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Cerca de 1.200 pessoas compareceram ao Cine-Theatro Central para a apresentação de “As Quatro Estações de Boismortier”, no encerramento do Festival (Foto: Twin Alvarenga)

O alto nível dos concertos, o interesse pelas oficinas e a presença de um grande público em todas as apresentações contribuíram para o sucesso do 27º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, que terminou na noite de domingo com a apresentação de “As Quatro Estações de Boismortier” no Cine-Theatro Central. Cerca de 1.200 pessoas prestigiaram o concerto de encerramento, proporcionando ao evento fechar a edição com um público total de sete mil pessoas.

“O público prestigiou muito, as casas lotaram em todos os espetáculos, todos saindo muito felizes, satisfeitos. Os músicos também ficaram contentes com a receptividade do público juiz-forano e dos alunos. Os espetáculos foram belíssimos. Fico muito feliz porque a gente percebe que agradou a todos”, avalia a professora Mayra Pereira, consultora artística do Festival. “Tentamos montar uma programação variada, com grupos e formações distintas. A gente nota primeiro a excelência dos artistas envolvidos, dos concertos em si, pois convidamos o grupo, mas o programa são eles que determinam. Fizeram tudo com grande maestria”, observa.

“A participação do público foi maravilhosa!”, concorda o supervisor do Centro Cultural Pró-Música, Marcus Medeiros: “Concertos lotados e uma plateia atenta e interessada. Os [músicos] estrangeiros destacaram a presença de jovens na plateia, o que tem sido cada vez mais raro na Europa”, complementa Medeiros. Para o supervisor, esse interesse é resultado da formação de plateia para a música antiga, que o Festival vem realizando ao longo de todos esses anos.

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Qualidade dos espetáculos e retorno do evento para julho contribuíram para o sucesso da 27ª edição do evento (Foto: Twin Alvarenga)

Além da excelência da programação, o retorno do evento para o mês de julho em que era tradicionalmente realizado foi um fator que contribuiu para o êxito da edição. “O fato de ter retornado o evento para julho foi muito bom por ser um período de férias escolares, quando as pessoas estão mais disponíveis para participar”, avalia a produtora executiva do Festival, Raquel Rohr.  “A volta do evento para julho contribuiu significativamente para a participação dos alunos nas oficinas, principalmente daqueles que vêm de outras cidades”, ressalta Marcus Medeiros.

Foram cerca de 300 inscritos para as oficinas de instrumentos, de canto e dança barroca, de música de câmara e para o curso de educação musical. “As oficinas são sempre oportunidades de trocas e de crescimento para os nossos estudantes e para os que vêm de fora. O contato com artistas de tão elevado nível é fundamental para a formação deles”, afirma Medeiros, que destaca a procura crescente pelas oficinas de instrumentos barrocos, fundamentais para a execução da chamada música historicamente informada. “Antigamente, as oficinas eram de instrumentos contemporâneos. Hoje oferecemos somente as de época, e foram 200 inscritos só para essas oficinas”, conclui o supervisor. “Foi bastante produtivo para a cidade de Juiz de Fora poder receber tanto alunos de outros locais quanto professores, permitindo o contato com novas maneiras de ver os instrumentos e os repertórios”, avalia Raquel Rohr.

Entusiasmo
As oficinas de instrumentos foram ministradas por alguns dos músicos do Collegium Musicum Den Haag, da Holanda, e por instrumentistas brasileiros consagrados. O violoncelista barroco australiano Anton Baba ficou feliz com o interesse do público pelos concertos e pelas oficinas de instrumentos antigos, tecnicamente muito diferentes dos modernos. “Para tocar bem, é necessário, além da técnica, todo um conhecimento sobre a época”, observa. Responsável pela oficina de Instrumentos Históricos de Cordas Dedilhadas, o professor Nicolas de Souza Barros trabalhou com uma cópia da guitarra barroca, instrumento anterior ao violão, para ensinar aos alunos ornamentação, técnica e repertório do instrumento antigo. Segundo Barros, é difícil encontrar cursos de instrumentos de época no Brasil, lacuna que o Festival vem preencher.

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Procura pelas oficinas surpreendeu os instrutores estrangeiros (Foto: Twin Alvarenga)

A instrumentista norte-americana Cynthia Miller Freivogel, da oficina de Violino Barroco, se empolgou com o entusiasmo dos alunos: “Está sendo divertido ensinar. Existe uma coisa diferente na música antiga e que é excitante. Como é um encontro de música antiga, com diferentes estilos, os alunos estão tendo a chance de aprender sobre os estilos do século 19 e 20”, afirma. Com uma interpretação vibrante que transparece sua paixão pelo violino, Cynthia ficou muito feliz com a recepção aos concertos de que participou: “É um público de todas as idades que está bastante entusiasmado com a Orquestra, e estou amando isso.”

