Psicóloga da Proae, Camila Menezes; vice-reitora, Girlene Silva e pró-reitor, Marcos Freitas (Foto: Alice Coêlho)

Apesar de muito se discutir a questão do adoecimento psíquico no movimento mundial “Setembro Amarelo”, cujo objetivo é chamar atenção para o suicídio, devemos estar atentos o ano todo. Sob esta perspectiva foi organizado, pela Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proae), nesta terça-feira, 25, o 1º Seminário da Pró-reitoria de Assistência Estudantil: Conscientização à prevenção do suicídio no ambiente universitário. O encontro foi uma oportunidade de interação entre discentes, docentes e comunidade externa em torno da questão, além de um espaço de debates e capacitação sobre estratégias efetivas para se enfrentar o problema de maneira continuada.O evento aconteceu no Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (ICH-UFJF).

Na mesa de abertura estiverampresentes a vice-reitora Girlene Silva, representando o reitor Marcus David; o pró-reitor de Assistência Estudantil Marcos Freitas; a psicóloga da Proae Camila Menezes; e o aluno Igor Domingues de Souza, representando o Diretório Central dos Estudantes. Antes da mesa, a banda Contratempo fez uma apresentação cultural e foi exibido um vídeo institucional sobre a campanha do Setembro Amarelo.

Em sua fala, o pró-reitor de Assistência Estudantil Marcos Freitas afirmou estar satisfeito pelo fato de este primeiro seminário estar tratando de um tema tão relevante e pela oportunidade de trazer o assunto à luz, evitando com que se torne um tabu. Ele também reconheceu a grande mudança no perfil do estudante de ensino superior ao longo das últimas duas décadas e as dificuldades enfrentadas por ele para permanecer na Universidade, local que deve “valorizar a importância das relações para se tornar um espaço efetivamente mais acolhedor, e não de potencialização das ansiedades e tensões dos indivíduos”.

A vice-reitora Girlene Silva expandiu o debate afirmando que discutir o suicídio num ambiente de ensino superior é um problema mais complexo que acolher os estudantes. “Nós precisamos também pensar a formação dos professores. Não há como só se discutir a questão do estudante quando os outros elementos deste cenário também não estão sendo tratados”. Girlene acrescentou a satisfação de encontrar o auditório do evento repleto de professores, alunos e técnico-administrativos. “A discussão precisa envolver todo o conjunto de nossa Instituição. Acredito que este seminário possa subsidiar a instituição na definição de estratégias de enfrentamento do problema”.

Conhecer para prevenir

Após a solenidade de abertura, foi dado início à mesa de debates, com mediação do psicólogo da Proae Getúlio Coelho. Iniciando as apresentações, o psiquiatra clínico e forense, Douglas Paschoal, discursou sobre os fatores relacionados ao suicídio e como eles afetam as estatísticas sobre o assunto. Também servidor e aluno da Universidade, ele explicou que o comportamento suicida “é mais do que o ato final em si, mas um complexo com várias etapas que passam pela ideação, pelo plano, pela tentativa e, finalmente, pela consumação.”

Ele também esclarece que a faixa etária de maior risco é a dos idosos com mais de 70 anos e que mulheres são mais propensas à ideação do fato, enquanto homens idealizam menos e morrem mais. Questões como desemprego, isolamento social, consumo de álcool e acesso a porte de armas são fatores associados que aumentam a chance de ocorrência. “O maior preditor, porém, e ao qual devemos estar mais atentos é se houve uma tentativa prévia de suicídio ou contato com um caso de algum conhecido ou familiar. Esses fatores são os mais alarmantes para um caso de prevenção”.

Douglas também trouxe dados com relacionados à sexualidade, fatores sociopolíticos e profissionais. No brasil, por exemplo, até 51% dos adolescentes transgêneros já se envolveram em comportamento suicida, comparado a 14% da população adolescente em geral. Entre indígenas, a taxa de suicídio é três vezes maior que da população, assim como entre aposentados. Além disso, destaca-se que, no meio profissional, as maiores taxas de suicídio se dão entre médicos.

