Ruy Guerra (Foto: Fayne Ferrari)

Ruy Guerra: “A dramaturgia é aquilo que você conta, a narrativa é como você conta. E para fazer isso, é preciso tempo e espaço, que servem de base e são explicitados no movimento” (Foto: Fayne Ferrari/UFJF)

“Você gosta do teu filme?” Esta foi a primeira pergunta que o cineasta Ruy Guerra fez na palestra Cinema, Dramaturgia e Linguagem, que aconteceu na noite da última terça-feira, dia 16, no Anfiteatro do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Segundo Guerra, esta é uma pergunta que todo diretor deve fazer para si mesmo, no momento de criação de um filme, bem como “ter uma postura definida em relação ao tema que está colocando, ser criativo e usar uma linguagem que te possibilite contar a sua história da forma que mais lhe agrada naquela hora”.

Na abertura da palestra, sua assistente criativa, Luciana Mazzoti, fez uma breve homenagem ao ator Nelson Xavier, que faleceu na última quarta-feira, 10. Ruy Guerra e o ator trabalharam juntos nos longas “Os fuzis” e “A queda”, e pensavam em completar a trilogia com o longa “A Fúria”. Em cartas trocadas pelos dois e lidas durante o evento por Luciana, Nelson Xavier descreve que, ao longo dos anos, sua visão sobre seu personagem Mário mudou, e que gostaria de tê-lo interpretado de outra forma. Guerra destacou que com o diretor não é diferente, “os filmes têm que envelhecer como as pessoas. Eles têm marcas do momento em que foram feitos, e quando os revemos, não os vemos do mesmo jeito, às vezes até nos arrependemos de nossas escolhas”.

O cineasta explicou como se deu o desenvolvimento do cinema como a sétima arte e destacou também que o movimento, o tempo e o espaço, constituem o tripé da narrativa cinematográfica. “A dramaturgia é aquilo que você conta, a narrativa é como você conta. E para fazer isso, é preciso tempo e espaço, que servem de base e são explicitados no movimento”, afirmou.

Com produções destacadas nacional e internacionalmente, o cineasta revelou que nos últimos anos desenvolveu uma inquietação com o “Nó Borromeano”, de Lacan, e que, ao repensar algumas de suas obras, percebeu que há nelas o real, o imaginário e o simbólico. Para Guerra, a melhor técnica para aplicar estas três dimensões seria com o “fora de quadro”, o que não aparece na cena. Assim, para o cineasta, “mais do que abrir brechas para o imaginário do espectador, uma obra de arte deve contestar, e inquietar quem a aprecia.”

Nascido em Moçambique, Ruy Guerra é cineasta, poeta, dramaturgo, letrista e  integrante do Cinema Novo. Na palestra mencionou também seu livro biográfico que será lançado em agosto, suas inspirações e seus projetos futuros, que incluem um filme experimental feito apenas com “Mapp,ing” e computação gráfica, algo nunca feito por ele até então, mas, em suas próprias palavras, “coragem é a condição básica de qualquer cineasta”.

O evento foi promovido pelo Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens e pelo Grupo de Pesquisa CPCine: História, Estética e Narrativas em Cinema e Audiovisual, por meio do Projeto Cinema em Foco. Na semana anterior, houve uma mostra com as principais produções do cineasta, como “Os Cafajestes”, “Os Fuzis, “Mueda”, “Memória e Massacre”, “A Queda” e “Estorvo”.