Minas Gerais pode estar vivendo uma das maiores tragédias em decorrência das chuvas dos últimos anos. Isso porque, a cada dia, novos municípios são afetados pela força da água, e o número de vítimas só aumenta. A chuva intensa e constante do fim de semana trouxe mais problemas para a região da Zona da Mata. A cidade de Além Paraíba, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, ficou destruída depois que as águas do Rio Limoeiro subiram mais de oito metros, segundo a Prefeitura, alagando dez bairros. Outras cinco áreas tiveram deslizamentos de encostas. Três mortes foram confirmadas na cidade. Entre os mortos, estão um homem que foi soterrado, um menino de 5 anos e uma mulher, que foram levados pela correnteza. Há ainda uma quarta pessoa desaparecida. Segundo o último boletim divulgado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), já são 15 óbitos em todo o estado, desde o início deste período chuvoso, sem contar a morte de um morador de Ponte Nova.
As estradas que dão acesso ao município, como as BRs 116 e 393, ainda estão parcialmente interditadas, e a rede de telefonia e de água potável foram comprometidas, dificultando o repasse de notícias a familiares de outras regiões. “Estamos vivendo uma situação de catástrofe. Nunca vimos isso aqui. Mais de 500 imóveis foram afetados, casas foram levadas inteiras, desmancharam com a força das águas. Ruas foram destruídas. As perdas foram astronômicas, e o Setor Jurídico já está avaliando, para decretarmos estado de emergência ou calamidade pública”, adiantou o secretário de Obras e vice-prefeito, Oberdan Moreira Rocha. Um barco do Corpo de Bombeiros e um helicóptero da Polícia Militar dão suporte aos resgates em Além Paraíba. O Governo de Minas determinou envio imediato de equipes da Cedec para o município.
O distrito de Jamapará, pertencente a Sapucaia, já no Estado do Rio de Janeiro, está separado de Além Paraíba apenas pelo rio e sofreu uma avalanche de terra. O megadeslizamento ocorreu por volta das 4h de ontem, atingindo cerca de dez casas, carros, pessoas e o que tinha pela frente. Até o fechamento desta edição, pelo menos oito corpos haviam sido localizados, e a estimativa era que o número de óbitos chegasse a 25, pois havia pelo menos 16 desaparecidos.
“Existe tipo uma pedreira, e pedras rolaram junto com a terra, começando na Rua dos Barros e descendo até a Amâncio Eugênio. Cerca de dez casas foram atingidas, mas moradores que tentaram fugir e se esconderam dentro de carros também foram arrastados e soterrados”, contou o morador da área Luciano José Louredo.
O município de Santos Dumont também sofre com as chuvas desde sábado, quando o Rio das Posses transbordou, atingindo bairros e ruas da região central. Além disso, houve deslizamentos de terra na Vila Esperança e no Córrego do Ouro. Segundo a Defesa Civil, não houve feridos, mas pelo menos 200 pessoas estão desalojadas e dez casas destruídas. Na tarde de ontem, funcionários da Prefeitura estavam preocupados com o rompimento de uma represa na região de Cabangu e Mantiqueira, mas até o fechamento da edição a informação não havia sido confirmada.
Segundo o coordenador da Defesa Civil do município, José Adelmo, “a cidade inteira foi afetada, mas os bairros mais atingidos foram Córrego do Ouro, 4º Depósito e Antônio Afonso, onde o córrego que corta a localidade encheu e invadiu ruas e casas. A preocupação é com a permanência das chuvas”.
Em Simão Pereira, a chuva torrencial de aproximadamente cinco horas deixou ruas alagadas e parte da Zona Rural ilhada em função do comprometimento de estradas. Já em Matias Barbosa, além dos problemas nos acessos, duas famílias ficaram desalojadas depois de um deslizamento de terra nos fundos das residências no Bairro Maria Célia. Ninguém ficou ferido, e os moradores foram levados para um abrigo da Prefeitura. Já no Bairro Nossa Senhora da Penha, conhecido como Banheirinho, a água do Rio Paraibuna transbordou, alagando parte da Avenida Flaviano Valladares e parte das ruas transversais Doutor Osvaldo Cruz e São Sebastião.
Segundo os moradores, a água começou a subir de madrugada, mas baixou no início da manhã, voltando a subir à tarde. Com medo de perderem os bens com a inundação, a população tentava subir os móveis ou retirá-los das casas. “Todo ano é isso. Essa noite não dormimos para vigiar o rio. Meu filho está retirando as máquinas do açougue para não ter prejuízo”, contou o morador Altair Damião Pinto,76 anos.
A Prefeitura de Guidoval e a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) concluíram a Avaliação de Danos (Avadan) do município e avaliaram que serão necessários R$ 20 milhões para reparar os estragos materiais. Os investimentos são para recuperação de vias, construção de pontes, prédios públicos, casas e pontos comerciais. Mas a chuva forte dos últimos dias provocou novos pontos de alagamento em algumas ruas, e famílias que vivem em Santa Bárbara, na Zona Rural, continuam ilhadas.
O Rio Xopotó – que corta Guidoval e Visconde do Rio Branco – voltou a subir. Por isso, a passarela flutuante construída na última sexta-feira pelo Exército na entrada de Guidoval foi retirada temporariamente e seria recolocada assim que houvesse condições. A possibilidade de mais temporais hoje e nos próximos dias deixa a região em situação de alerta.
“Estamos vivendo uma preocupação constante. Ainda há muito lixo nas vias, continua chovendo, e os moradores têm problemas para atravessar a cidade. A dificuldade em conseguir gasolina e em realizar serviço bancário também é grande. Mas há indicativo de que amanhã (hoje) será montada uma agência móvel”, explica o pedreiro e morador de Guidoval Otaciano de Almeida, 31 anos, que atua como voluntário na distribuição de donativos.
Em Ubá, onde foi inaugurado ontem o escritório estratégico de apoio aos municípios afetados pelas chuvas, o temporal elevou o nível do Ribeirão Ubá e inundou vários pontos. Também houve deslizamentos de encostas e interdição de vias.
Conforme o último balanço da Defesa Civil, publicado ontem, 116 cidades decretaram situação de emergência no estado, sendo 40 na Zona da Mata. O número de residências atingidas também é grande, totalizando 131 moradias destruídas – 120 apenas em Guidoval – e 5.714 imóveis afetados. Mais de 14 mil pessoas estão desalojadas ou desabrigadas em Minas.
Fonte: Tribuna de Minas, 10.1.2012