O mestrando em Comunicação Matheus Bertolini aproximou-se da discussão sobre o prisma comunicacional, analisando a forma com que determinados produtos de mídia trabalham o tema e formam opiniões a respeito. Ele coloca que 90% dos suicídios poderiam ter sido evitados e cita a série “13 Reasons Why” e a corrente da Baleia Azul como maus exemplos do uso da comunicação com impacto direto sobre a temática. Matheus reforça a necessidade de que profissionais estejam envolvidos na veiculação desse tipo de conteúdo e atenta para as diretrizes que determinam a forma correta de se falar sobre o assunto nos meios de comunicação, as quais podem ser acessadas aqui.

Estratégias de prevenção

A prevenção é a primeira linha de combate ao suicídio e suas ações devem ser orientadas numa perspectiva de antecipação ao dano e, para isso, é necessário uma rede de profissionais (saúde, gestores, professores) capacitados e uma maior atenção aos componentes de prevenção de diferentes níveis, como coloca a  professora e psicóloga Gisele Franco. “Isso não é trabalhar numa ótica remediativa, curativista, mas sim numa ótima prospectiva e proativa, para que os casos possam ser contidos ou evitados”.

Ela apresenta três níveis de prevenção: a universal, a seletiva e a indicada, cada uma com um foco e método específicos. A prevenção universal, por exemplo, é dirigida a um público em geral, como alunos de uma instituição ou funcionários de uma empresa e agrega ações de ordem educativa, informativa, formação de consciência e mudança de cultura. São os casos de palestras, seminários e debates que tratam do assunto e dão um maior grau de discernimento a seu respeito. Gisele também inclui o serviço do Centro de Valorização à Vida (CVV), cuja linha telefônica 188 fornece um ambiente seguro e sigiloso à qualquer pessoa no país que esteja passando por dilemas internos dessa natureza.

Na prevenção seletiva, o foco de atuação são subgrupos de uma população próximos à uma vítima recente. As ações neste caso devem ser voltadas nas competências pessoais, emocionais e sociais para o enfrentamento das dificuldades e diminuição dos riscos. Gisele mencionou também a Cartilha – Lidando com o Luto por Suicídio, elaborada pelo Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (Ceps), que traz informações e ajuda a pessoas que sofreram uma perda recente.

O mestre e doutorando em psicologia, Julio Mazzoni, destacou a importância de ações intersetoriais, envolvendo diversas instituições, e da  avaliação das estratégias operacionalizadas. “É muito comum uma instituição, depois de um caso ocorrido, decidir que é importante criar um programa e falar sobre o assunto. Porém, sem se acompanhar se esse programa foi eficaz ou não, é uma estratégia suficiente.” Conclui afirmando ser preciso criar procedimentos específicos, com pessoas capacitadas e continuamente acompanhados para se ter uma efetiva melhora neste quadro.

Fechando as falas da mesa, o tema de prevenção do suicídio na Universidade foi tratado pela psicóloga e mestre em psicologia Juliana Gonçalves. Ela destacou alguns gatilhos para o agravamento de distúrbios mentais no meio, como a cobrança de desempenho, a entrada no mercado de trabalho, expectativas sobre relacionamentos sociais e a mudança de casa.

Como medidas, ela destaca a necessidade de se oferecer treinamento para a equipe da instituição de ensino e a abertura de canais de comunicação, mesmo que de suporte entre pares. Além disso, também é essencial oferecer apoio aos estudantes que apresentem fatores de risco, desestigmatizar a busca de ajuda e trabalhar aspectos contextuais que estejam ligados ao adoecimento mental nas Universidades..

Tendo tratado do âmbito institucional, Juliana conclui sua fala com indicações sobre como lidar, pessoalmente, com a questão. “O fundamental é ter a capacidade de ouvir e instaurar esperança na pessoa que passa por dificuldades. Não se espera que ninguém se torne o psicólogo da pessoa, mas é preciso dar atenção, conforto e segurança, para então encaminhá-la ao tratamento adequado”.

Outras informações: (32) 2102-3777 – Pró-reitoria de Assistência Estudantil (Proae)