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Debate sobre mudanças climáticas levanta controvérsias

O debate científico em torno da existência ou não do aquecimento global foi a tônica de polêmica discussão no 1º Simpósio Temático sobre Mudanças Climáticas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), promovido Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental. O evento, realizado na Faculdade de Engenharia, na segunda e na terça-feira, colocou em confronto dois renomados especialistas sobre o tema, Luiz Carlos Molion, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e Pedro Leite da Silva Dias, da Universidade de São Paulo (USP).

O professor Molion defendeu que as causas das mudanças climáticas são inteiramente naturais, rejeitando a tese de que a ação humana cause influência no clima global e, portanto, negou a influência humana no aquecimento global. Já o professor Dias, embora reconheça que parte significativa das variações climáticas seja de ordem natural, não exclui como um fator importante de influência no clima a ação humana, principal agente da emissão de gases do efeito estufa, como o gás carbônico (CO²), na atmosfera.

 Existe aquecimento global?

Autor principal de capítulo em duas edições do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão atrelado à Organização das Nações Unidas (ONU) para estudos acerca do clima, Dias lembrou que a Terra é como uma grande máquina térmica que procura manter o seu equilíbrio de temperaturas. A subida de ar quente, formando nuvens, e as correntes marítimas são formas de regulação utilizadas pela natureza.

Grandes eventos que podem ter consequências sérias para o homem, como furacões, também são modos especiais de regulação. Outros fatores naturais são de decisiva influência nas oscilações do clima, como o vulcanismo, variações orbitais (em escalas grandes de tempo), e o grau de emissão da energia solar, variável em espaços de muitas décadas. “Os relatórios do IPCC reconhecem que a natureza é fator principal de variação climática”, afirmou Dias. No entanto, há a ressalva de que uma maior concentração de CO² tem consequências neste equilíbrio. “O aumento de gases de efeito estufa força o resfriamento da atmosfera e mantém aquecida a superfície, tornando a atmosfera instável. Então, a atmosfera, que está em constante busca de equilíbrio, procura restabelecê-lo.”

 Essa tentativa de restabelecimento do equilíbrio térmico inicial aumenta a probabilidade de fenômenos com consequências para a vida humana, como o aumento na taxa de degelo dos polos, aumento de chuvas, aumento da ocorrência de eventos extremos e da temperatura geral da terra. Modelos matemáticos desenvolvidos por cientistas do IPCC apontam para um aumento de 3 a 5ºC na temperatura neste século.

Para o professor da USP, “existem exageros dos dois lados, mas o que vemos nos últimos anos é uma introdução enorme de CO² na atmosfera. Não se sabe ainda precisamente a consequência disso a longo prazo. Cabe a nós a pergunta: devemos esperar ou fazer algo? Não acho prudente deixar as coisas acontecerem”.

 

Pedro Leite da Silva Dias - USP (Foto: Frederico Boza)
Pedro Leite da Silva Dias: “Existem exageros dos dois lados, mas o que vemos nos últimos anos é uma introdução enorme de CO² na atmosfera” (Foto: Frederico Boza)

Terra pode esfriar

A exposição do outro debatedor do seminário, professor Luiz Carlos Molion, foi de encontro à posição de Leite. Segundo ele, o aquecimento global não existe, e o CO² não controla o clima global e que inclusive a Terra ao invés de se aquecer, tende, pelo contrário, a esfriar. Para Molion, “a missão do engenheiro sanitário e ambiental não é a de ser ecomaníaco, mas a de encontrar soluções para um desenvolvimento com um mínimo de impacto no ambiente”.

Na opinião de Molion, o clima sempre foi variável, e o impacto humano em escala global é nulo. Usando o exemplo de uma latinha de refrigerante gaseificada que libera quando aberta o gás nela solubilizado, o professor explicou que os oceanos, responsáveis pela ocupação de 71% da superfície terrestre, são os principais reguladores de CO² na terra. Se a temperatura decresce, absorvem mais CO²; se ela aumenta, absorvem menos. Em outro exemplo, mostrou que no período de 1920 a 1940, quando emitia-se menos de 10% do CO² hoje emitido, a temperatura da terra aumentou 4ºC, e logo em seguida, na época de grande industrialização do pós-guerra, entre 1940 e 1970, a temperatura caiu significativamente.

Para ele, a sensação das pessoas de que atualmente o clima mudou e de fato está mais quente é justificada, não por um aquecimento global, mas pela crescente urbanização que se deu nos últimos tempos. Nos centros urbanos as temperaturas são mais altas, mas essas alterações não repercutem em escala global. “O aumento da densidade populacional aumentou a temperatura noturna. O homem pode mudar o microclima, mas não o clima global.” Como o homem ocupa apenas 7% da superfície terrestre, a quantidade de CO² emitida por ele é ínfima comparada com a carga emitida naturalmente pelos solos, mares, vegetais e animais.

A existência do efeito estufa é também negada por Molion com base na grande quantidade de interações que sofrem as partículas de CO² no choque com outras. Nesses choques o CO² perde para outras substâncias o calor que leva para a atmosfera não se constituindo como fator de aquecimento. As principais alterações no clima em escala global se dão, sobretudo, pelos ciclos solares onde há maior ou menor emissão de energia e pela regulação dos mares.

 

Luiz Carlos Molion - Universidade Federal de Alagoas (Foto: Aline Carvalho)
Luiz Carlos Molion: “A missão do engenheiro sanitário e ambiental não é a de ser ecomaníaco, mas a de encontrar soluções para um desenvolvimento com um mínimo de impacto no ambiente” (Foto: Aline Carvalho)

Os debatedores concordaram que os relatórios sumariados do IPCC sofrem enorme influência política, contendo conclusões com mais incertezas do que o relatório científico principal permite. Molion criticou a interferência do que ele considera uma burocracia em defesa dos interesses de um governo mundial que cria deliberadamente mitos científicos com interesse político. “Nós estamos formando uma geração com conceitos falsos. Isso não é educação, é lavagem cerebral. Estamos formando uma geração inteira formada em fatos não comprovados cientificamente que não podem ser ensinados assim.”

O coordenador do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, Júlio César Teixeira, considerou o debate um momento importante para os alunos adquirirem seriedade e espírito científico. “É importante a percepção da necessidade do cientista que é a desconfiança de suas hipóteses, de não estar atento só a respostas prontas.”

Outras informações: (32) 2102-3429 (Engenharia Sanitária e Ambiental)