Dentre as principais complicações causadas pelo vírus da Covid-19, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) é a maior responsável pelos óbitos relacionados à doença. Desta forma, com o intuito de contribuir para melhorar o cenário, um estudo liderado por Guilherme Diniz Tavares, professor da Faculdade de Farmácia da UFJF, se dedica a desenvolver um medicamento inovador direcionado ao tratamento desta síndrome.
A síndrome, que é caracterizada por uma inflamação pulmonar intensa, ocorre em pacientes acometidos por vírus respiratórios, tais como H2N3 e SARS-CoV-2. Entretanto, como ainda não existe um consenso científico sobre o tratamento adequado para a SRAG, a maioria dos médicos têm apostado no uso dos corticoides – fármacos que são anti-inflamatórios e imunossupressores para controlar o quadro. Tavares explica que, dentre os medicamentos mais utilizados atualmente, existe a dexametasona, que pode ser administrada de duas maneiras: por via injetável ou em comprimidos.
“Dessa forma, a ideia da pesquisa é que esse fármaco seja administrado por via pulmonar, tendo em vista que a inflamação causada pela SRAG acomete diretamente o pulmão. Ao aplicar no local necessário, temos dois benefícios: uma ação mais concentrada – que permite reduzir a dose do fármaco – e uma redução nos efeitos colaterais, já que os corticoides costumam apresentar uma alta prevalência desses efeitos quando aplicados por via oral ou injetável”, destaca o pesquisador.
Nanopartículas: possível agente da inovação
A principal inovação do projeto é incluir a nanotecnologia no processo de transporte do medicamento até a via pulmonar, de maneira que a dexametasona seria liberada nos pulmões em nanopartículas. “Dentre as vantagens dessa tecnologia, podemos dizer que ela permite uma distribuição mais uniforme na região pulmonar, além da liberação gradual do fármaco. Além disso, o material dessa nanopartícula é um polímero de origem natural que possui propriedades anti-inflamatórias. Ou seja, estamos associando um corticóide de maneira bem mais localizada a um agente que também é adequado ao tratamento”, aponta.
Como as nanopartículas são produzidas em meio líquido, o pesquisador indica que será necessário “secar” a dispersão produzida para obter assim uma formulação inalatória em forma de pó. Sendo assim, a iniciativa é inovadora, já que não existe um produto no mercado que contemple a dexametasona inalatória. O projeto, nomeado de “Nanopartículas poliméricas contendo dexametasona para o tratamento da síndrome respiratória aguda grave relacionada à COVID-19: estudo de escalonamento, investigação da eficácia e avaliação da estabilidade após inclusão em formulação inalatória” foi contemplado com uma verba de R$80.300,00 por meio do edital de chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (Nº18/2021/Universal).
A equipe conta com os pesquisadores Fernanda Vilela e Frederico Pittella, docentes da Faculdade de Farmácia e o professor Gilson Macedo, do Departamento de Parasitologia, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas. Também integram o projeto os pesquisadores Helvécio Rocha e Michelle Sarcinelli, da Fiocruz. Tavares explica que, posteriormente aos ensaios iniciais com as nanopartículas, o medicamento inalatório será avaliado em parceria com a Fiocruz.
Alta relevância mesmo diante das vacinas
É importante ressaltar que as atuais vacinas já possuem grande eficácia na redução de casos graves por pessoas contaminadas pela Covid-19. Entretanto, a existência dos imunizantes não anula a proposição de um medicamento capaz de controlar a síndrome respiratória – que também pode ser causada por outros vírus. Esse, inclusive, é um diferencial da proposta, tratar unicamente a inflamação decorrente da SRAG.
“As vacinas já impedem a evolução do quadro inflamatório. Entretanto, infelizmente, temos os não vacinados – seja por não estarem com o esquema vacinal completo, ou aqueles que não desejam se vacinar. Então, essas pessoas são os pacientes que atualmente estão evoluindo para casos mais graves. Não sabemos ainda se as outras possíveis variantes do vírus serão cobertas pelas atuais vacinas. Pensar em um medicamento para tratar os sintomas advindos desta infecção ainda é algo promissor e de muita relevância”, constata.
Outras informações:
Perfil no Instagram do Laboratório de Desenvolvimento de Sistemas Nanoestruturados – @ldnano.ufjf