Contenção e extravagância, velocidade e mansidão, elegância e despudor, a beleza no máximo e no mínimo detalhe, sem meios termos, foi o que apresentou o Collegium Musicum Den Haag, da Holanda, na noite de domingo, 24, durante o concerto de abertura do 27º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga.

Diante das efígies de Carlos Gomes, Ludwig von Beethoven, Giuseppe Verdi e Richard Wagner, e das expressões de encantamento de mais de 1.300 pessoas, o Cine-Theatro Central foi envolvido pelo clima do barroco europeu, ao som dos instrumentos de época, durante a apresentação do grupo que é considerado uma das orquestras mais talentosas da nova geração europeia.

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Sob o comando do maestro cravista Cláudio Ribeiro, os 16 músicos apresentaram um panorama com os principais estilos que marcaram o barroco e transformaram o estilo em referência de beleza e virtuosismo atemporal (Foto: Twin Alvarenga)

Sob o comando do maestro e cravista ítalo-brasileiro Cláudio Ribeiro, os 16 músicos apresentaram um programa intitulado L’Europe Réunie (A Europa Reunida) – um panorama com os principais estilos que marcaram o barroco e o transformaram não apenas num período da história da música, mas em uma referência de beleza e virtuosismo atemporal.

Enquanto nas obras dos compositores italianos Antonio Vivaldi e Evaristo dall’Abaco o caráter sanguíneo do povo latino aparecia com vigor nos instrumentos em diálogo, que pareciam disputar qual era o mais expressivo ou o mais belo,  na obra de Jean-Féry Rebel surgia o requinte e a graça do espírito francês, com todos os músicos atuando em conjunto. Já nos trabalhos de Johann Sebastian Bach, Georg Philipp Telemann e Johann Adolf Hasse, a inteligência e a ordem alemãs buscavam uma síntese entre os estilos anteriores, colocando os músicos à prova, exigindo deles não menos que o virtuosismo.

Responsável por conduzir os músicos pelas partituras e extasiar o público, o ex-aluno do festival e diretor musical do Den Haag,  maestro Cláudio Ribeiro, salientou a importância do evento como opção de cultura e na formação de novos músicos. “O que é feito aqui deveria ser expandido para o Brasil inteiro. Nosso país ainda é muito carente de espaços para divulgação e para o ensino da música antiga. O Festival de Juiz de Fora sempre traz ótimos professores do país e do exterior. Sem contar que é legal ver ações como as palestras antes dos concertos explicando para o público o programa. Tudo isso é para divulgação da música barroca”, comentou.

O maestro não escondeu a satisfação de participar do Festival, dessa vez, como atração. “Para mim é um grande prazer retornar. Eu, assim como todos os outros músicos brasileiros da orquestra – as flautistas, Inês d’Avena e Isabel Favilla – tivemos o Festival como nossa escola de música antiga no Brasil. Embora tivéssemos estudado em Universidade e feito cursos, era aqui que podíamos fazer música de câmara e desenvolver nossas ideias de música antiga. Por isso é muito bom voltar e mostrar o resultado do trabalho que desenvolvemos na Europa”, afirma.

Academia e arte
Ao abrir o Festival, antes do concerto, a pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, lembrou do papel da UFJF em manter a tradição do Festival, que está em sua 27ª edição, e salientou o caráter de pesquisa e formação que o evento representa ao ser realizado no contexto de uma universidade: “Aliando uma programação formadora de público para a música antiga, prática pedagógica e pesquisa científica, o Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga é um evento dos mais completos, que contribui para o resgate e a divulgação de nossa música histórica, incentiva a formação de novos músicos e proporciona belos espaços e momentos para fruição de música”, disse.

Público que lotou o Central exaltou a qualidade do espetáculo e a beleza do lugar (Foto: Twin Alvarenga)

Público que lotou o Central exaltou a qualidade do espetáculo e a beleza do lugar (Foto: Twin Alvarenga)

Por sua vez, o supervisor do Centro Cultural Pró-Música/UFJF, Marcus Medeiros, exaltou as qualidades dos músicos participantes e lembrou o nível de excelência do Festival por trazer profissionais de tamanho quilate. “O Collegium Musicum den Haag, por exemplo,  se apresenta exclusivamente com instrumentos de época e é apreciado por seu alto nível artístico e aprofundamento na interpretação historicamente informada. Eles são presença frequente em festivais de música antiga e salas de concerto europeias. Por isso é  uma grande alegria oferecer ao público brasileiro uma apresentação de tão alto nível de maneira gratuita”, disse.

Encerrando os pronunciamentos,  o professor de história da música do Instituto de Artes de Design da UFJF, Rodolfo Valverde, apresentou e explicou o programa da noite ao público – fato que se repetirá ao longo da semana, um hora antes de cada concerto. Ao final da apresentação, o docente exaltou a apresentação do grupo. “Há muito tempo que o Festival não tinha um concerto de abertura com esta classe, tanto pelo repertório quanto pela execução apuradíssima”, afirmou, entusiasmado.

A boa impressão não foi apenas dos especialistas em música erudita. Para o professor Luís Alberto Rocha Melo, que pela primeira vez assistiu a uma apresentação do festival, a noite foi marcante. “Eu achei maravilhoso, incrível, não só pelo espetáculo como pelo espaço do Central. É fundamental que ações como o Festival, que trazem conhecimento, cultura e informação, aconteçam. E quando é de graça é melhor ainda”, completou, aos risos. Já para Anna Karinne Ballalai, a noite foi uma epifania. “É maravilhoso receber esses músicos da Holanda, é muito especial mesmo. Abre o horizonte. A arte realmente conecta o universo”, disse.

Governador Valadares
Embora o concerto de abertura do 27º Festival Internacional de Música Brasileira e Música Antiga tenha acontecido domingo, algumas atividades do evento começaram anteriormente. Nos dias 21 e 22, aconteceu o 11º Encontro de Musicologia Histórica do Festival, no prédio do Instituto de Artes e Design da UFJF, e, nos dias 23 e 24. aconteceu a oficina de educação musical “Música pela Estrada Real”, com a professora Cecília Cavalieri.

Além disso, pela primeira vez o campus avançado da UFJF em Governador Valadares recebeu atividades do Festival. No sábado, 23, o maestro Victor Cassemiro ministrou um oficina de canto coral na cidade, e à noite o Coral Pró-Música/UFJF se apresentou na 1ª Igreja Batista da cidade.     

O 27º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga é uma realização da Pró-reitoria de Cultura e Centro Cultural Pró-Música da Universidade Federal de Juiz de Fora. A programação prossegue até dia 31, com concertos gratuitos em diversos espaços da cidade. A expectativa é que mais de seis mil pessoas compareçam às apresentações.

Mais informações:
Pró-reitoria de Cultura – (32) 2102-3964

Centro Cultural Pró-Música/UFJF – (32) 3218-0336