Um estudo conduzido pela professora Milena de Oliveira Simões, do Departamento de Medicina do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), traz dados inéditos sobre o consumo alimentar e a retenção de peso após o parto de mães adolescentes. Desenvolvida em parceria com a federal do Rio Grande (UFRG) – onde a docente conclui o doutorado em ciências da saúde, que conta com a co-orientação da também professora do campus, Waneska Alves –, a pesquisa acompanhou 317 valadarenses menores de 20 anos desde parte da gravidez até quatro meses após o nascimento dos bebês.
O estudo queria identificar, por exemplo, os alimentos mais consumidos por elas nesse período e se a ingestão de cada grupo alimentar era adequada; a influência de fatores socioeconômicos na nutrição inadequada das adolescentes; além do levantamento da média de peso retido quatro meses após o parto e a associação desta retenção com fatores biológicos, reprodutivos, comportamentais, econômicos e sociais.
Foram entrevistadas adolescentes que tiveram filhos entre os meses de outubro de 2018 e outubro de 2019 em três maternidades de Governador Valadares. Essa coleta de informações aconteceu em dois momentos: até 48 horas após o parto e nos quatro meses seguintes. Nesse segundo encontro, além da aplicação do questionário, os entrevistadores – a maior parte formada por estudantes de graduação do campus – aferiu o peso e altura das mães, que ainda foram orientadas sobre a importância de uma alimentação saudável durante os primeiros anos de vida, principalmente no período de amamentação.
A retenção de peso quatro meses após o parto chegou a quase 80%, considerada “alta”, diz o estudo. E de acordo com a conclusão da pesquisa, aquelas adolescentes com menor escolaridade, mais de um filho, acostumadas a consumir alimentos ultraprocessados, que não receberam orientação nutricional durante a gestação, com maior índice de massa corporal pré-gestacional e com maior ganho de peso gestacional são as principais afetadas.
Segundo Simões, que é nutricionista, esse resultado “reforça a importância de um cuidado pré-natal de qualidade, que inclua estratégias de educação nutricional, em especial a este grupo etário de alta vulnerabilidade, a fim de promover um estilo de vida mais saudável e evitar o ganho de peso excessivo durante a gravidez e sua retenção no pós-parto”.
Ainda de acordo com a docente, estudos focados em mães adolescentes ainda são escassos. “Em relação à retenção de peso pós-parto, estudos atuais com amostra composta apenas por mães adolescentes são raros no Brasil e no mundo. No entanto, as pesquisas internacionais existentes com esta população ou amostras mistas (adolescentes e adultas) demonstram que ser mãe durante esta fase da vida tem sido um fator contribuinte para a presença de retenção de peso pós-parto e consequente alteração do estado nutricional dessas mães, acarretando um quadro de sobrepeso ou obesidade e persistindo ao longo da vida adulta dessas meninas”. Nos últimos dez anos, segundo Simões, apenas uma pesquisa sobre o tema foi publicada em território brasileiro [Azeredo e colaboradores. Rio de Janeiro, 2011], mas com uma amostra bastante restrita [cerca de 50 adolescentes].
“Nosso estudo traz dados inéditos a respeito da retenção de peso pós-parto em mães adolescentes e seus fatores associados no estado de Minas e além de ser o segundo estudo e mais recente publicado em referência ao Brasil”, frisa a pesquisadora.