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Arte indígena brasileira é destaque em nova mostra do Museu de Cultura Popular

Você está no centro de Juiz de Fora. Os carros correm pelas avenidas. Prédios, postes, concreto e ferro. Sons de buzinas e luzes dos semáforos. Atividade urbana no seu estado mais pujante. Eis que você se depara com um grande casarão, entra, e lá dentro encontra um ambiente onde poderá ter contato com elementos de um Brasil originário. Ao longo do mês de abril, essa é a proposta do Forum da Cultura da UFJF aos seus visitantes. Em comemoração ao Dia Nacional dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, o Museu de Cultura Popular propõe uma reflexão sobre a importância da cultura e das tradições indígenas na construção da identidade brasileira, por meio da exposição “Arte Indígena”, em cartaz a partir desta terça-feira, dia 1º.

Valorizando a pluralidade dos modos de vida, crenças, costumes e a herança cultural que é própria de cada povo indígena, a mostra reúne múltiplos artefatos de diferentes etnias que compõem nosso singular gene enquanto nação. Ao todo, estarão em exibição 38 peças artesanais de diversas etnias brasileiras, como, por exemplo, Pataxó, Maxakali, Tapirapé, Rickbatsa, Krenak e Xavante. Por meio de adereços, armas e alguns utensílios cotidianos, o público poderá entrar em contato com tradições que nos fazem conhecer as origens de nossa própria história.

Dos Maxakali, que vivem em aldeias no Vale do Jequitinhonha, região nordeste de Minas Gerais, e dos Krenak, etnia que reside no leste do estado, chegam instrumentos como como arcos, flechas, lanças e um machado de pedra que contam um pouco sobre as formas de caçar utilizadas pelos indígenas daquelas regiões.

Já das etnias Tapirapé e Rikbaktsa, originárias do Mato Grosso, temos os suntuosos cocares, um dos principais ornamentos utilizados por diversos povos da floresta. De acordo com a etnia, cada cocar pode carregar uma função específica, seja ela um adorno, símbolo de hierarquia, status, conexão com a natureza e com os ancestrais. Utilizados na região da cabeça, esses itens, em sua grande maioria, são criados utilizando-se palha, penas de aves, fibras vegetais, pedras, entre outras matérias-primas. São artefatos que integram a identidade das comunidades indígenas, diferenciando-as umas das outras. Seus formatos, cores e dimensões carregam simbolismos específicos.

Também merecem destaque as bonecas “ritxòkò” criadas pelo povo Karajá, que vive às margens do rio Araguaia, nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará. Feitas em cerâmica, exclusivamente pelas mulheres, as bonecas são decoradas com formas geométricas e cores vibrantes que estão associadas, respectivamente, à pintura corporal dos Karajá e às peças de vestuário e adorno consideradas tradicionais. Elas possuem um valor avito, pois transmitem, de geração em geração, o modo de vida Karajá, seus valores, histórias e mitos da sua aldeia e do seu povo. Além disso, as bonecas são usadas no cotidiano da etnia como importantes instrumentos de socialização das crianças, que se veem nesses objetos, recebendo ensinamentos e aprendendo as técnicas e saberes associados à sua confecção e usos. Uma das representações das ritxòkòs presentes na mostra é a de uma indígena em trabalho de parto, ajudada por duas parteiras.

“Arte indígena” conta com outros objetos de cerâmica, demonstrando como tal técnica era bastante explorada pelos povos originários. Chama a atenção uma réplica de urna funerária antropomorfa (com figura humana) em miniatura, proveniente do Amazonas, que demonstra algumas características das cerimônias de sepultamento de algumas populações indígenas da região.

Há, ainda, obras de cestaria e trançados de povos indígenas do Mato Grosso e Amazonas, feitas para diferentes finalidades, além de cuias fitomorfas para Tacacá, prato de origem indígena típico da região amazônica; e os remos e tipitis, utilizados, principalmente, para extrair o líquido da mandioca, deixando-a própria para o consumo e transformando-a em farinha.

Para a conservadora e restauradora de bens culturais do Forum da Cultura, Franciane Lúcia, a exposição permite que pessoas tenham uma dimensão da importância dos povos originários para o país. “Todo esse vultuoso acervo em exibição demonstra o quão extensa é a tradição indígena brasileira e como ela precisa ser resgatada, preservada e perpetuada para a geração atual e para as futuras. Conhecer nossas origens é reaprender a conviver harmonicamente com a natureza, e, ao mesmo tempo, encontrar respostas e soluções para problemas atuais que o planeta enfrenta” reforça. “Além disso, a exposição também nos lembra da importância de defender a luta e o direito dos indígenas em torno da demarcação de terras e do reconhecimento de sua identidade e valores socioculturais”, acrescenta.

“Arte indígena” segue em cartaz até o dia 30 de abril, com visitações de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

 

Documentário “Traços da Resistência”

Os visitantes da exposição também poderão assistir o documentário “Traços da Resistência”, dirigido e idealizado pela produtora e artista visual indígena Thaís Kokama.

Lançado em janeiro de 2025, com duração de 38 minutos, o material aborda, de maneira singular, o grafismo indígena dos povos do Amazonas, promovendo e valorizando a cultura, a arte e a ancestralidade dos povos daquela região.

O documentário também atua como uma obra de resistência e identidade étnica ao jogar luz em jovens personalidades do grafismo indígena do Amazonas, além de apresentar informações e imagens exclusivas de achados arqueológicos encontrados durante a seca dos rios da região.

“Traços da Resistência” foi um dos selecionados pelo Concurso Prêmio – Audiovisual (edital 18/2024), por meio da Lei Paulo Gustavo (LPG), realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, com recursos do Governo Federal e do Ministério da Cultura.

 

Indígenas no Brasil de hoje

Atualmente, existem cerca de 300 etnias indígenas no Brasil, segundo dados do IBGE, sendo 1,7 milhão de indígenas autodeclarados conforme o censo de 2022, o que representa 0,83% da população total do país. O Brasil é o país que possui o maior número de indígenas na América do Sul. A maioria deles vive, atualmente, nas grandes cidades brasileiras, longe de seu povo e de sua cultura.

 

Museu de Cultura Popular – UFJF

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306

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