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Tradutor Intérprete de Libras – Gabriel Martins

“Me lembro do primeiro dia em que entrei na UFJF. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Entrei com muitos sonhos”. Prestes a colar grau na cerimônia que acontece nos dias 14 e 15 de outubro, Erliandro Felix Silva será o primeiro aluno negro e surdo a se formar no curso de Letras-Libras. Nestes cinco anos de UFJF, ele destaca que, além das muitas amizades, a participação em programas de extensão, monitorias e em outros setores da Universidade foram primordiais para sua formação acadêmica e humana.

Apresentação de um poema de Erliandro no Dia Nacional dos Surdos (Foto: Arquivo pessoal)

Silva, que sempre teve o sonho de ser professor, conta que conheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) por meio da comunidade surda. Tendo vindo de uma família ouvinte, seu primeiro contato com a UFJF e com o curso de Letras-Libras foi em 2016, através de uma publicação da Universidade que anunciava a abertura de três vagas no curso. (No momento, a UFJF conta com um edital exclusivo para que pessoas surdas ingressem na graduação de Letras-Libras. As inscrições se encerram no dia 12 de outubro e devem ser realizadas pela Central de Atendimento). 

“Eu vivi bastante a graduação e fiz muitas coisas na Universidade. Na parte da extensão, participei do projeto Libras e Saúde: Acessibilidade no Atendimento Clínico e do Bate-Papo em Libras. Também fui monitor de várias disciplinas. Ainda fui o representante discente do grupo de trabalho “Acessibilidade e Pessoas com Deficiência”, no Fórum da Diversidade”, comenta Silva, que também participou de componentes curriculares de outros cursos do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e do Instituto de Artes e Design (IAD). 

Apoios institucionais e pioneirismo da UFJF
Silva destaca a importância de todas as contribuições que recebeu durante o período de sua graduação: “Eu sempre tive muito apoio, seja dos amigos ou professores, assim como da Universidade, com as bolsas de Assistência Estudantil e com o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI). Eu agradeço a todos pela paciência. Tive muitos professores queridos na Letras, além da professora Fernanda, de História da África, e o professor Rodrigo, da Faculdade de Educação. Gostaria de agradecer a todos”.

Hadassa Rodrigues, vice-coordenadora do curso de Letras-Libras, comenta sobre a importância da formatura do estudante: “O discente Erliandro sempre manteve um interesse aguçado pelo curso de Letras-Libras, e bastante envolvido nas atividades curriculares e extensionistas. Ao longo de sua formação, buscou a garantia de seus direitos quanto à acessibilidade linguística e exerceu papel fundamental na ampliação do atendimento da interpretação Libras-Português no curso. Apresentou um ótimo desempenho acadêmico, além de criar vínculos importantes entre os colegas do curso, surdos e ouvintes”, explica.

Quando perguntado sobre a importância do curso de Letras-Libras para a sociedade, Silva explica que a UFJF aceitou a responsabilidade do papel de fazer a inclusão e de ser um modelo. “Eu mudei muito e vi a Universidade mudar muito também. Quando entrei, só existiam quatro intérpretes de Libras, hoje, temos mais de dez, todos ótimos. No momento do meu ingresso, não existia o NAI, que é de suma importância. A UFJF é uma maravilhosa universidade”.

Conclusão do curso de extensão “Bate Papo em Libras” (Foto: Arquivo pessoal)

Importância da formação de futuros docentes
Depois de ingressar na UFJF, Silva conta que concluiu sua graduação em Logística, realizada em outra instituição particular, por meio de Ensino a Distância (EaD). “Eu tinha começado antes de entrar na UFJF, mas havia desistido porque faltavam intérpretes de Libras no curso. Depois de dois anos na UFJF, decidi voltar a estudar EaD, mas sei que tudo o que aprendi de verdade foi na UFJF”, aponta. Atualmente, ele também está matriculado no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), com a defesa de sua dissertação prevista para o próximo ano. 

Hadassa comenta que a formação de discentes que atuarão na educação de Surdos é de suma importância, tendo em vista que eles irão promover a inclusão de pessoas que têm a Libras como língua compatível no desenvolvimento da socialização e da linguagem. “A manutenção do curso de Letras-Libras na UFJF, além de fortalecer as políticas inclusivas, atende a demanda advinda com a recém aprovação da Lei Estadual 23.773/2021 que regulamentou a criação de escolas bilíngues em Minas Gerais. No âmbito nacional, a inclusão da Educação Bilíngue como modalidade de Ensino na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional expande a demanda por licenciados em Letras-Libras, o que nos faz, além de pioneiros na oferta desta formação no Estado, alvo de interesse de pessoas que buscam essa formação com qualidade, visto que fomos o único curso de Letras-Libras avaliado em cinco estrelas na pelo Guia do Estudante em 2021″, explica a professora.