O entusiasmo do público, expresso nos aplausos ao final da apresentação e em comentários de espectadores descreve bem o que foi o concerto da Orquestra de Câmara Sesiminas, de Belo Horizonte, na abertura do 29° Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora, na noite deste domingo, 22, no Cine-Theatro Central.
“Foi uma estreia excelente e esse final com o pot-pourri de Chico Buarque fechou com chave de ouro”, empolgou-se o professor Cid Botelho ao fim do concerto. Lotado, o Central reuniu um público composto por pessoas que tradicionalmente frequentam o Festival há várias edições e por outras que comparecem pela primeira vez ao evento. Abrindo uma programação diversificada que se estende por toda a semana, a Orquestra Sesiminas atraiu também alunos de música da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e de escolas como o Conservatório Estadual, além de inscritos nas oficinas, vindos de outras partes do país.
Atração à parte, a arquitetura do Central chamou a atenção não apenas da plateia – onde se via pessoas fotografando os detalhes artísticos do espaço – mas também do regente Felipe Magalhães, que esteve no teatro pela primeira vez. “Me surpreendi quando cheguei aqui. É até mais bonito do que pensei. É um prazer fazer música num lugar como este”, disse.
“Para nós é um grande prazer contar com uma orquestra que é mineira e já tem uma tradição”, ressaltou o supervisor do Pró-Música e diretor do Festival, Marcus Medeiros. Formação musical do sistema Fiemg, a Orquestra de Câmara Sesiminas foi convidada para o evento por sua excelente qualidade na execução de música erudita e popular.
Contextualização
Antes do concerto, o público pôde acompanhar uma palestra com o professor do Departamento de Música do Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF, Rodolfo Valverde. Em todas as apresentações durante o Festival, antecedendo cada concerto, o professor contextualiza o repertório do programa, através de uma transcrição de termos técnicos para um vocabulário mais didático e comum. “Essa contextualização é importantíssima, porque não se trata de uma linguagem popular atual. É claro que as obras de artes podem ser apreciadas fora do seu contexto, mas, com um entendimento sobre o discurso do artista e o que ele pensou, a compreensão e a apreciação são intensificadas”, explica Valverde.
A rotina das palestras antes dos concertos do Festival já começa a ter um público próprio: “Venho à palestra para me informar um pouco”, diz a professora Rosaly Mattos, frequentadora do Festival, mesmo sem nenhuma escolaridade musical, e uma das primeiras a chegar. A estudante Marissa Scardoa, formada em Música pelo Conservatório, acompanha o evento desde criança e concorda: “É importante para que as pessoas que não têm muito conhecimento se sintam mais localizadas durante o concerto”.
Programa
Dividido em duas partes, o concerto começou com o compositor barroco italiano A. Corelli, passando pelo clássico W. A. Mozart e chegando ao brasileiro M. Nobre, quando a orquestra composta somente por violinos, violas, violoncelos e contrabaixo, executou, com direito a solo de violino de Laura Von Atzingen, a peça Desafio III, transcrita para cordas por Elias Barros.
Já na segunda parte, os músicos tocaram uma serenata de Josef Suk, a peça com maior duração, mas que prendeu o público, pois, de acordo com o regente, é uma obra “muito competente, maravilhosa e feliz”. Ao final o público aplaudiu de pé e, antes que deixasse o Central, ainda foi presenteado com a interpretação de clássicos musicais de Chico Buarque, o que não estava previsto na programação.
A opção pela evidente diversidade de repertório é explicada pelo maestro Felipe Magalhães: “A gente tem a consciência de que o público da música erudita está em constante formação. As pessoas que vão pela primeira vez ficam maravilhadas de ver. No Brasil, ainda falta muito acesso a esse tipo de música que requer parar tudo, desligar o celular e ficar um grande tempo em silêncio coletivamente para ouvir um concerto, algo que é cada vez mais difícil atualmente, então quando a gente pensa num repertório, a gente tenta mesclar o barroco, o clássico, o romântico, o século XX, um pouco de tudo, para agradar aos músicos experientes e também àqueles que não têm o costume de ouvir ou o conhecimento sobre esse tipo de música”.
O resultado foram palmas seguidas por minutos e pessoas que deixaram o Cine-Theatro Central encantadas, como o professor Aloysio Guedes, juiz-forano que mora fora e é fã de música erudita: “Não conhecia essa orquestra e adorei!”, afirmou, acrescentando que ficou ainda mais animado para ir a outros concertos do Festival.