Foram selecionados, ao menos, três exemplares de diferentes décadas de atuação da companhia.
Caminhando pelas ruas de Juiz de Fora, dobrando esquinas, cruzando por postes, propagandas de produtos e serviços, grades e uma outra infinidade de elementos que compõem o caos visual em que estamos inseridos, eis que nossos olhos se deparam com algo que chama a atenção e instiga a curiosidade. Ao longo de mais de seis décadas, os cartazes que anunciam as temporadas de espetáculos teatrais do Grupo Divulgação (GD) se tornaram uma marca registrada no imagético urbano da cidade. Essas verdadeiras obras gráficas funcionam como uma ponte entre as pessoas e o teatro, interligando-as com o casarão centenário. Reconhecendo esse importante acervo visual, o Forum da Cultura apresenta, a partir desta terça-feira, dia 11 de março, a mostra “Divulgação em cartaz”. O vernissage, gratuito e aberto ao público em geral, ocorre a partir das 18h30.
De “Cancioneiro de Lampião” à “Cidade Partida”, centenas de cartazes foram criados por artistas plásticos para o Grupo Divulgação, visando deixar a marca do espetáculo na memória do público e na história do teatro local e nacional. Na exposição, estarão presentes, ao todo, 25 peças, que compõem uma verdadeira linha do tempo que conta parte da brilhante trajetória do GD, desde sua criação, em 1966, até os dias atuais.
“Com quase 200 produções realizadas e, consequentemente, quase 200 cartazes produzidos para divulgar esses espetáculos, foi uma seleção difícil de ser definida. Buscamos olhar para as décadas de atuação do Divulgação para, assim, selecionar três cartazes de cada um desses períodos”, explica o teatrólogo, professor e coordenador do Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro. “Conseguimos garimpar cartazes importantes, que apresentam, de forma clara, a conexão com as peças teatrais e o trabalho desenvolvido pelos artistas que os criaram”, acrescenta ele.
O cuidado especial na criação e o zelo na preservação de cada um dos cartazes de suas peças demonstram o senso de autovalorização e o respeito do Grupo Divulgação com sua própria história. Os visitantes poderão conferir de perto os detalhes de desenhos, formas, cores e demais elementos escolhidos para criação desse gênero textual que funciona como cartão de visitas, convidando as pessoas a se colocarem diante dos palcos para assistirem a arte da atuação acontecer.
Para a atriz, coordenadora dos projetos de extensão do GD e professora da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Márcia Falabella, o cartaz exerce a importante atribuição de estabelecer uma identidade à companhia teatral. “À medida que fomos criando as peças gráficas, encontramos alguns elementos que se tornaram marcantes. Para nós, o cartaz ainda é absolutamente necessário, indispensável, pois carrega uma função informativa, estética e de propaganda. Além disso, o desafio de criar um material visual novo a cada montagem, muitas vezes de forma coletiva, é um processo que une o grupo e nos dá prazer”, conta ela.
Entre os destaques da mostra está o cartaz da peça “Beijo no Asfalto”, de 1979, criado por José Luiz Ribeiro. O trabalho foi selecionado para compor o livro “O Cartaz no Teatro” (Editora: Fundação Padre Anchieta), que reúne alguns dos cartazes mais importantes do teatro brasileiro, incluindo os de peças do Teatro Oficina e de montagens como “O Homem de La Mancha”, com Paulo Autran e Bibi Ferreira. O livro também estará presente na exposição para que os visitantes possam conferir todo o seu rico conteúdo.
Também chamam a atenção os cartazes de “Bodas de Sangue” (1968), um dos primeiros a ser impresso em uma gráfica de grande porte, e o cartaz de “O Rei da Vela”, que traz importantes momentos da história do Brasil, representados através de caricaturas de Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Getúlio Vargas.
A mostra “Divulgação em cartaz” segue em exibição até o dia 28 de março, com visitações gratuitas de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.
Uma identidade visual marcante
Sem dúvida, o poder de síntese é o ponto nevrálgico da criação. O cartaz, posto em modo de exibição em algum lugar, deve dominar o espaço e chamar atenção do futuro espectador.
Os icônicos cartazes do Grupo Divulgação cumprem essa missão, ao trazerem sempre uma tipologia fixa, aliada a algum componente visual relacionado ao espetáculo a ser apresentado. Tal padrão poderá ser admirado em todos os exemplares expostos, que trazem no topo o nome do grupo e o nome do evento, curso, seminário ou espetáculo, que se mostra em signos diversos. Além disso, também constam outras informações que indicam horários, dias e duração da temporada.
O cartaz tem passado, presente e futuro
A história do teatro brasileiro foi marcada por artistas criadores de anúncios que despertavam o desejo do espectador e o impulsionava à bilheteria para sentir um encontro inominável de palco e plateia. Depois disso, muitos cartazes ultrapassaram a sua função publicitária para virar obra de arte, como as figuras de Eleonora Duse ou Sara Bernardt.
