A adoção do Tratamento Diretamente Observado e de Curta Duração em Tuberculose (DOTS) foi recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1993, pela alta incidência global da doença. Para compreender as representações sociais de enfermeiros da Estratégia de Saúde da Família no uso deste método, a acadêmica Júlia Borges Figueiredo desenvolveu a sua dissertação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Apresentada no Programa de Pós-graduação em Enfermagem, a pesquisa contou com a participação de 18 profissionais atuantes no sistema público de saúde do município.

A pesquisadora explica que o DOTS se configura como uma série de ações de saúde que oferece uma melhor adesão dos pacientes com tuberculose. A estratégia tem por base cinco pilares: a detecção precoce dos casos; tratamento padronizado de curta duração e monitorado; distribuição regular de medicamentos; sistema de registro para avaliação da terapêutica; compromisso governamental para priorizar as políticas de saúde e controle da doença. “Buscou-se entender, a partir das interações sociais e de trabalho, o porquê de atualmente ainda existirem números tão altos em relação a uma doença tão antiga, estigmatizada, com tratamento gratuito disponível e, não menos importante, é tentar compreender as limitações do nosso sistema no que tange ao tratamento diretamente observado e de curta duração”, destaca Júlia.

A acadêmica enfatiza a importância da análise do tema em um contexto no qual o método estudado ainda precisa ser totalmente integralizado: “apesar dessa estratégia ser preconizada, os números nos mostram que ela não vem sendo utilizada, uma vez que no ano de 2006, 81% das unidades de saúde no país já ofereciam o DOTS. Mas, em contrapartida, uma década depois, somente 36,2% dos novos casos notificados com tuberculose pulmonar foram submetidos a tal estratégia”. Da mesma forma, a escolha do município em observação foi projetada para oferecer alternativas para a melhoria do tratamento para a população juiz-forana e o refinamento das políticas públicas de saúde, a partir da identificação das demandas e dificuldades existentes.

A pesquisa qualitativa foi realizada em Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS) que trabalham a Estratégia de Saúde da Família (ESF). A mestranda reuniu indicativos que evidenciam a necessidade de enfrentamento da doença na região. Ela aponta o fato de Juiz de Fora ser considerado um dos 25 municípios prioritários para o controle de tuberculose e o segundo em número de casos em Minas Gerais, além de ser um polo regional de referência para cidades menores.

Resultados

A acadêmica afirma que a pesquisa demonstrou que os enfermeiros enfrentam desafios para a incorporação do DOTS nas atividades relacionadas ao controle e tratamento da tuberculose, bem como reconhecem a importância profissional como prioridade no controle da doença. Segundo Júlia, a estratégia é associada na rotina de trabalho como o simples fato de supervisionar a tomada de medicação. Além disso, explica que ainda se faz presente a associação de que os pacientes que devem ser submetidos a tal estratégia são os que estão em situação de vulnerabilidade social  – alcoólatras, usuários de drogas, entre outros.

A professora orientadora da dissertação, Girlene Alves da Silva, destaca que a tuberculose é um agravo à saúde que merece um olhar atento e dedicado dos trabalhadores, gestores e da população. Nesta perspectiva, ela diz que a pesquisa é inovadora ao demonstrar as dificuldades no cuidado da doença na cena cotidiana e, principalmente, por oferecer contribuições para refinar a atuação da Prefeitura de Juiz de Fora. “O estudo da Júlia está inserido na modalidade de tratamento diretamente observado, que exige uma estrutura do município e do gestor – federal ou estadual -, equipe em quantidade e qualidade suficiente, que precisa conter os materiais e insumos. Além disso, também é de extrema importância um cenário de diagnose que referencie  o trabalhador. Todos esses aspectos são apresentados na dissertação para uma aplicabilidade muito importante”, explica.

Contatos:
Júlia Borges Figueiredo (mestranda)
juliaborgesde@hotmail.com

Banca examinadora:
Profª. Drª. Girlene Alves da Silva (orientadora – UFJF)
Profª. Drª. Geovana Brandão Santana Almeida (UFJF)
Profª. Drª. Fabiana Barbosa Assumpção de Souza (UFRJ)

Outras informações: (32) 2102-3297 –  Programa de Pós-graduação em Enfermagem