Bares em Juiz de Fora recebem cientistas, sempre às 19h30, para cumprir essa proposta. (OClick/Cláudia Nunes)

Imagine trocar a formalidade de uma sala de aula por um bar aconchegante, trocando também o giz e o quadro negro por uma caneca gelada de chope e um prato do seu petisco preferido. Essa é a proposta do Pint of Science, o maior festival internacional de divulgação científica do mundo, que convida especialistas e o público em geral para falar sobre ciência de uma forma acessível – mesmo quando os temas são complexos. Em Juiz de Fora, entre os dias 14 e 15 de maio, o Bar do Luiz e o Experimental Container Bar recebem cientistas, sempre às 19h30, para cumprir essa proposta. O evento é gratuito e aberto a todas as pessoas interessadas.

Saúde mental de um lado da cidade, inteligência artificial no outro

No primeiro dia do evento, 14 de maio (terça-feira), o Experimental cede espaço para o debate “Medicados somos ótimos? Atenção à saúde mental ou hipermedicalização” e reúne os pesquisadores Wedencley Alves, da Faculdade de Comunicação, e Alinne Nogueira, do curso de Psicologia. Ambos são vinculados à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Qual é a visão da psicanálise sobre a saúde mental e hipermedicalização na atualidade? Alinne falará sobre corpos subversivos, resistência e psicopatologia na atualidade. “Levantarei um questionamento sobre o lugar dos diagnósticos na atualidade, sobretudo frente a corpos que não se encaixam em padrões de eficiência, produtividade, normas de gênero”, afirma. 

Já Alves traz o viés da análise do discurso, apresentando o conceito de “diagnóstica” – conjunto de saberes e discursos que tentam dar conta de males e sofrimentos humanos (a medicina, a psicologia, por exemplo). “Mas ao tentar dar conta dos males, eles definem o que são os males, o que são os sofrimentos, classificam, nomeiam. E por isso, isso é uma questão discursiva”, adianta.

Simultaneamente, no Bar do Luiz, o tema “Da cabeça ao código: a anatomia da inteligência artificial” será discutido por Saulo Moraes, do Departamento de Ciência da Computação da UFJF, e Rodrigo Dias do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da mesma instituição.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) a inteligência artificial deve afetar 40% dos empregos no mundo. “Muitos empregos tradicionais irão desaparecer.  No entanto, muitas novas áreas e oportunidades vão ser criadas”, explica Dias. Saulo Moraes conta que irá abordar avanços da IA generativa, focando nas inovações mais recentes nos domínios de texto, imagem, vídeo e áudio. “Discutiremos como essas tecnologias estão transformando uma variedade de campos, desde pesquisas acadêmicas até aplicações práticas no mercado”, afirma.

Segunda noite dividida entre mudanças climáticas e suplementação alimentar

No dia 15, quarta-feira, o papo no Experimental é “Cidades em alerta! A culpa é do clima ou do homem?”, conduzido pelos pesquisadores Cássia Ferreira e Jordan de Souza. A primeira é vinculada ao departamento de Geociências da UFJF e coordena o Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental de Juiz de Fora. Jordan de Souza, por sua vez, leciona na Faculdade de Engenharia e atuou diretamente na parceria entre a UFJF e o Escritório das Nações Unidas para a Redução de Riscos de Desastres (UNDRR), órgão interno da Organização das Nações Unidas (ONU).

Os alagamentos, ondas de frio e de calor, e diferentes “desastres” agravados pelas mudanças climáticas, são naturais ou podem ser prevenidos? “Impactos derivados do clima – chuvas e temperatura – são os mais frequentes no Brasil, principalmente em áreas urbanas, logo, pensar as cidades e o clima é função do poder público, mas também do cidadão citadino”, explica Cássia. De acordo com Jordan de Souza, não existe apenas um culpado. “Há um conjunto de atores coletivos que fazem uma pequena parcela de contribuição para que esses desastres aconteçam”, esclarece o pesquisador.

Também às 19h30, no Bar do Luiz, a conversa é sobre os “Efeitos dos suplementos na sua dieta: qual o limite?” e será comandada pelos pesquisadores Marcos Vidal, do Departamento de Nutrição da UFJF, e Daniel Martinez, da Faculdade de Educação Física da mesma universidade.

“Atualmente há uso muito indiscriminado de suplementos, o que pode implicar em danos à saúde e ao bolso dos usuários”, alerta Vidal. Os pesquisadores defendem o uso racional de suplementos alimentares, os efeitos positivos e negativos, e irão discutir a importância da ciência neste contexto. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 47% da população brasileira não pratica atividade física suficiente para se manter saudável. “Conscientizar sobre a importância da atividade física é necessário. Por outro lado, as pessoas que praticam regularmente atividade física têm várias dúvidas com relação à prática da atividade física ou mesmo sobre uso adequado de suplementação alimentar”, afirma Martinez.

Sobre o Pint of Science 

O festival Pint of Science nasceu em 2013 em Londres e acontece no Brasil desde 2015. Juiz de Fora recebe o festival há seis anos. 

“O objetivo é aproximar a ciência da sociedade de forma descontraída. Os cientistas convidados conversam com as pessoas presentes sobre temas atuais, de interesse da sociedade e que fazem parte dos seus objetivos de pesquisa”, esclarece Fernanda Bombonato, coordenadora do Pint of Science em Juiz de Fora. Para ela, o evento oferece um espaço onde os pesquisadores podem falar sobre o que fazem na universidade utilizando uma linguagem acessível, mostrando que os cientistas são pessoas comuns.

Outras informações:

Bar do Luiz (Av. Eugênio do Nascimento, 240 – Aeroporto, Juiz de Fora)

Experimental Bar (Av. Barão do Rio Branco, 3162 – Passos, Juiz de Fora)

Ciência UFJF

Pint of Science Brasil