A cidade do Porto foi escolhida por apresentar características distintas da cidade de Juiz de Fora. (Foto: )

A cidade do Porto foi escolhida por apresentar características distintas do município de Juiz de Fora. (Foto: Suzana Soares)

O noticiário está repleto de manchetes sobre líderes mundiais discutindo questões relativas ao clima. Mas o que as pessoas comuns pensam sobre o assunto? Com base nesta dúvida, a professora do Departamento de Geociências, do curso de Geografia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cássia de Castro criou um inquérito sobre as mudanças climáticas.

O projeto é uma parceria institucional entre a UFJF a Universidade do Porto, em Portugal, e se denomina  “Metroclima – adaptação às alterações climáticas na AMP: conhecer, planejar, comunicar, antecipar”. O objetivo é criar um plano municipal voltado às mudanças climáticas para a Região Metropolitana do Porto e para a cidade de Juiz de Fora. Na primeira fase, foi enviado um questionário aos moradores e dirigentes de ambas as localidades. “Após a análise dos questionários serão avaliados os riscos que a população colocou como sendo os que mais a sensibiliza e, em função deles, serão elencadas ações, procedimentos e condutas que possam prevenir ou minimizar a sua incidência”, avalia a professora.

A ideia é inquirir as lideranças mais relevantes no âmbito local, segundo a percepção da população, quanto às mudanças climáticas, como prefeitos e vereadores. Sobre a escolha das localidades, Cássia afirma que a diferença entre as duas realidades foi o que definiu a o interesse em verificar e comparar os resultados de Juiz de Fora e do Porto.  O formulário dedicado à população em geral busca entender, em segmentos diferentes, por exemplo, o grau de escolaridade, a preocupação com as mudanças climáticas e em quais esferas estas pessoas delegam as atribuições sobre o assunto, como: empresas, sociedade civil, governos federais e municipais.

Assumir posições que podem ir de encontro à postura dos principais representantes do executivo sobre o clima é algo que vem ganhando grande influência no mundo. Como explica esta reportagem, o conceito da “paradiplomacia” prevê que tomadores de decisões locais, por exemplo, prefeitos, tomem a dianteira sobre assuntos relevantes no cenário global. Após a decisão do presidente Donald Trump de deixar o Acordo de Paris, somando-se apenas à Síria e a Nicarágua, uma série de lideranças locais, encabeçadas pelo ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, decidiram ainda assim cumprir com as metas norte-americanas acordadas em Paris. Bloomberg assinou um artigo (em inglês) para o jornal New York Times que ganhou enorme repercussão sobre o tema.

“Quando nos referimos ao clima e aos riscos climáticos a população já vivencia diariamente eventos como cheias, secas, desabamentos, calor ou frio intenso. Com a possibilidade de alterações climáticas é quase consenso entre os pesquisadores que os extremos fiquem mais presentes e, portanto, maior risco”, aponta a professora. Neste cenário, segundo Cássia, é fundamental a participação das cidades: “os municípios devem se preparar para o cenário estabelecido sabendo o que pode piorar, principalmente no Brasil, onde o planejamento e gestão ainda estão longe de atender às necessidades imediatas da população.”

O formulário pode ser respondido até o dia 31 de agosto e está disponível neste link. A iniciativa prevê a participação de moradores de Juiz de Fora com mais de 10 anos de idade. Em Portugal, o projeto teve repercussão na imprensa local, e é conduzido pelas professoras Ana Monteiro e Helena Madureira da Universidade do Porto.

Efeitos menos óbvios

Uma das atribuições do questionário é verificar a percepção da sociedade civil sobre os efeitos menos óbvios em relação às mudanças climáticas. Além do questionamento sobre o evidente “aumento de dias com calor extremo”, o questionário traz perguntas sobre, por exemplo, o “aumento dos incêndios” e o “aumento de doenças infecciosas ou arboviroses (Dengue, febre amarela, zica, chikungunya).”

Segundo Cássia, essas preocupações são fundamentais no caso do Brasil: “No contexto de preservação da biodiversidade, do aumento da população atmosférica, dos danos ao solo, das perdas materiais, enfim as queimadas são sempre prejudiciais em qualquer ecossistema brasileiro. As doenças para se propagarem, sejam elas mesmas, ou por meio de vetores, como o aedes aegypt, que com calor e água aumentam suas chances de proliferarem e consequentemente podem aumentar a incidência de dengue, zica e febre amarela.”

Recentemente em Portugal um incêndio atrelado ao calor e seca, característicos desta época, matou mais de 60 pessoas. Cássia lembra que “o clima não é o único e muitas vezes nem o principal responsável por tais tragédias, mas ele cria condições ambientais para que os processos ocorram. No caso português, a falta de preparo e de monitoramento gerou o desastre nas proporções que foi”.