A Gerência de Transportes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tem sua primeira gerente mulher. A servidora é Tamara Octaviano Fernandes, auxiliar em Administração que atua há três anos e seis meses na Pró-reitoria de Infraestrutura (Proinfra). Tamara irá liderar uma equipe predominantemente masculina. No quadro efetivo da Gerência de Transportes atuam seis homens e duas mulheres. Entre os terceirizados que respondem à gerente, a maioria também é masculina.
“A princípio será um novo desafio a ser encarado, pois o mercado de trabalho vem carregado de preconceito. No início pode amedrontar um pouco, mas com o tempo e com a experiência, superaremos essas questões”, acredita a técnica-administrativa em Educação que assume a Gerência de Transporte após o auxiliar em Administração, Leonardo Andrade Oliveira.
A temática dos direitos da mulher é frequente na carreira de Tamara, graduada em Direito pela UFJF. Com engajamento, ela percebe a importância de abordar o novo papel da mulher na sociedade. “Já fiz alguns trabalhos acadêmicos e ministrei palestras sobre o tema. Acho fundamental tratar a ideia da mulher como dona de si mesma, sem ser tratada como um objeto.”
O pró-reitor de Infraestrutura, Marcos Tanure, considera a chegada da auxiliar em administração ao cargo de gerente um fato marcante e relevante para a Universidade. “Por ser a primeira mulher a assumir a Gerência de Transportes, a Tamara ganha um destaque importante. Vale a pena ressaltar a competência e a dedicação da servidora, que levou à escolha dela para o cargo. A Tamara trabalha há um tempo com transportes e sempre se destacou.” Tanure aproveita para parabenizar o antigo gerente, Leonardo Andrade. “Ele desenvolveu um ótimo trabalho à frente da gerência e segue trabalhando no setor.”
Mulheres no mercado de trabalho
Ainda nos dias de hoje, apesar de muitas mulheres trabalharem em diferentes áreas do mercado, ainda sofrem com diferenças salariais em relação aos homens, jornada dupla e menos oportunidades em cargos de gestão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), embora mulheres sejam maioria em algumas profissões, os homens ainda predominam na atuação de cargos de liderança, fator que justifica parte da desigualdade salarial. Apenas 41,8% dos cargos gerenciais são ocupados por mulheres, segundo o instituto.
Pesquisadora de gênero no mercado de trabalho, a professora do Instituto de Ciências Humanas (ICH), Célia Arribas, explica o quanto esse momento é significativo, não apenas para a UFJF, mas para a representatividade feminina e para os ganhos trazidos aos cargos e ambientes predominantemente masculinos. “A questão mais importante a ser entendida é sobre a entrada da mulher no mercado de trabalho, o que traz para nós uma emancipação do homem, ainda mais se considerarmos que há algumas épocas, mulheres ainda precisavam pedir permissões aos pais ou aos esposos. Além disso, demonstra uma autonomia econômica, o que significa um avanço, sem negar a existência da dupla jornada com o trabalho doméstico, do cuidado da casa e das crianças.”
Em relação ao mercado de trabalho, Célia percebe a inserção do público feminino em espaços anteriormente dominados por homens, como uma possibilidade de se repensar questões com novos pontos de vista. “As mulheres têm as mesmas qualidades e capacidades encontradas no homem. A diferenciação é mais percebida em cima de uma construção social do que em grau de capacidade, que todos nós temos. A representatividade feminina no espaço masculino acrescenta novas visões para esses ambientes que eram predominantemente masculinos.”