Um dos maiores compositores franceses do século XVIII, François Couperin (1668-1733), e dois autores brasileiros contemporâneos – Edino Krieger (1928) e Ronaldo Miranda (1948) – são homenageados pelo cravista Mário Marques Trilha no concerto que integra a programação do 29º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, com apresentação na Igreja do Rosário nesta segunda-feira, dia 23, às 20h, com entrada franca. As homenagens se devem à celebração, em 2018, dos 350 anos de Couperin, dos 90 anos de Edino Krieger e dos 70 anos de Ronaldo Miranda. Os convites são distribuídos no Centro Cultural Pró-Música, das 8h30 às 17h30, sendo o máximo de quatro convites por pessoa.
Cravista, organista e compositor, François Couperin fazia parte de uma importante família de músicos. Em 1717, publicou o tratado “L’Art de Toucher le Clavecin (A arte de tocar o cravo)”, obra que oferece uma série de reflexões sobre o ensino e a execução no cravo. Nessa obra, Couperin apresenta uma ”Allemande” e oito prelúdios com o intuito de fornecer ao intérprete o conhecimento da linguagem idiomática do cravo e da música francesa setecentista.
Natural de Brusque, Santa Catarina, Edino Krieger é um dos maiores compositores eruditos brasileiros da atualidade. O músico iniciou estudos de orquestração e composição com Aron Copland e composição com Mennin, na Julliard School (1948-49). Em 1955, recebeu uma bolsa do British Council para uma estadia de oito meses no Royal College of Music. Na década de 1980, foi diretor da Funarte e obteve o prêmio Shell de Música.
Em 2002, Krieger foi compositor residente na Staatliche Hochschule fur Musik, Karlsruhe (Alemanha), onde compôs a sua única obra para cravo solo, “Momentos para cravo”, em quatro movimentos, que Mário Trilha apresenta ao público do festival em seu concerto: “Elementos”, livre fantasia que faz alusão aos quatro elementos naturais; ”Fragmentos (de Seresta)”, em estilo cantabile, que alude ao gênero musical popular brasileiro da seresta; “Segmentos” (de arpejos, sinos, pássaros e ventos), livre fantasia inspirada nos passeios do compositor pelo castelo de Karlsruhe; e “Movimentos” (de tempos e contratempos), uma tocata de virtuosidade, um perpetuum mobile em semicolcheias que alterna notas e acordes em “tempos fortes” e “tempos fracos”.
Nascido no Rio de Janeiro, Ronaldo Miranda estudou Composição com Henrique Morelenbaum e Piano com Dulce de Saules na Escola de Música da Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ). Suas obras têm sido apresentadas nas principais salas de concerto do Brasil e do exterior. Atuou como jornalista e crítico musical (“Jornal do Brasil”), professor (Escola de Música da UFRJ) e administrador musical, como vice-diretor do Instituto Nacional de Música da Funarte e diretor da Sala Cecília Meireles. Atualmente, é professor de Composição do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Mário Trilha vai apresentar a única obra para cravo solo do compositor, “Variações Asórovarc”, cujo título refere-se a seis variações a partir do tema popular brasileiro “O cravo brigou com a rosa”, que aparece no final da obra (asórovarc = cravorósa).
Além dos autores homenageados, o concerto de Mário Trilha inclui outros compositores e épocas, como Calimério Soares (1944-2011); João Cordeiro da Silva (1735-1808); Marcos Portugal (1762-1830); e José Maurício Nunes Garcia (1767-1830).
Entusiasmo
Essa será a terceira participação do cravista Mário Trilha no Festival juiz-forano, em que já esteve como convidado para o encontro de Musicologia e como professor de música de câmara. “O festival de Juiz de Fora é um espaço tradicional de troca de conhecimentos, experiências e informações. Pude constatar o entusiasmo e a vontade dos alunos e dos professores em tentar elucidar questões musicais e estéticas do repertório colonial brasileiro, em particular, e da música antiga em geral. Creio que a edição de 2018 não será diferente, possibilitando aos alunos e professores um momento de intenso trabalho e realizações artísticas.”
Além do concerto nesta segunda-feira, 23, o músico ministrará uma oficina de cravo durante o evento. Ao avaliar o ensino do instrumento no Brasil, Mário Trilha observa que
há cravos em instituições de ensino musical de Norte a Sul do Brasil. “Embora o bacharelado em cravo só seja ofertado, a nível superior, em duas universidades públicas – UFRJ e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) -, a presença de cravistas, instrumentos e grupos de música antiga nessas instituições tem despertado o interesse dos alunos pelo cravo e a interpretação historicamente informada.”
Como docente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Trilha ministra um curso de baixo contínuo, acompanhamento ao cravo, que é a porta de entrada para alguns alunos interessados na música barroca e no cravo. Após as primeiras noções de leitura de cifras, os alunos também começam a trabalhar repertório solo para cravo. “A maior dificuldade para o estudo do instrumento é a quantidade exígua deles em cada instituição e o custo elevado para a aquisição de um cravo, ainda mais se levarmos em consideração que a maioria dos alunos de música advém das camadas menos favorecidas da sociedade brasileira. O pequeno número de construtores em atividade no Brasil e a nossa proibitiva política de importação agravam ainda mais esse quadro”, lamenta.
Programa
François Couperin (1668-1733)
Allemande e 8 préludios do L’Art de toucher le clavecin (Paris 1716)
Calimério Soares (1944-2011)
Tocatta de Roça (1982)
João Cordeiro da Silva (1735-1808)
Minuetos V e VI dos Minuetti per Cembalo del Sig:r Giovanni Cordeiro Silva. (P-Ln M.M. 69//10.) e Sonata em si bemol maior (F-Pn Vm7 4874).
Ronaldo Miranda (1948)
Variações Asórovarc (Rio de Janeiro, 2002)
Marcos Portugal (1762-1830)
Motivos em Fá maior, (P–Ln fcr 168.42) e Dó maior, (P–Ln fcr 168.43), dedicados à Infanta Dona Izabel Marias (Rio de Janeiro, entre 1811 e 1817).
José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Lições 8, 9 e 10 da primeira parte do Methodo de Pianoforte (Rio de Janeiro, 1821).
Edino Krieger (1928)
Momentos para Cravo
I Elementos II Fragmentos (de Seresta) III Segmentos (de arpejos, sinos, pássaros e ventos) IV Movimentos (de tempos e contratempos)
(Karlsruhe 2002)
* Todos os concertos noturnos são precedidos de palestras ministradas pelo professor de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, com início às 19h, nos mesmos locais das apresentações.
Confira a programação completa do 29º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
A Igreja do Rosário fica localizada na Rua Santos Dumont 215, no Bairro Granbery
Outras informações: (32) 3218-0336 (Centro Cultural Pró-Música/UFJF)