio do trabalho do teatro”. Ele ainda fez uma homenagem à atriz do Grupo Divulgação e coordenadora de Projetos de Extensão desenvolvidos no Forum, Márcia Falabella, que atua há 33 anos no Fórum.
Marcinha, como é conhecida, contou que seus pais dizem que o Forum da Cultura é mais sua casa do que a sua própria residência pessoal – e ela concorda. “Eu fico muito emocionada e muito feliz. É particularmente especial para nós, do Grupo Divulgação, que veio para cá em 1971. Esta virou nossa casa, nossa sede e, como nos apresentamos aqui, o nosso templo. Que continuemos a resistir.”
O reitor Marcus David, homenageado durante a noite, afirmou que a Universidade assume funções que vão além do ensino e da pesquisa, se inserindo na sociedade de outras formas, como através da cultura. “Podermos comemorar uma data tão importante como esta significa que a Universidade cumpriu uma função muito importante, que é a de disseminar cultura e arte para a nossa sociedade. E ela faz isso através de esforço e de uma capacidade de manter um patrimônio tão bonito como esse aberto ao público, organizando produções artísticas e culturais de muita sensibilidade e que permitem um desenvolvimento da nossa sociedade.”
Seguindo a programação, foi dado início ao Concerto para Cecy, em homenagem a Maria Cecília Schlobach Valle, que se apresentava como pianista em concertos públicos quando jovem e, após se casar, ensinou seus filhos a tocar piano. A apresentação contou com a abertura do pianista do Coral da UFJF, Bernard Rodrigues e, em seguida, com a Orquestra de Juiz de Fora, regida por Yuri Reis. O recital conquistou o público que, com palmas, participou das músicas e ainda pediu bis. A noite foi finalizada com um coquetel para os convidados.
Um século de historia
Em sua primeira fase, o casarão abrigou a origem dos filhos, netos, bisnetos e outros familiares do casal Maria Cecília Schlobach Valle e Clóvis Guimarães Mascarenhas, que enlaçou matrimônio no dia 29 de janeiro de 1919. Nesta data, a casa, inicialmente nomeada como Villa Cecy, foi dada como presente de casamento. Anos mais tarde, a família do comerciante de Cataguases, Roque Domingues de Araújo, adquiriu a casa e nela viveu, fazendo com que o fio da história enlaçasse muitas outras vidas.
A segunda fase começou quando a casa foi vendida pela viúva de Araújo para a Faculdade de Direito. Após reformas e ampliações, passou a ser a sede do curso e do gabinete do Reitor da UFJF, recebendo o nome de Edifício Benjamin Colucci.
Já a terceira fase foi iniciada em 1971, acarretada pela mudança da Faculdade de Direito para o campus da UFJF. Assim, o casarão foi convertido em espaço cultural, nomeado “Forum da Cultura”. Em 1972, passou a abrigar um teatro, um museu e uma galeria de arte, além de ser ocupado pelo Grupo Divulgação e o Coral Universitário, todos ainda em atividade.
A bisneta de Cecy, Joana Pires Mascarenhas de Oliveira, nascida em Belo Horizonte, afirmou que sua família sempre teve como tradição vir a Juiz de Fora para revisitar suas origens. Emocionada, lembra que sua avó, Zelinha, como é chamada, sempre falou muito de sua bisavó Maria Cecília e de Etelvina, mãe de Cecy. Ela contou que, enquanto caminhavam pela Rua Santo Antônio a caminho do evento, a avó ia apontando para casas e enumerando quais familiares já moraram ali e, ao chegar à antiga Villa Cecy, ela, emocionada, apontava as fotos de seus pais mostrando: “Olha o papai, olha a mamãe”. Segundo a bisneta de Cecy, a experiência de entrar na casa onde sua avó nasceu e que faz parte da história de tantas outras vidas foi única: “É procurar um pouco da gente em cada um desses lugares.”