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Geovani Krenak, em sua palestra no curso de extensão

O campus avançado da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV) recebeu, na última semana, representantes de nove instituições, entre estudantes, indigenistas, terapeutas, educadores populares e outros profissionais. Os mais de 70 participantes se reuniram na UFJF-GV para o curso de extensão “História e cultura dos povos indígenas de Minas Gerais – Módulo 1 – Krenak: povo Borum do Watu”. Entre os temas apresentados, a trajetória, arte e cultura Krenak, bem como as perspectivas de política indigenista no Brasil.

Mestra em Comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carolina Canguçu destacou as oportunidades decorrentes dessas atividades. “Essa iniciativa na Universidade é fundamental para a formação dos estudantes, pois gera outras formas de atuação. Este é um local de múltiplos saberes, então não podemos focar em uma única matriz de conhecimento”. Ainda segundo Carolina, a construção de conhecimento deve transcender os livros: “A Universidade é um local para pensar. Os próprios Krenak estudaram na escola do branco, não para se transformar em brancos, mas para se tornarem ainda mais fortes na cultura indígena, dialogar e dominar em sua lógica. Também devemos ficar um pouco indígenas”.

Entre as atividades do curso, Geovani Krenak apresentou a arte, dança e cultura de seu povo indígena. Para a terapeuta da Associação de Terapeutas Voluntários das Culturas Tradicionais, Mayô Pataxó, o momento foi especial por tratar um assunto do seu cotidiano. “Trabalho com arteterapia. As terapias tradicionais estão inseridas nessa questão ancestral das pinturas, e falar sobre o assunto me deixou muito feliz. Algumas pessoas estão começando esse despertar de respeito e carinho pela cultura indígena, a partir dessa experiência do curso. Espero que outras atividades assim possam contribuir na valorização da cultura indígena, principalmente a de Minas Gerais, que muita gente nem conhece”.

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Shirley Krenak durante o curso da UFJF-GV.

“O conhecimento indígena precisa circular. Levá-lo para a Universidade é muito importante, e, daqui, vamos transmitir para o nosso trabalho”, finalizou o terapeuta Odair Medina, também da Associação de Terapeutas Voluntários das Culturas Tradicionais, em Caratinga.

A possibilidade de conhecer a história indígena a partir de outra visão, que não a dos livros, foi um diferencial para a estudante de Fisioterapia, Rebeca Cardoso. “O curso trouxe a história contada pelo índio, então pudemos adentrar um pouco nessa cultura. Temos que valorizar e aprender com os índios, em sua espiritualidade, o jeito de encarar a natureza, lidar com os povos e com os outros. O índio é resistência, verdade, amor e natureza”, declarou.

Reunião de culturas e conhecimentos

O curso de extensão, organizado pelo Núcleo de Agroecologia de Governador Valadares (NAGÔ) e o Núcleo Transdisciplinar de Estudos Indígenas (NUTEI), em parceria com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), reuniu participantes de diferentes instituições na UFJF-GV.

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Douglas Krenak ministra palestra em curso de extensão.

Estavam presentes estudantes de diferentes cursos do campus avançado e outras universidades como a UFMG e a Univale. A iniciativa contou com a participação de professores da rede pública, docentes e servidores da UFJF, profissionais indigenistas da FUNAI, terapeutas e educadores populares da Associação de Terapeutas Voluntários das Culturas Tradicionais, e ainda técnicos do Centro Agroecológico Tamanduá.

Estudante de Administração no campus avançado, e também professora de história na rede pública de GV, Amanda Ottoni participou das atividades e comentou o espaço de diálogo e reflexão criado na Universidade: “Esse ato intercultural é extremamente importante para os estudantes e professores, pois é um grande passo para acabar com o preconceito existente entre os conhecimentos”.

Ainda segundo Amanda, “conhecer a história e cultura dos nossos ancestrais nos permite sensibilizar para as causas da demarcação de território, mas principalmente como uma simbologia da resistência, da construção de referência histórica, do resgate fundamental da memória e uma aproximidade para a transformação da sociedade que necessita aprender com a cultura indígena. Ererré!”, finalizou, utilizando a expressão Krenak que significa ‘Força sempre’.