Considerado um dos expoentes de seu tempo, o compositor brasileiro de ascendência espanhola, Oscar Lorenzo Fernández (1897-1948), é o homenageado no concerto que a cantora camerista Veruschka Mainhard realiza no Teatro Pró-Música, na noite desta terça-feira, dia 27, dentro da programação do 29º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. A entrada é franca e os convites devem ser retirados no Centro Cultural Pró-Música até 17h30, sendo o máximo de quatro por pessoa.
A solista será acompanhada ao piano pelo supervisor do Centro Cultural Pró-Música-UFJF e diretor artístico do festival, Marcus Medeiros e por um quinteto de cordas. A homenagem acontecerá exatamente um mês antes dos 70 anos de morte de Fernández, músico fundador do Conservatório Brasileiro de Música e professor do Instituto Nacional de Música (hoje Escola de Música da UFRJ). Ele teve importante atuação no campo da educação musical brasileira, como colaborador de Villa-Lobos na fundação da Superintendência de Educação Musical Artística do Distrito Federal (Sema).
Veruschka Mainhard ressalta que o compositor brasileiro atuou pioneiramente como musicólogo, não só escrevendo artigos, mas também ao participar como editor-chefe da “Revista Brasil Musical” e ser fundador de periódicos importantes, como a revista “Ilustração Musical”.
Música após crise nervosa
Pertencente à Segunda Geração Nacionalista, o compositor iniciou-se na música a conselho do seu médico que, após uma crise nervosa do rapaz, então aspirante ao curso de Medicina, o orientou a estudar música como terapia. Embora o autor não tenha deixado uma obra tão vasta quanto a de alguns de seus contemporâneos, seu trabalho revela, segundo a cantora, uma nítida preocupação com a lapidação da forma, além de “refinamento melódico e harmônico próprios de um artesão musical”.
Esse refinamento é apontado por diversos críticos, que destacam, ainda, a versatilidade e a originalidade de sua escrita musical, percebidas em composições de vários gêneros. O nacionalismo do autor não redunda em impressões exuberantes da terra brasilis, mas, como observa Veruschka, citando a pesquisadora Dulce Martins Lamas, em uma visão sóbria e recatada de nossa natureza.
Para Veruschka Mainhard, o cancioneiro do compositor demonstra que ele foi um “mestre da ambiência sonora para a declamação dos poemas que cuidadosamente seleciona”, e que ele, detentor de uma “cultura literária ímpar”, soube musicar com maestria. Das 46 canções compostas por Fernández para canto e piano, seis ainda se encontram perdidas e 20 mereceram um versão para voz e conjunto de câmara, voz e quarteto de arco (como o autor costumava nomear o quarteto de cordas) com e sem a participação de um contrabaixo, e voz e orquestra.
Muitas dessas transcrições foram elaboradas para execução em concerto com a cantora Edir Tourinho (ou Edyr de Fabris, nome de solteira da soprano), que foi a campeã de estreias de canções de Lorenzo Fernández. Como destaque, Veruschka cita “Toada p’ra você”, sobre poesia de Mário de Andrade. Considerada como a mais representativa canção da estética nacionalista, ela originou o movimento conhecido como “voceísmo”, que inspirou outros compositores, como Francisco Mignone e Camargo Guarnieri. A canção conquistou grande sucesso de crítica e público, tendo esgotado sua publicação de mil exemplares em uma semana.
O programa do concerto apresenta uma seleção de canções para voz e piano e voz e quarteto ou quinteto de cordas – formação essa raramente executada nos palcos atuais.
Todos os concertos noturnos são precedidos de palestras ministradas pelo professor do curso de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, com início às 19h.
Da programação constam: “Noturno” (Eduardo Tourinho) 1934; “Cisnes Op. 9” (Júlio Salusse) 1921; Duas canções Op. 17 (Adelmar Tavares) 1922 – “Noite cheia de estrelas” e “Mãos frias”; “Canção do berço Op. 35” (A. Corrêa de Oliveira) 1925; “Serenata” (Menotti del Picchia) 1930; “A velha história” (Honório de Carvalho) 1928; “Toada p’ra você” (Mario de Andrade) 1928; “Samaritana da floresta” (O. Lorenzo Fernândez) 1936; “Noite de junho” (Ronald de Carvalho) 1933; “Berceuse da onda Op. 57” (Cecília Meireles) 1928; “Essa negra Fulô” (Jorge de Lima) 1934; “A sombra suave” (Tasso da Silveira) 1929; “Meu pensamento” (Renato de Almeida) 1934; “Vesperal Op. 66” (Ronald de Carvalho) 1946; “Canção sertaneja Op. 31” (Eurico Góes) 1924; “Dentro da noite” (Osório Dutra) 1946; “A saudade” (Luiz Carlos) 1921.
O Teatro Pró-Música fica localizado na Avenida Barão do Rio Branco 2.329, no Centro da cidade.
Confira a programação completa do 29º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
Outras informações: (32) 3218-0336 (Centro Cultural Pró-Música/UFJF)