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A diretora Carolina Queiroz e o responsável pela personagem drag queen Femmenino, Nino de Barros, são estudantes do IAD (Foto: Luiz Carlos Lima)

O Documentário “Feminino“, dirigido e estrelado, respectivamente, pelos estudantes Carolina Queiroz e Nino de Barros, foi selecionado para o Fringe! Queer Film & Arts Festival, que acontece em Londres, na Inglaterra, e cuja programação segue até este domingo, 20.

Realizado para a disciplina de Cinema e Ciências Sociais, ministrada pelo professor Carlos Reyna do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o filme retrata as manifestações artísticas de drag queens da cena noturna de Juiz de Fora durante a programação do Realce, coletivo gay e bloco carnavalesco, durante o pré-carnaval de 2015. O documentário realiza uma imersão no processo criativo do artista Nino de Barros, criador da personagem Femmenino, figura ativa no meio artístico e cultural da cidade.

Produzito para a disciplina do professor da UFJF, Carlos Reyna (ao centro), o documentário fica em exibição em Londres até este domingo, 20 (Foto: Luiz Carlos Lima)

Produzido para a disciplina do professor da UFJF, Carlos Reyna (ao centro), o documentário fica em exibição em Londres até este domingo, 20 (Foto: Luiz Carlos Lima)

“Não imaginava todo esse impacto. Fizemos o filme pensando em um contexto mais local e acabamos alcançando novos horizontes. Por mais que seja um documentário de drag queen do interior mineiro, ainda possui uma poética que toca outros lugares e vai além de um contexto regional”, conta o estudante Nino.

Fringe! é um festival de filmes e arte de cultura ‘queer’, que visa ao respeito à diversidade de gênero em toda amplitude do termo.  O filme juizforano será exibido na mostra “Corpo político” do evento, junto a mais seis curta-metragens internacionais.

O documentário

“O filme possui uma poética que toca outros lugares e vai além de um contexto regional”

Com 26 minutos de duração, o filme envolve o telespectador na questão de performances de gênero, aproximando-as para um cenário regional. Utilizando da temática queer, o curta discute a relação de identidade de gênero, questionando conceitos baseados no que é considerado masculino ou feminino, ao mesmo tempo em que aprofunda os questões sobre minorias sexuais.

“Trabalhar com este assunto no documentário surgiu através da minha amizade com o Nino. Sabendo que ele já se montava como drag, resolvi associar ao meu interesse pelas questões de gênero, o que me torna uma mulher, toda performatividade das drag queens e como ele pega e utiliza essas características femininas”, relata a diretora Carolina Queiroz.

A criação da drag queen Femmenino busca uma "maior discussão dos padrões estéticos, refletindo com os aspectos de feminilidade e projeção sob um outro gênero" (Foto: Luiz Carlos Lima)

A criação da drag queen Femmenino busca uma “maior discussão dos padrões estéticos, refletindo com os aspectos de feminilidade e projeção sob um outro gênero” (Foto: Luiz Carlos Lima)

A criação do documentário serve também como um espaço de discussão das temáticas de gênero e os problemas que circundam as mesmas. “Essas questões que implicam que você deixa de ser homem por fazer uma coisa feminina, ou que você deixa de ser mulher por fazer uma coisa masculina, se tornam muito problemáticas e fechadas. Acredito que a compreensão deve ser de forma mais orgânica e, por isso, é importante trazer à tona esse lugar de limite do gênero, já que eles se encontram, se chocam e se misturam, não fica tão separado”, conclui Carolina.

Para o professor do IAD, Carlos Reyna, ver trabalhos feitos em sua disciplina recebendo a oportunidade de se apresentar fora dos espaços acadêmicos é sinônimo de orgulho: “É muito importante ver que nosso trabalho, é feito na Universidade, está transcendendo os limites da academia, bem como os da cidade. Procuro dar continuidade do trabalho que já feito pelo Departamento de Cinema aqui na UFJF e que busca colocar o cinema como uma ferramenta de pesquisa, trazendo elementos que deconhecemos sobre o outro, seja através de narrativas, histórias de vidas ou manifestações culturais.”

 

Femmenino integra o Realce, coletivo gay e bloco carnavalesco juizforano (Foto: Luiz Carlos Lima)

Femmenino integra o Realce, coletivo gay e bloco carnavalesco juizforano (Foto: Luiz Carlos Lima)

Femmenino

O trabalho desenvolvido na disciplina fez com que os alunos pudessem acompanhar alguns encontros e montagens do grupo Realce. As gravações, no entanto, buscavam destacar a preparação artística de Nino e a montagem da personagem, tal como suas performances junto às festas pré-carnavalescas do grupo.

Segundo Nino, a construção do personagem “Femmenino” se faz através da relação da personalidade do próprio artista, além de referências externas que contribuem para a elaboração deste processo artístico. “Essa persona é uma extensão da minha própria personalidade, porque muito do que é a minha drag queen se dá por conta do que eu sou hoje.Tento incorporar as referências que tenho do mundo, buscando sempre ter esse diálogo com a moda e com as artes, mas também buscando uma maior discussão dos padrões estéticos, refletindo com os aspectos de feminilidade e projeção sob um outro gênero.”

Exibições em Juiz de Fora

Passando por festivais em São Paulo e outras localidades nacionais e internacionais, o documentário estará em cartaz no Cine Palace durante o Festival Primeiro Plano, na Mostra Competitiva Regional, que ocorre entre os dias 28 de novembro e 3 de dezembro, em Juiz de Fora. Confira a programação completa aqui.

Outras informações:

Fringe! Queer Film & Arts Festival

Festival Primeiro Plano