Neste sábado, 22, fará um ano desde que o primeiro atleta olímpico, o chinês Chen Ding, chegou à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) como parte da preparação para a Olimpíada e Paralimpíada no Rio de Janeiro, em 2016. Na ocasião, a Universidade recebeu 159 competidores e 144 profissionais de nove países, que disputaram em três modalidades. Os que se prepararam aqui conquistaram 17 medalhas, sendo cinco de ouro. Nos Jogos Olímpicos, as equipes ficariam na 17ª colocação no quadro de medalhas, caso formassem uma delegação.
Um ano depois que Ding, da marcha atlética de 20 quilômetros, chegou à UFJF, além da visibilidade alçada, o legado deixado para a comunidade acadêmica é extenso, e ressaltado por diversos setores. Ao todo, cerca de 600 pessoas, entre alunos, professores e técnico-administrativos estiveram envolvidos na preparação dos atletas. “Vimos que era um grande desafio, mas em termos de imagem foi muito positivo. Dificilmente teremos outra Olimpíada aqui no Brasil”, avaliou o diretor de Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra. Outra oportunidade única foi acompanhar o treinamento do decatleta recordista Ashton Eaton, que anunciou aposentadoria em janeiro. Veja abaixo o que mais atletas fizeram nesse período.
Treinos e legado
Durante 34 dias de treinos e 36 de estadia – de 22 de julho a 16 de agosto e de 27 de agosto a 5 de setembro -, foram praticados três esportes: atletismo, levantamento de peso e vôlei – por integrantes de Canadá, China, Egito, Eslováquia, Estados Unidos, Estônia, Países Baixos, Polônia e Qatar.
Os treinamentos foram abertos à população geral, o que a princípio gerou entraves junto às autoridades de segurança, devido a riscos de ataques terroristas nos Jogos. Com esquema especial para a ocasião, a participação do público foi autorizada, e mais de 8 mil pessoas puderam assistir gratuitamente à preparação de atletas do mais alto nível mundial. Não houve ocorrências. Segundo Márcio Guerra, após conhecerem os equipamentos oferecidos pela Faculdade de Educação Física (Faefid) da UFJF, muitas pessoas passaram a frequentar a Universidade como espaço para a prática esportiva.
O então diretor da Faefid da UFJF na época, professor Maurício Bara, também ressalta a importância dos equipamentos adquiridos para a comunidade. Equipes financiaram aparelhos de musculação, e foram feitas melhorias de infraestrutura na Faculdade e compra de materiais de atletismo pela Universidade. “Ficou uma enorme utilização. O material de atletismo, que está sendo utilizado no projeto da modalidade, tem um sucesso muito grande. E os materiais de musculação são muito utilizados nos projetos de extensão pela comunidade.”
Treinadores também se capacitaram mais por meio da troca de experiências diária e do Congresso de Ciência e Esporte, realizado com a participação de técnicos e esportistas olímpicos. “E pelo que vemos nos resultados, os atletas também. É uma capacitação lenta, mas já vemos os resultados.” A Faefid já realizava uma série de projetos esportivos, como de atletismo, potencializados com o evento em 2016. “Houve uma motivação pelo momento vivido pela UFJF, em uma faculdade tão rica de projetos, e um aprimoramento dessas atividades.” O diretor da Faefid também espera preferência à UFJF em futuras escolhas de sedes. “Quando surgir outro evento no Brasil ou na América do Sul, haverá a possibilidade muito grande de essas equipes que estiveram aqui retornarem.”
Repercussão
Durante o período, os treinos realizados na UFJF ganharam repercussão nacional e internacional. Na ocasião, um site especial com conteúdo próprio sobre a preparação foi criado com versão em português e inglês, o UFJF 2016, além de página no Facebook e perfil no Instagram.
Guerra avaliou como positiva a experiência: “Nossa responsabilidade aumentou bastante, já que boa parte dos jornalistas estavam buscando as informações através da página. Foi um sistema com que aprendemos muito e comprovou a capacidade nossa, em especial da Diretoria de Imagem, de lidar com um grande evento.” Na ocasião, repórteres da China e da Polônia também estiveram presentes para acompanhar a preparação de seus compatriotas.
A recepção dos atletas olímpicos foi o principal foco de vários setores. Prova da relação entre muitas áreas foi o fato de que diversos cursos, como Fisioterapia, Letras, Engenharia de Produção, Jornalismo, Turismo e Moda, também se envolveram, desenvolvendo projetos de aproveitamentos acadêmico e cultural, como o de attachés. Em outubro, ainda foi lançada a exposição de fotos “UFJF 2016”, no Espaço Reitoria, no campus.
Que fim levaram?
Parte importante dos atletas de alto nível que treinou nas instalações da UFJF estarão, em Londres, para a disputa do Campeonato Mundial de Atletismo, que ocorre entre os dias 4 e 13 de agosto. Dois destaques são os canadenses Derek Drouin, campeão olímpico no Rio em 2016 no salto em altura, e que quebrou o recorde mundial de salto em um decatlo neste ano, e Andre de Grasse, medalha de prata nos 200m e bronze nos 100m em 2016, e que ganhou provas importantes neste ano, aproveitando a ausência do jamaicano Usain Bolt em algumas competições.
Outra canadense que treinou na UFJF e ganhou destaque neste ano foi Brianne Theisen-Eaton, duas vezes medalha de prata no mundial de heptatlo, e esposa do bicampeão olímpico no decatlo, o americano Ashton Eaton, que também treinou na Universidade. O atleta dos Estados Unidos, conhecido como o mais completo do mundo, causou grande repercussão em janeiro ao anunciar sua aposentadoria aos 28 anos, decisão também tomada por sua esposa. Eaton declarou que tinha pouco a avançar dentro do esporte, fazendo com que a experiência no Rio tenha sido uma das últimas oportunidades de acompanhar o atleta em alto nível.
Outro atleta de destaque que teve a carreira interrompida após a glória no Rio foi o eslovaco Matej Tóth. O medalhista de ouro na marcha atlética de 50 quilômetros foi suspenso preventivamente em julho por alegações de doping e pode enfrentar até quatro anos de afastamento. A canadense Evan Dunfee, que também fez sua preparação na UFJF e compartilha o treinador com Tóth, afirmou à imprensa que, tendo passado anos junto ao eslovaco, conhece-o profundamente e confia que ele está “limpo”.