Isabel Leite (à esquerda) conversou com estudantes da mesma escola que frequentou há anos atrás (Foto: Twin Alvarenga)

A cientista Isabel Leite (à esquerda) conversou com estudantes da mesma escola que frequentou há anos atrás (Foto: Twin Alvarenga)

O ano era 1988, quando Isabel Leite encerrou o longo período de convivência quase diária com os colegas e professores no Instituto Estadual de Educação de Juiz de Fora. O prédio histórico abrigou Isabel desde o seu pré-escolar até o magistério, e voltou a recebê-la nesta quarta-feira, 4, para contar aos estudantes do terceiro ano os caminhos que a levaram a se tornar professora do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

“Eu sou uma cria da escola púbica, tudo que eu tenho hoje é fruto de uma escola pública”, lembra Isabel, que passou ainda pela UFJF, UFRJ e Fundação Oswaldo Cruz até se tornar professora universitária. Na opinião de Leonã Flores, que leciona química no Instituto, conhecer sua trajetória foi motivador para os jovens. “Eu acho que é uma grande injeção de ânimo para os alunos, porque eles veem uma aplicação da ciência na realidade deles e, principalmente, pela história de vida dela, que formou aqui. Na sala de aula, percebo que, às vezes, eles têm uma falsa percepção de, por estudarem em escola pública, não poderão fazer vestibular. Para muitos, os estudos se encerram no terceiro ano. Então, fico satisfeito quando vejo uma mudança de mentalidade deles, passando a acreditar que, com esforço e determinação, é possível chegar lá”, relata Leonã.

Durante a conversa, Isabel explicou a relevância da pesquisa em Saúde Coletiva, em especial na área de Epidemiologia, na qual se especializou. Conforme a professora, esse ramo da ciência contribui na prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Para facilitar o entendimento dos adolescentes, utilizou casos e personagens amplamente apresentados pela mídia, tais como as estatísticas de lesões ocorridas com os jogadores do campeonato europeu de futebol; a escolha da atriz Angelina Jolie em retirar os seios e ovários, após identificar alta probabilidade de contrair câncer; o recente crescimento da AIDS na população de faixa etária entre 15 e 24 anos e de casos de tuberculose – doença que acometeu o jogador Thiago Silva e os cantores Thiaguinho e Simaria. Além das doenças, a Epidemiologia também estuda os índices de violência, que vitimiza majoritariamente homens, negros e jovens no Brasil.

Para Isabel, a apresentação foi uma oportunidade de falar um pouco sobre a ciência da Saúde Coletiva. “É o que dita as políticas públicas, o que consumimos da hora que nascemos até o óbito, é entender essa dinâmica do processo saúde-doença. Isso que abordei a partir dos exemplos da mídia”, conta. Acima de tudo, a intenção da pesquisadora foi incentivá-los a “alcançarem qualquer espaço que queiram. Do mesmo jeito que eu alcancei, eles também podem alcançar”, conclui.

Intitulada “Injeção de ciência: a cura pela pesquisa”, a palestra integrou a programação do projeto “A ciência que fazemos”, que visa levar os docentes da universidade para um bate-papo com os estudantes de ensino fundamental e médio de Juiz de Fora.