“Sinceramente, não vou mais separar meu lixo. Nem me lembro quando foi a última vez que o caminhão da coleta seletiva passou por aqui. Não adianta a gente fazer nossa parte, se não tem suporte da Prefeitura.” O desabafo do comerciante João Carlos Teixeira, residente na Rua Etelvina Faro, no Cascatinha, Zona Sul, encontra eco entre moradores de diversos bairros e regiões de Juiz de Fora. Há mais de dois meses, o serviço de coleta seletiva do município deixou de ser realizado em algumas localidades e, nas poucas onde ainda acontece, não obedece cronograma, nem periodicidade, deixando os usuários desorientados.
Segundo o aposentado Rômulo Salvati de Souza, a Rua Cícero Tristão, no Bairro Santa Catarina, região central, é um dos pontos desassistidos. “Até onde sei, tem mais de dois meses que o trabalho não é feito por aqui. Muitas pessoas estão deixando de separar o lixo.” No Bairu, região Leste, os moradores nem sabem informar se o trabalho ainda é realizado. “Não fomos informados de nada. Outro dia, um gari disse que a coleta seletiva foi suspensa, mas ninguém foi informado. É um desrespeito com a população”, queixa-se a dona de casa Jussara Salles de Menezes. O quadro se repete no Bom Pastor, onde a comunidade não conta com a coleta seletiva há cerca de quatro meses. “É um desserviço, porque a separação do material é um hábito que leva tempo para ser formado. Agora que as pessoas têm mais consciência e estão, de fato, se organizando, deixam de fazer a coleta seletiva. É um passo para trás”, opina a aposentada Marina de Cássia Fonseca.
Para o engenheiro sanitarista e professor da UFJF, José Homero Soares, a deficiência do sistema de coleta seletiva é o problema mais grave de limpeza pública no município. “É um absurdo que uma cidade do porte de Juiz de Fora não tenha um esquema funcional de coleta seletiva. Além de ser uma prática sustentável, por meio da reciclagem de materiais, o trabalho aumenta a vida útil dos aterros sanitários.” Segundo o especialista, novas iniciativas neste sentido representarão um desafio na mobilização das pessoas. “O serviço já foi implantado e desativado diversas vezes. A população é essencial para que a coleta seletiva funcione e, infelizmente, os juiz-foranos estão desacreditando.”
Falta de estrutura
De acordo com o diretor de operações do Demlurb, Paulo Delgado, a coleta seletiva tem sido realizada de acordo com a disponibilidade de efetivo e de veículos. “O trabalho ainda é feito em algumas ruas. Quando temos pessoal e caminhão à disposição, o lixo seco é coletado nos locais definidos pelo cronograma antigo, mas não há periodicidade. Fazemos quando é possível,” reconhece. Segundo ele, o serviço está passando por reformulação, e um novo projeto deve ser lançado. “Mas, enquanto isso, não temos condições para atender a maior parte da cidade.”
PJF diz que projeto passa por reformulação
O diretor de operações do Demlurb, Paulo Delgado, afirma que um projeto piloto para a coleta seletiva de Juiz de Fora será implantado no próximo mês, em parceria com a Associação Municipal dos Catadores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis de Juiz de Fora (Ascajuf) e o Centro Mineiro de Referência em Resíduos (CMRR). Ainda conforme o diretor, dois novos caminhões já foram licitados e estão em fase de montagem, com implantação de caçamba e outros dispositivos necessários para a realização do serviço.” A princípio, o trabalho será feito nas zonas Norte e Centro-Sul, de forma experimental. Se der certo, a iniciativa será expandida para toda a cidade, com aumento do número de veículos e de encarregados.”
De acordo com a assessoria de comunicação do CMRR, uma equipe esteve em Juiz de Fora, no mês passado, para uma reunião com representantes do Demlurb. A assessoria informou que o plano de ação para a execução do projeto piloto ainda não foi definido, mas deve seguir as diretrizes do Plano Estadual de Coleta Seletiva (Pecs), que apoia os municípios na organização, implantação e ampliação do serviço. Segundo a presidente da Ascajuf, Janaína Silva, a associação já foi acionada, e os catadores atuarão para cobrir a defasagem de mão de obra para a realização deste tipo de serviço. “Vai ser bom para todos. Nós precisamos mecanizar nosso trabalho, e a cidade precisa de mais gente atuando, para que haja um serviço melhor.” Uma reunião entre a associação e o Demlurb deve ser realizada na semana que vem, para definir como a parceria vai funcionar.
Catadores
Enquanto o sistema de coleta seletiva da Prefeitura não começa a operar, a população pode recorrer ao trabalho dos catadores de resíduos. Segundo a presidente da Ascajuf, existem profissionais atuando em diversos bairros da cidade, e os descartes também podem ser enviados aos três pontos de coleta da associação: na Rua do Monte, Bairro Vitorino Braga, região Sudeste; na Rua Senhor dos Passos, no São Pedro, Cidade Alta, e na Rua Maria Cândida de Jesus, na Zona Norte.
Fonte: Jornal Tribuna de Minas, 22.7.2012