Lista divulgada pela Revista Nova Escola inclui a professora na lista das oito pesquisadoras mais citadas para concursos públicos (Foto: Alexandre Dornelas)

A professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Daniela Auad, foi citada como uma das oito leituras indispensáveis para quem deseja prestar concurso na rede pública de Educação. A lista foi elaborada pela Revista Nova Escola, com base nos autores que aparecem com mais frequência nas bibliografias obrigatórias de concursos públicos do Brasil.

Referência nos estudos sobre questões de gênero e educação, Daniela é Coordenadora do Flores Raras – Grupo de Pesquisa Educação,  Comunicação e Feminismos na UFJF, além de integrar o Conselho Estadual da Mulher e participar do Observatório de Gênero e Raça de Minas Gerais. Os artigos publicados pelo Flores Raras estão disponíveis na internet.

A pesquisadora ressalta que a presença na lista reflete a importância dos materiais produzidos pelos nomes citados na formação docente. “São conhecimentos percebidos como qualificação profissional e que estão sendo produzidos em pesquisa, no interior da UFJF. Isso é a Universidade qualificando a educação base na fonte, tanto na formação inicial dos docentes quanto na formação continuada e na qualificação exigida para ocupar um cargo público como profissional na área de educação, nos diferentes níveis e modalidades de ensino”, explica Daniela.

Em entrevista ao Portal da UFJF, a professora relata a satisfação em saber que o conhecimento produzido por ela nas pesquisas é responsável pela formação de docentes não só durante as aulas em que ministra, como também durante os estudos para concursos. Confira, a seguir, a entrevista com Daniela Auad.

– Portal da UFJF: O que representa esse reconhecimento como umas das oito autoras indispensáveis para concurseiros da área de educação?

– Daniela Auad: Eu não imaginava que este levantamento estava sendo feito e, quando recebi a matéria, senti como um importante e feliz reconhecimento pelo trabalho de quase três décadas, um trabalho de pesquisa, tanto com forte abordagem feminista, quanto com rigorosos critérios de excelência acadêmica. Assim, a matéria representa, de modo comparativo e relevante, mais um fruto das pesquisas realizadas ao longo de anos de estudo, diálogo, reflexões e escrita sobre os Feminismos e as Relações de Gênero na área de Educação. Esse trabalho sempre se desenvolveu de modo coletivo e no interior do Grupo de Pesquisa que fundei desde 2006, quando ingressei – pouco depois do doutorado, mestrado e graduação na Universidade de São Paulo (USP) – como docente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Sigo desenvolvendo esse trabalho já há nove anos na nossa UFJF, onde o Grupo de Pesquisa passou a focalizar além de Feminismos, Gênero e Educação, os estudos da área de Comunicação, com o ingresso, desde 2010, da professora Cláudia Regina Lahni, da Faculdade de Comunicação (Facom). Vale notar que nosso trabalho em parceria na produção de conhecimento e em muitos outros setores da vida é a grande responsável por eu ter escolhido a UFJF para sediar meu trabalho, cuja abrangência sempre foi nacional.

Yves de la Taille, Emilia Ferreiro e os outros nomes que estão ali são de uma geração que não é a minha. Eu acho até gracioso ter sido chamada de novata quando comparada aos demais. Todas as pessoas citadas na lista formam professores e professoras e os qualificam, através de seus textos e das abordagens apresentadas, a docência e os processos de ensino e aprendizagem na educação básica e também ensino superior, porque esses intelectuais escrevem sobre os diferentes níveis e modalidades de ensino, da educação infantil até a pós-graduação. Então isso é muito importante porque é a expressão da relevância não de apenas uma pesquisadora da UFJF, mas a relevância da universidade pública, federal, de qualidade e com pesquisa de excelência para a melhoria da qualidade do sistema público de ensino brasileiro.

– Qual a importância de discutirmos gênero e educação?

– A importância de refletir sobre as relações de gênero que constituem os processos educacionais e de socialização, seja na escola, nas famílias ou na universidade, reside na enorme potencialidade em transformar as usuais relações de poder tradicionalmente  consagradas e ainda muito desiguais em trocas e interações mais favoráveis à construção de espaços democráticos onde tenham voz, por exemplo, mulheres e meninas, as populações negra, pessoas não binárias e demais minorias sociais comumente aviltadas em direitos à educação, à saúde, à comunicação e sem acesso a emprego e renda. Tais indivíduos e grupos são minorias sociais mas não minorias numéricas, de modo que compõem variados setores na nossa  sociedade para os quais a Educação em todos os níveis e modalidades tem de ofertar não apenas inclusão e tolerância, mas sobretudo cidadania democrática e respeito.

– Você tem novos projetos para 2019? Quais são seus objetivos dentro da pesquisa acadêmica neste ano?

– Em 2019 daremos continuidade às pesquisas já iniciadas em diferentes temáticas e temporalidades no âmbito do Flores (Flores Raras – Grupo de Pesquisa Educação,  Comunicação e Feminismos). Parafraseando quem faz cinema: com esse fazer, buscamos exibir, debater e transformar. Seguiremos construindo a excelência, com rigoroso e inspirado trabalho ao pesquisar, dialogar e democratizar no que se refere a todos os níveis de ensino, da educação infantil ao superior e pós-graduações. Assim, meus objetivos acadêmicos se congregam na direção de estar na UFJF para dialogar com pesquisadoras de todo o Brasil, América Latina e demais países que valorizem a democracia.

Cumpre destacar que a pesquisa acadêmica é uma das faces de uma só construção mais ampla, que é a construção de um cotidiano de luta e persistência. Por um lado para não resvalar para o produtivismo extremamente prejudicial e, por outro lado, para devolver à sociedade resultados das pesquisas realizadas com o erário público, sob a forma de textos acessíveis. A população que paga impostos e financia a Universidade precisa ter tal retorno sob a forma de maior qualidade de ensino.

Para mim, assim como para muitas mulheres, também é um objetivo e tanto seguir fazendo ciência apesar dos tensionamentos de retrocesso que temos assistido e apesar dos rótulos de vaidosas que podem insistir em nos colocar, quando estamos apenas realizando nosso trabalho, vivendo, plantando, escrevendo, colhendo e não nos deixando demonizar apenas por estarmos em um lugar que não foi inicialmente planejado para nós: o árduo e também prazeroso lugar de Cientistas.

Outras informações: (32) 2102-3653 – Faculdade de Educação