José Roberto Padilha fala sobre seu novo livro para grupo de pesquisa do PPGCom (Foto: Fayne Ferrari/UFJF)

José Roberto Padilha fala sobre seu novo livro para grupo de pesquisa do PPGCom (Foto: Fayne Ferrari/UFJF)

O anfiteatro das pró-reitorias recebeu, na tarde desta sexta-feira, 29, a visita do ex-jogador de futebol José Roberto Padilha. Zé Roberto, como é conhecido, teve passagens por Fluminense e Flamengo na década de 1970 e veio à UFJF para falar sobre seu mais novo livro, “Memórias de um ponta à esquerda”, a convite do grupo de pesquisa Comunicação, Esporte e Cultura – liderado pelos professores Márcio Guerra e Ricardo Bedendo -, ligado ao Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom).

O ex-jogador, que também é jornalista, atuou ao lado de figuras consagradas do futebol brasileiro, como Zico e Mário Sérgio, e contou um pouco de sua trajetória, fazendo críticas ao modo como o esporte é praticado, atualmente, no país. “Ninguém ensina o garoto a jogar futebol; é uma profissão que você não ensina. O diferencial acontece quando se pratica em campos que oferecem mais dificuldades e o campo de terra batida te oferece todas essas dificuldades, para que você possa superá-las num duelo de destreza e embate, o que te oferece muito recurso”.

Natural de Três Rios (RJ), o ex-ponta esquerda se define como um sujeito “saudoso” ao relembrar as dificuldades que os jogadores enfrentavam em outros tempos. Dificuldades essas que, segundo ele, fizeram o futebol brasileiro ser o maior vencedor do mundo. “São duas coisas que gosto muito de enfatizar: primeiro o campo de terra e depois o jogar descalço, que permite com que você não perca o tato. Perdemos muito isso, porque hoje os campos estão acabando e as grandes empresas não deixam mais os garotos jogarem descalços”, pondera.

“Acho que cada um tem que fazer sua parte”

Autor de seis livros – todos tendo o futebol como temática – Zé Roberto propõe, em sua mais recente obra, que os campos de terra batida sejam tombados como patrimônios culturais do Brasil, a começar por aqueles que restaram em sua cidade-natal. “Acho que cada um tem que fazer a sua parte. Na minha cidade, quando jogava, percebia que quando abria um bar, fechava um campo. Então pensei que, se continuasse assim, o futebol iria acabar e teríamos uma geração de alcoólatras. Isso foi se acentuando e vejo a realidade com muita tristeza, apesar de, pelo contrário, me sentir feliz em não assistir ao que está acontecendo passivamente. Sei que, se isso der certo na minha cidade, a ideia pode se espalhar”.

O ex-jogador dedica seu sexto livro à memória de Mário Sérgio, que marcou época com as camisas do Fluminense e da Seleção Brasileira e morreu no trágico acidente de avião que vitimou a delegação da Chapecoense, em novembro de 2016. “Eu e Mário Sérgio terminamos nossa relação sem pedir desculpas. No meu primeiro livro, eu estava desempregado e ele era jogador do Internacional, então contei todas as suas histórias sem autorização e ele ameaçou me processar, quase me pegou nos vestiários e nunca mais nos falamos. Quando ele faleceu, fiquei muito triste. Este livro é um reconhecimento, um pedido de desculpas”.

Para o professor Ricardo Bedendo, a visita do ex-jogador traz novas perspectivas para o grupo de pesquisa. “A contribuição é de trazer um projeto considerado adequado ao nosso pensamento de reflexões, sob o ponto de vista dos aspectos culturais do nosso futebol, das nossas tradições e valores. Ele toca na questão da valorização dos campinhos de pelada como patrimônios culturais da nossa sociedade e apresenta uma proposta, inclusive, de preservação e até de tombamento desses espaços”.

Além do Flamengo, o trirriense Zé Roberto também atuou no Fluminense, onde conquistou quatro campeonatos cariocas (sendo um juvenil) e duas Taças Guanabara. É autor de sete livros, entre eles “Futebol: A dor de uma paixão” (1988) e “À Beira de um gramado de nervos” (2000).

Outras informações: (32) 2102-3616 – PPGCom