A vontade de conhecer o passado para entender o presente faz parte do espírito de quem se apaixona por história. O interesse da professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Cláudia Viscardi por essa área despertou de última hora e de uma forma inusitada, substituindo sua intenção inicial de cursar Engenharia. Enfrentando os desafios da escolha de uma graduação que não era completamente aceita pela família, Cláudia perseverou e deu início aos estudos em 1982, na própria UFJF.
Esta é a quarta notícia da série sobre mulheres a ser publicada, no portal da UFJF, como parte da discussão sobre o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Para demonstrar a força da mulher na ciência em todos os campos da Universidade, quatro pesquisadoras de áreas de conhecimento distintas e com produtividades em pesquisa reconhecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são protagonistas de matérias abordando os desafios de suas trajetórias.
Busca constante pela pesquisa
Durante os anos 80, ingressar na pesquisa não era tarefa simples – ainda mais na área de Ciências Humanas, que não contava com a mesma visibilidade ou investimentos do que as demais. Aplicada em iniciar sua carreira como pesquisadora, foi através do mestrado em Ciências Políticas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que Cláudia deu seu pontapé inicial. Durante este período, também começou a lecionar na UFJF, onde é professora há 29 anos. “Procuro dar as melhores aulas possíveis: preparo, chego na hora e me envolvo quando estou lá. Eu adoro, mas a atividade que eu gosto mesmo é a pesquisa”, considera a professora.
Guiada justamente por esse interesse, fez doutorado em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e desenvolveu pesquisas que vão além da história do Brasil, fazendo com que se aprofundasse no que guarda, também, a memória portuguesa. Atualmente, Cláudia está realizando o pós-doutorado na Universidade de Lisboa, com auxílio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Políticas públicas voltadas para mulheres
Para a pesquisadora, o ambiente universitário é privilegiado, uma vez que possui fatores como equidade salarial entre os gêneros, por exemplo. Ainda assim, reconhece que não é o que acontece em demais setores da sociedade. “Seria interessante a existência de políticas públicas de incentivo para que a mulher possa estar inserida em todos os campos”, pondera. “Mesmo em um ambiente singular como a Universidade, existe ainda espaço para avançar, como, por exemplo, aumentar a presença de mulheres negras dentro da pesquisa.”
Além da sala de aula
Focada, a dedicação de Cláudia na UFJF ultrapassou as salas de aula. Durante o segundo mandato da professora Margarida Salomão como reitora (2002 a 2006), a pesquisadora foi convidada para assumir a Pró-Reitoria de Pesquisa (Propesq). A criatividade e a inovação foram essenciais para driblar uma época em que os recursos federais para a pesquisa em universidades públicas eram escassos. Foi a partir dessa perspectiva que se desenvolveram programas que vigoram até hoje, voltados para o apoio a grupos emergentes de pesquisa, recém-doutores e publicações de livros de docentes.
Ao longo de tantos anos de trabalho na UFJF, Cláudia também pôde acompanhar o desenvolvimento da pesquisa no Instituto de Ciências Humanas (ICH) e o crescimento do interesse das mulheres, que sempre se dedicam muito. Na Faculdade de História, laboratórios de pesquisa bem estruturados, a Revista Locus e o Programa de Pós-graduação se tornaram atrativos para todos os estudantes. “Está havendo uma mudança na Universidade como um todo, e no Departamento de História principalmente”, conta Cláudia. “Hoje, você já pega uma geração voltada para a pesquisa.”
Brasil e Portugal: estudo das raízes
Em sua pesquisa mais recente de pós-doutorado, financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Cláudia busca um paralelo entre as primeiras repúblicas em Portugal e no Brasil. Em meio a tantas especializações possíveis, Cláudia nunca teve dúvidas de que queria estudar a memória de seu próprio país. “Aquela coisa de estudar história antiga, medieval, nunca aconteceu comigo. Eu sempre quis estudar história do Brasil e história do Brasil republicano”, conta a professora. Parte de seu interesse também veio do mestrado em ciências políticas, direcionando seus projetos para essa área.
Ao longo da temporada fora, participou de grupos de pesquisas, apresentações de trabalho e coletou materiais que possibilitavam uma comparação entre as duas repúblicas. A pesquisa em Portugal ainda está em andamento e Cláudia voltará este mês para terminar de recolher informações e fotografar documentos importantes que a auxiliem em novas descobertas sobre o período que vai do fim da Primeira Guerra ao estabelecimento do Estado Novo.