Espanhol e inglês misturados em meio ao cenário urbano

Espanhol e inglês misturados em meio ao cenário urbano

“Internet”, “feedback”, “croissant”, “rock”, “pizza”, “jeans”, são algumas palavras estrangeiras que foram incorporadas à língua portuguesa. Ao conversarmos, mal percebemos a influência desse “estrangeirismo” no nosso idioma, efeito da globalização que traz diversidade cultural e impacta diretamente no nosso cotidiano. Uma pesquisa desenvolvida pela professora Ana Cláudia Peters Salgado, do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), juntamente com as alunas de doutorado Mariana Schuchter Soares e Raquel Santos Lombardi, investiga como a superdiversidade influencia na paisagem linguística e cultural de Juiz de Fora.

A cidade abriga centenas de imigrantes e estudantes intercambistas que, com suas próprias experiências e bagagens culturais, impactam no meio social. Por meio dessa observação, o objetivo do projeto é desconstruir a visão de que o município é exclusivamente monolíngue. “Essas pessoas vão se posicionar e se afirmar por meio das línguas que falam juntamente com as crenças, com os valores que trazem dessa bagagem cultural”, diz Raquel.

Parte dessa influência está relacionada à mobilidade, ligadas a uma gama de variáveis que não se resumem apenas ao deslocamento físico, mas mudanças sociais decorrentes muitas vezes da tecnologia. “O que a gente vê hoje em dia é que as pessoas se movem e as línguas se movem junto com elas. Vão para lugares diferentes e criam sentidos novos, influenciados pelo global e pelo local, pelo mundo e pela situação da cidade”, explica Mariana.

O projeto envolve duas temáticas: “O repertório de agência na era da superdiversidade” e “Uma janela em tempo real: os grafismos urbanos na paisagem sociolinguística da cidade de Juiz de Fora/MG”, desenvolvidos por Raquel e Mariana, respectivamente. O propósito é discutir e caracterizar as compreensões da realidade dinâmica da cidade. “Nós mapeamos de forma científica e com referências teóricas que ajudassem a compreender possíveis mudanças que possam acontecer”, explica Ana Cláudia.

Repertório de Agência

Os modos de agir por meio de recursos linguísticos e experiências, formas de enxergar o mundo de acordo com crenças e valores compõe um repertório de agência.  Em sua pesquisa, Raquel tem levantado dados de intercambistas e imigrantes, além de realizar entrevistas com os mesmos e pessoas que estão em contato direto com eles.

De acordo com a pesquisadora, mesmo sendo algo tido como de grandes centros urbanos, a influência desses imigrantes na paisagem linguística e cultural não deixa de acontecer em cidades como Juiz de Fora. “Essas entrevistas têm despertado para a questão de as pessoas se manifestarem no mundo através das línguas, das posturas, das crenças, e isso ocorre o tempo todo aqui, na nossa cidade. Buscamos cada vez mais registrar e trazer isso a um conhecimento mais geral”, explica Raquel.

Segundo Ana Cláudia, o trabalho das duas alunas já está despertando uma visão diferente dentro das salas de aula, onde a professora trata as pesquisas como exemplificação do que se pode fazer em termos de estudos sobre línguas. “A empolgação dos alunos de maneira geral é tão grande que eles acabam contribuindo também para a pesquisa. Nós estamos abrindo o olhar das pessoas para isso e iluminando as cabeças para essa diversidade linguística em Juiz de Fora”, afirma.

Grafismos Urbanos

A presença de estrangeiros também influencia nos grafismos urbanos da cidade, como Mariana tem observado. Durante sua pesquisa, foram encontradas diversas línguas coexistindo nas pichações e grafites, com elementos como do francês, latim, italiano, espanhol e alemão.

Além desses idiomas, foi encontrado também um recurso chamado “Lookalike Language”, que traz influências de diferentes línguas, mas não é considerada uma. “É como se fosse um uso emblemático da língua, mas transmite uma mensagem mesmo que não seja no sentido literal. É bem interessante porque não encontramos só o inglês padrão, por exemplo, mas uma diversidade muito grande”, explica Mariana.

Mais informações:

Programa de Pós-graduação em Letras: Linguística