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“São conscientes que têm um pé na aldeia e um pé no mundo”, desta forma o Cacique Bayara, da Aldeia Pataxó Gerú-Tucunã, explicou como é a formação e conscientização dos indígenas que saem da aldeia para estudar na “cidade”, e, depois de formados, retornam para suas tribos, através dos laços e consciência cultural obtidos desde a infância.

O caminho inverso, ainda que tenha durado apenas um dia, foi realizado por estudantes do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UFJF-GV, no último sábado, primeiro de julho. Em sua maioria do curso de Direito e ligados à empresa júnior Trivallis Consultoria, os discentes tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da rotina dos indígenas da aldeia que fica localizada no distrito de Felicina, em Açucena, cerca de 120 km de Governador Valadares.

Distância física relativamente pequena e inversamente proporcional à distância cultural existente entre as duas realidades. Os estudantes tiveram a oportunidade de conhecer plantações de abacaxi, mandioca, feijão, milho, pomar e hortas, sempre ordenadas em uma perspectiva de agroecologia, integrando a natureza, a terra e o homem, sem agressão ao meio ambiente.

Acompanhados por Sinarê, indígena habilitado em Engenharia Agrônoma, os estudantes conheceram a estrutura de uma pequena farinheira onde os índios se organizam e produzem farinha para consumo coletivo e para comércio nas cidades próximas.

O almoço coletivo não chegou a ser uma novidade para os estudantes da UFJF-GV.  Acostumados a se alimentarem nos Restaurantes Universitários da Universidade, o almoço, desta vez, foi realizado na cabana central, com alimentos produzidos na própria aldeia, pela indígena Cecaê, responsável também por ministrar uma verdadeira aula sobre a atuação dos homens e mulheres indígenas no dia a dia. “Tudo é realizado em total alinhamento, com produção tanto por famílias, como de forma coletiva, envolvendo toda a comunidade”, destacou.

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O artesanato, os cantos, as danças, o agradecimento a Tupã pela terra, pela floresta, pela água, pelo sol, também foram experiências compartilhadas . Janaína, indígena e professora na tribo, falou da história dos Pataxós desde o sul da Bahia até Açucena. Contou dos dilemas, entre os quais o grande preconceito ainda existente quanto aos direitos e modos de vida indígena, por muitos, segundo ela, tidos como preguiçosos, protegidos em excesso. Explicou a ideia, ainda vigente, de que o verdadeiro índio deve viver na “selva”, ou não será mais considerado índio. “Isso é um preconceito e uma tentativa de manipular e não permitir os acessos aos indígenas. Isso precisa ser corrigido porque é preciso ter espaço para os indígenas expressarem sua cultura que em nada interfere as tecnologias e os modos de vida atuais do não índio”.

Os indígenas falaram ainda das dificuldades em razão da ausência de demarcação e titulação da terra onde vivem, o que atinge também a segurança de todos, dada a hostilidade de alguns fazendeiros locais. “Tal insegurança limita o acesso a água, a produção, assim como prejudica o transporte para o escoamento do que é produzido, uma vez que têm dificuldade para conseguirem crédito, financiamento ou qualquer apoio institucional”, afirmou o professor do Departamento de Direito da UFJF-GV e coordenador da visita, Bráulio Magalhães.

Para isso, os indígenas pediram o auxílio da UFJF-GV, o que tem se dado através do Núcleo Transdisciplinar de Estudos Indígenas, coordenado pelo professor Reinaldo Duque, do Instituto de Ciências da Vida, com o apoio do Centro de Referência em Direitos Humanos, do Departamento de Direito da UFJF-GV.

Dilemas, culturas, experiências compartilhadas, que fizeram do último sábado um dia de muito aprendizado, bem longe da sala de aula.