Ao lado da professora do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marta Mendes, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Avritzer, analisou a atual crise política encarada pelo Brasil. O encontro possibilitou a discussão sobre a corrosão e a insatisfação da população em relação à democracia brasileira, à atuação de forças antidemocráticas e ao aumento da violência política. As considerações foram feitas durante a abertura da 6ª Jornada de Ciências Sociais, nesta terça-feira, 24, no Instituto de Ciências Humanas da UFJF.
Durante a palestra “Democracia no contexto latino-americano”, o professor falou sobre os ciclos de autoritarismo que intervêm no modelo democrático e atestam golpes súbitos. “Os atores internos são quem degradam as democracias, por isso ela está se corroendo por dentro. Mas, apesar dessas questões, há três motivos para referendarmos o êxito da mesma no Brasil: os resultados políticos não contestados de 1994 até 2010; a criação de sistemas de partidos com propostas e coerências; e a criação de instituições contra majoritárias.”
O encontro também refletiu sobre o momento da regressão democrática brasileira. Avritzer questionou o quão perto está a contestação da democracia atual, comparada à realizada no período do Regime Militar. “Há mais militares em cargos de primeiro e segundo escalão no governo Bolsonaro do que havia no governo de João Figueiredo, o último presidente militar. Vivemos em um pêndulo democrático, com um movimento oscilante entre a democracia e a antidemocracia. Sérgio Buarque de Holanda já dizia que nós não somos democráticos, mas sim, que não somos antidemocráticos.”
Na solenidade, Avritzer apresentou dados realizados por uma pesquisa da UFMG, onde se afirma que apenas 19% da população brasileira está ‘satisfeita’ com a democracia. “Em momentos de crise se questiona o papel de todas as instituições e elas passam a ser desacreditadas. Todos são a favor dos Direitos, mas a regressão tem sido rápida, pois os elementos antidemocráticos, que corroem o sistema, estão dentro da própria democracia.”
Democracia em risco
Compondo a abertura da solenidade, a professora Marta Mendes fez uma contextualização sobre um conjunto de preocupações vividos no Brasil em relação à democracia. “Estamos vivendo momentos, a níveis mundiais, onde ela é ameaçada em diversos contextos. O desafio é perceber quais os obstáculos e como diagnosticar as raízes desses problemas. A crise democrática se mostra nos discursos que voltaram a encontrar lugar na sociedade e no agravamento das desconfianças em cima de instituições centrais para o fundamento da democracia.”
Marta reitera que a manifestação da crise democrática está presente em aspectos variados, entre eles, no aumento da violência política e nos retrocessos em áreas já consolidadas, como as ciências e os direitos minoritários. Além disso, ressalta que o problema aponta diretamente para a crise no capitalismo, onde a desigualdade atinge taxas exorbitantes. “Tem afetado muitos países, o que vai além da esfera doméstica. Precisamos repensar nossa produção sobre democracia e reelaborá-la. Inegavelmente, nos últimos 30 anos, experimentamos um processo de fortalecimento, onde houve uma agenda pública e plural, resultado dos movimentos sociais. O nosso processo de democratização e políticas públicas é algo que faz o Brasil querer ser estudado”.
Leonardo Avritzer
Avritzer é professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); foi representante de área da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); diretor da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs); presidente da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), além de ser membro do Conselho Consultivo da International Political Science Association (IPSA).
Saiba mais no site do evento.
Confira a programação completa da 6ª Jornada de Ciências Sociais.
Outras informações: (32) 2102-3106 (Departamento de Ciências Sociais-UFJF) ou jornadacsoufjf@gmail.com