O golpe de dopar alguém para roubar ou estuprar se popularizou nos anos 70 com o nome de “Boa Noite, Cinderela”. Os casos, que na época aconteciam, em sua maioria, nas boates, tinham como alvo principal as mulheres, quadro semelhante ao cenário atual. Com o objetivo de analisar o chamado “Boa Noite Cinderela Acadêmico” — incidências que resultaram em violência sexual — na Universidade Federal de Viçosa (UFV), o professor de Ciências Sociais da UFJF, Paulo Fraga, realizou uma parceria de pesquisa junto à professora da UFV, Rogéria Martins, que coordenou o projeto.

Ao todo, foram aplicados questionários para 660 estudantes da UFV, por meio da mobilização dos alunos para a divulgação da pesquisa. “O caminho construído pelo percurso metodológico é apresentado aqui pelos perfis das práticas, uma vez que sua identificação é de responsabilidade das agências de controle. Dessa forma, foi desenvolvido inicialmente um estudo exploratório, no ambiente virtual das redes sociais, no qual os alunos da Universidade se mobilizam. Nesses espaços, os relatos apareciam e nos concederam pistas para conhecer as dinâmicas das práticas. Depois, foi aplicado um questionário on-line para o e-mail dos alunos de graduação”, explica Fraga.

Segundo relatado no estudo, entre os alunos entrevistados, foi descoberto que 93 sofreram violência sexual após entrar na universidade, o que equivale a 14,1%. Outros 30,5% disseram já ter sofrido violência sexual em algum momento da vida. O levantamento também considerou o gênero e pode confirmar que a maior parte dos casos tem a mulher como vítima.

 

Local e perfil dos crimes

Apesar de se ter um número considerável de vitimas violentada após o ingresso na universidade, os dados apontam que 83% dos casos não acontecem dentro do campus da UFV. No entanto, os crimes ocorrem dentro de locais que envolvem a rotina estudantil, como repúblicas, trotes e festas.

Local onde ocorreu a violência

Número

Porcentagem

Em festas com alunos da UFV fora do campus

35

37,5

Fora do campus

28

30,1

Em república

13

14

Dentro do campus

9

9,7

Em festas com alunos no campus da UFV

7

7,5

No meu trote

1

1,1

Total

93

100

Outro ponto levantado pela pesquisa foi o grau de proximidade da vítima com o agressor. De acordo com o estudo, foi constatado que 44,2% dos agressores eram conhecidos pelas vítimas, enquanto 44,1% eram desconhecidos. 4,3% das vitimas disseram não lembrar e 7,5% preferiram não responder. Apesar do nome da pesquisa fazer referencia ao golpe que usa substancias químicas para dopar a vítima, foi descoberto que os agressores utilizam, além das drogas, outros meios de agressão.

Relação com agressor

Força corporal

Imobilização da vítima

Ingestão de drogas legais (bebidas, medicamentos) ou ilegais

Ameaça verbal

Total

Namorado

1

1

1

3

Ficante

9

2

2

1

14

Colega

15

6

6

27

Parente

2

1

3

Professor

1

1

Desconhecido

27

4

3

3

37

Não lembra

5

5

Total

60

14

12

4

90

Relevância da pesquisa 

Segundo Fraga, esse trabalho foi um grande desafio colocado frente à curiosidade investigativa, pois quebra com as respostas fáceis apresentadas para os problemas dos crimes sexuais, como focar apenas na questão legislativa, no aumento de pena ou na discriminação de gênero, por exemplo. “A pesquisa buscou contribuir para diminuir as carências de estudos sobre essas práticas no ambiente universitário, seja na perspectiva quantitativa ou qualitativa. Sem dúvida, há uma necessidade de pesquisas no país sobre as dinâmicas de determinadas violências que se manifestam nas universidades, muito associadas a uma perspectiva relativista da troça”, ressalta o pesquisador. O trabalho foi publicado nos anais do nos anais do XVIII Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em Brasília, neste ano.

Assine a newsletter da UFJF e receba todas as informações sobre o que ocorre na Universidade, como eventos, concursos, pesquisas e bolsas. Clique aqui para assinar

É estudante, TAE ou professor? Já é utilizado o e-mail informado no Siga para o envio dos boletins informativos do Estudante e do Servidor.