O cartaz para divulgar o trabalho teatral tem uma longa trajetória na história da arte dramática. Ele serve como testemunho de um espetáculo realizado e mostra o espetáculo que está para estrear.
Na contemporaneidade, ele compete com outras mídias por ter maior durabilidade, dependendo dos lugares afixados; embora, em muitas vezes, possa se tornar presa fácil de vândalos que buscam apagar sua eficiência destruindo-os.
Os exemplares exibidos na mostra, criados ao longo de seis décadas, são um exemplo da evolução da tecnologia.
Das gráficas de chumbo, que exigiam vários desenhos para cores diferentes, usando padrões de cores limitados, à explosão de potencialidades criadas em computação gráfica, temos um avanço de tempo e dinheiro.
A eliminação do desenho artesanal e dos clichês para impressão dinamizaram a composição. Bancos de dados com imagens diversas, fundos em cores mutantes e a utilização de tipos em fontes variadas facilitam o moderno design em sua tarefa criativa.
Diante dessa democratização gráfica, vale ressaltar que o trabalho do artista ainda segue sendo extremamente importante, pois é ele quem irá selecionar os instrumentos de forma mais eficaz e criativa para realização do trabalho.
Um pouco de história
O hábito e a necessidade de expressar mensagens através de símbolos gráficos sempre esteve presente na história da humanidade.
Levando-se em consideração o conceito de que um cartaz se trata de um anúncio de dimensões diversas, com escritos e/ou imagens, apropriado para ser afixado em lugares públicos, encontraremos na antiga cidade de Pompeia (Itália), o que seria um dos primeiros cartazes da humanidade. Ele trazia uma propaganda eleitoral e foi encontrado conservado em ótimo estado pelo efeito da erupção do Vesúvio.
Entretanto, somente passados alguns séculos é que, no ano de 1440, surgem as condições para criar cartazes mais similares aos que conhecemos atualmente. Tal fato só foi possível graças à invenção da imprensa.
O primeiro exemplar da era Gutenberg data de 1477, é assinado por William Caxton – o primeiro impressor da Inglaterra -; e se trata de um cartaz publicitário que enumera os benefícios das águas termais. Já o primeiro modelo ilustrado foi criado por Jean du Pré, em 1482, na França.
Com a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, os cartazes ganharam ainda mais importância dentro da sociedade, justamente por serem um meio econômico e eficaz de comunicar.
No princípio do século XX, essa plataforma visual transforma-se em vitrine para diversos tipos de produtos, ganhando mais cores, destacando figuras femininas, ilustrações, juntamente com a representação direta e sintética do produto.
Nos períodos de guerras, os cartazes ganharam aspectos de propaganda bélica, anunciando recrutamento, justificando a participação de países nos confrontos e funcionando como um chamamento motivacional.
Com o final dos conflitos, as vanguardas artísticas surgem trazendo uma verdadeira renovação no design gráfico. Movimentos como Bauhaus, Art Deco e Construtivismo inserem novas formas geométricas, elementos gráficos, ângulo fortes, ousados tipos de recortes, uso de fotografias e escolha de tipografias mais diretas ao processo de criação dos cartazes.
Nos anos 50, os modelos ganham toques minimalistas e muita elegância. Nos anos 70, curvas, cores e elementos da psicodelia. Já nos cartazes dos anos 80 e 90, o uso de imagens conjugadas a frases de efeito e elementos surreais foram algumas das características mais marcantes.
Com a chegada dos anos 2000, chegam também as novas tecnologias, novos suportes e novas maneiras de consumir informação. Um encontro entre o físico e o digital que trouxe modernidade e agilidade comunicacional, mas que, também, deu novos rumos aos cartazes em formato físico.
Apesar da ascensão do meio online, o formato impresso segue vivo e ainda continua a ser uma das formas mais importantes para se comunicar.
O Grupo Divulgação
O Centro de Estudos Teatrais (CET) – Grupo Divulgação é um núcleo de ensino, pesquisa e extensão em artes cênicas, que se iniciou como um grupo de teatro universitário, nascido em 1966, na antiga Faculdade de Filosofia e Letras.
Formado por professores e acadêmicos, o CET se fundamenta como um grupo de pesquisa em artes cênicas, possibilitando, através do ensino, a difusão de conhecimentos e a extensão de uma vasta produção teatral junto às comunidades, visando à inclusão social e à construção de cidadania.
Seu repertório atesta um compromisso com a difusão da dramaturgia universal, possibilitando ao público um encontro com reflexões que, ao longo dos tempos, espelhou o ser humano, seus conflitos, angústias e sonhos. As encenações diversificadas criaram a oportunidade para os atores encontrarem a pesquisa cênica. Cada encenação tem uma visão particular que dialoga com a realidade nacional.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
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Telefone: (32) 2102-6306