Giane Almeida Foto Twin Alvarenga

Giane Almeida: “O capitalismo se alimenta do racismo e do machismo para prosperar. A gente não promove igualdade racial e de gênero com a democracia ameaçada” (Foto: Twin Alvarenga)

O evento “Todo dia é dia de luta”, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, lembrado nesta quarta-feira, dia 8, foi aberto nesta manhã pela vice-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Girlene Alves da Silva. “A data não é só comemorativa. É hora de iniciarmos um ciclo de debates na instituição e enfrentarmos os desafios que envolvem as mulheres em todo o país. Temos quase duas mil trabalhadoras na UFJF, entre professoras, técnicas em educação e terceirizadas. As alunas da graduação também são maioria na instituição. Precisamos garantir maior acesso das mulheres à pós-graduação, onde ainda são minoria e lutar pela conquista de direitos. A igualdade de gênero é ponto importante da nossa agenda, assim como a defesa de todas as mulheres, especialmente as que vivem em situação de vulnerabilidade por conta das desigualdades: negras, lésbicas, trans e periféricas.”

O diretor de Ações Afirmativas da UFJF e organizador do evento, Julvan Moreira de Oliveira, destacou o compromisso da Diaaf com as demandas das mulheres. “Nós vamos nos constituindo como pessoas e temos fatores de influência externos e interno. Minha mãe era empregada doméstica, minha tia criou as irmãs órfãs. Ambas são influências importantes em minha vida. Nosso trabalho é para que mulheres como elas possam entrar e permanecer na universidade.”

As mulheres na sociedade

A primeira mesa de debates do evento “Todo dia é dia de luta” contou com a presença da supervisora de Promoção de Direitos Humanos e Cidadania da Secretaria de Desenvolvimento Social de Juiz de Fora e integrante do coletivo Candaces –Organização de Mulheres Negras e Conhecimento, Giane Almeida; da doutoranda em Psicologia e integrante do projeto de extensão VisiTrans, Brune Coelho Brandão; da chefe do Departamento Políticas para Pessoas com Deficiências e Direitos Humanos da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Thaís Altomar; da filósofa e integrante do Coletivo Vozes da Rua, Adenilde Petrina Bispo; tendo como mediadora a  mestranda em História pela UFJF e integrante do coletivo, Maria Maria Laiz Perrut.

Thais Altomar Foto Twin Alvarenga

Thaís Altomar: “Acessibilidade não é só construir rampa. Queremos falar sobre nós mesmas. Somos 27 mil pessoas com deficiência apenas em Juiz de Fora, e 24% da população brasileira têm algum tipo de deficiência” (Foto: Twin Alvarenga)

As participantes, das mais diversas áreas, ressaltaram a importância do evento. Thaís Altomar afirmou que a marginalização das mulheres com deficiência é bastante antiga, “incluiu mortes, muita segregação e, mais recentemente, começou-se a falar em inclusão. É importante destacar que acessibilidade não é só construir rampa. Queremos falar sobre nós mesmas. Somos 27 mil pessoas com deficiência apenas em Juiz de Fora, e 24% da população brasileira têm algum tipo de deficiência”.

Já Giane Almeida enfatizou que representatividade não é um detalhe: “a vice-reitora da UFJF é mulher e negra. E isso é muito importante! O capitalismo se alimenta do racismo e do machismo para prosperar. A gente não promove igualdade racial e de gênero com a democracia ameaçada, conforme temos visto em nosso país”.

Adenilde acrescentou que as demandas das mulheres negras e periféricas têm as suas especificidades. “O feminismo branco e acadêmico não nos representa. Simone de Beauvoir foi importante, sim. Mas não somos todas iguais! A nossa luta tem as nossas especificidades. As mulheres da periferia batalham para criar os filhos, para conseguir emprego, lutam para sobreviver. Se isso não é feminismo, o que é então?”.

A doutoranda Brune Coelho, por sua vez,  ressaltou que “os conceitos de masculinidade e feminilidade são produzidos e naturalizados ao longo do tempo, pela Medicina, pelo Direito, etc. E os corpos que estão à margem? Como lidar com a construção dos corpos para além do binarismo de gênero? Nós devemos nos perguntar: quais as outras possibilidades? As mulheres lésbicas, por exemplo, sofrem um duplo machismo!”. 

Programação

A programação do evento em comemoração ao Dia da Mulher termina amanhã, dia 9. Todas as atividades são gratuitas e abertas à comunidade. O evento é uma organização da Diaaf com apoio da Pró-reitoria de Extensão; Diretoria de Imagem Institucional; Núcleo de Extensão e Pesquisa em Ciências Criminais (NEPCrim); e os coletivos de mulheres Aliança pela Infância; Feminista Classista Ana Montenegro; Coletivo Candaces – Organização de Mulheres Negras e Conhecimento; Duas Cabeças; Flores Raras – Educação, Comunicação e Feminismos; Maria Maria; PretAção; e Visitrans.

Confira as próximas mesas que serão realizadas ainda nesta quarta e na quinta-feira. Acesse aqui a programação completa do evento “Todo dia é dia de luta”