Desde a última sexta-feira, a Zona Sul da cidade enfrenta crise no abastecimento de água, registrada, principalmente, em bairros como Ipiranga, Santa Luzia, Previdenciários, Sagrado Coração de Jesus e Jardim Gaúcho. Os moradores desta última região foram os mais afetados. Nas ruas localizadas na parte mais alta do bairro, as pessoas estão há, pelo menos, quatro dias sem uma gota nas torneiras e não sabem mais o que fazer para conseguir dar conta de atividades básicas, como tomar banho e preparar comida. A prioridade tem sido guardar água para beber. Pela avaliação da Cesama, o aumento de até 35% no consumo médio registrado nesta época do ano, ocasionado pelas altas temperaturas registradas nos últimos dias (com recorde anual de 34,5 graus no domingo, superado pelos 34,7 graus de ontem) e pela ausência de chuvas, foi o fator preponderante que prejudicou o abastecimento.
O morador do Jardim Gaúcho Paulo César Gomes, 50 anos, questiona a demora para a solução da questão. “Desde sexta-feira estamos ligando para a Cesama e a água não vem. Ainda não precisei ir buscar água na mina, onde muita gente tem ido, porque é longe e, por enquanto, está dando para comprar.” A esposa dele, Zeli de Lurdes, 55, também reclama dos inconvenientes. “Não podemos dar descarga, lavar roupa e nem limpar a casa. Precisamos fazer economia até para cozinhar”, diz a dona de casa. O pintor letrista Dener Lana, 41, vive a mesma situação. “Minha caixa d’água de mil litros está vazia. Estou comprando cada galão de água por R$ 8 e ainda não vi caminhão pipa.” Apesar da reclamação, a Cesama diz que enviou dois caminhões à região. Os moradores afirmam que, no calor, a falta d’água costuma ser recorrente na região. “Praticamente todos os anos temos essa situação”, conta Dener.
De acordo com a Cesama, todos os mananciais estão com nível de água e vazão dentro da normalidade para esta época do ano, e as regras técnicas apontam que o sistema de abastecimento normal tem a obrigação de trabalhar com média de 20% além do fluxo de água máximo. Como a rede local trabalha com até 30% a mais do que a demanda por produção e distribuição de água tratada, o consumo acima dessa margem teria provocado as falhas. Além disso, ontem, quando a companhia começava a recuperar o sistema de abastecimento, houve uma interrupção no fornecimento de energia elétrica na Estação de Tratamento de Água Walfrido Machado Mendonça, no Distrito Industrial. Durante as quase duas horas em que a estação ficou sem energia, deixaram de ser produzidos 4,6 milhões de litros de água.
Gerente comercial da Cesama, Marcelo Mello do Amaral explica que “o sistema é interligado e monitorado a todo instante, mas os principais reservatórios estão na Zona Norte”. Como o fluxo é da região Norte para a Sul, apesar de haver “elevados, bombas, entre outras alternativas para atenuar a questão, o consumo foi extremamente alto, e o limite foi suplantado naquelas regiões mais altas e ao Sul”, como é o caso do Jardim Gaúcho. No caso específico desse bairro, ainda houve o rompimento de uma rede no fim de semana, que, conforme Marcelo, já teria sido sanado na segunda-feira.
O gerente comercial da Cesama diz que na madrugada de hoje, com a redução do fluxo de consumo, o abastecimento deve voltar à normalidade. Na parte baixa do bairro isso já tinha começado a ocorrer em algumas casas na tarde de ontem. No entanto, a Doméstica Adalgisa Cristina Faria Floro, 39, diz que “chegou com pouca pressão”. Já nas ruas mais altas, até as 19h não havia nem sinal de água.
Fonte: Tribuna de Minas, 31.10.2012