Diretor artístico e cravista da orquestra holandesa, o brasileiro Cláudio Ribeiro, que ministrou as oficinas de Cravo e de Música de Câmara, avaliou como ótima a procura pelos instrumentos antigos no Festival. “Algumas pessoas que nunca tocaram algo barroco vêm justamente para ter esse primeiro contato”, ressaltou. Segundo ele, o campo de atuação para músicos antigos passa por formações como conjunto de câmara, duo ou trio, ou orquestra barroca. Ex-aluno do Festival, Claudio Ribeiro considerou muito bom retornar ao evento como professor: “Muita coisa que eu aprendi na Europa eu estou podendo ensinar aqui”, ressaltou. Em sua opinião, o Festival está muito bom: “É claro que ainda precisa se aprimorar, mas já dá pra notar que é o começo de um novo formato que aos poucos vai sendo polido”, concluiu.

Um dos destaques desta edição foi a oficina de Danças Barrocas, ministrada pela segunda vez no evento por Osny Fonseca e que atraiu mais de 30 alunos. Surpreso pela procura, Osny considera o Festival um ótimo espaço para divulgar esse estilo no mercado brasileiro: “A maioria dos alunos são músicos, que nunca dançaram, e que acreditam que a dança ajuda a interpretar e tocar melhor a música”, afirmou.

Pela primeira vez no Festival, Júlia Helen, 16 anos, se inscreveu nas oficinas em busca de conhecimento, experiência e contato com outros profissionais. “Existe sempre alguma coisa para a gente aprender, ainda mais com professores de outro país, com culturas diferentes, e que acabam tocando de maneira diferente. É meu primeiro Festival, então tudo que eu aprendi aqui é importante. Os professores são ótimos, ajudavam bastante e davam atenção a todos.”

Regente da Orquestra Sinfônica Pró-Música – que tocou sábado à tarde no Campus da UFJF – Victor Cassemiro, 23 anos, participou da oficina de Música de Câmara. “Ter a oportunidade de poder estudar com novos professores é sempre muito relevante para a nossa carreira. O Festival está muito bem organizado e estruturado. Os professores excelentes, assim como os concertos. A maioria dos alunos da Orquestra está participando das oficinas. Mesmo muito jovens, todos têm se mostrado interessados. Além de ótimos músicos, os professores também são ótimas pessoas. Eles estão sempre muito atentos às necessidades de cada aluno”, avaliou.

Desafios e compromissos

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UFJF reafirmou compromisso com a tradição histórica do Festival (Foto: Twin Alvarenga)

Esta foi a segunda edição do Festival com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) à frente do evento. O supervisor Marcus Medeiros agradeceu especialmente à Fadepe pelo apoio à realização, fundamental para o êxito alcançado. Com o retorno ao mês de julho, a data fica consagrada como oficial. Em relação ao formato, Medeiros afirma que “a intenção é sempre retomar o tamanho anterior [de duas semanas de programação], mas isso está sempre condicionado às verbas disponíveis”.

A produtora executiva do evento, Raquel Rohr, concorda: “Os desafios para uma instituição pública que promove esse tipo de evento são diferentes dos enfrentados por uma instituição privada em termos organizacionais. A instituição pública tem uma maneira de funcionar diferente, regida por uma legislação diferente. Então em determinados pontos isso dificulta a parte de organização e produção porque a atividade artística tem uma série de características próprias e específicas e, muitas vezes, os processos e a legislação não preveem algumas coisas. Então a gente acaba, algumas vezes, lidando com situações pelas quais a universidade nunca passou. Quando é uma instituição privada, você tem mais facilidade com algumas questões burocráticas.”

 Segundo Raquel, a redução do formato do festival está relacionada à situação de crise que o país vive. “Hoje a gente tem que tentar realizar o evento com a mesma qualidade, mas com recursos muito menores. Então foram tomadas decisões no sentido de manter principalmente a qualidade do evento e em um formato que ainda assim foi bastante eficiente para os alunos que participaram. Acho que eles puderam absorver bastante coisa. Foi mais curto, mas foi bastante intenso.”

A professora Mayra Pereira concorda e ressalta: “É complicado a gente estar dentro de uma universidade e trabalhar com um festival que, embora esteja em um formato reduzido, ainda é grande, porque envolve muitas pessoas e muitos lugares de apresentação. Então o desafio foi coordenar isso tudo de uma maneira que ficasse leve e não causasse problemas de organização para os músicos, no nosso contato direto com eles e nem na realização dos concertos. Mas deu tudo certo.”

Raquel Rohr ressalta o compromisso da UFJF com um evento tão antigo e de tanta tradição no país. “É um dos festivais de música do Brasil que tem o maior tempo de duração, e a UFJF conhece o valor dele, tentando mantê-lo no mesmo nível de qualidade e até mesmo melhorá-lo, em respeito a Juiz de Fora, ao evento e ao seu histórico.”