Em seminário na Comissão de Educação da Câmara nesta terça-feira (19), dirigentes de universidades de todo o País relataram dificuldades na gestão das unidades de ensino que estão fora das sedes. Os problemas principais são de infraestrutura, de recursos humanos e orçamentários. Uma enquete com 78 diretores mostra que 75% dos campi não têm estrutura apropriada para o ensino e em 83% faltam condições para a realização de pesquisas.
Segundo o diretor do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora em Governador Valadares (UFJF-GV), Peterson Andrade, há uma sensação generalizada de instabilidade. “Hoje a gente ouviu alguns colegas falando: ‘Ah, não comprei casa na cidade porque o campus pode fechar’. Essa insegurança tem dificultado a fixação dos servidores”, revelou.
Os problemas também passam pela questão salarial. O campus da Universidade Federal do Amazonas em Coari, a 400 km de Manaus, abriu 22 vagas para professores no curso de Medicina, mas nenhuma foi preenchida porque ninguém se dispôs a ganhar R$ 2.600 por 20 horas semanais de trabalho.
Diante de tantos problemas, Renato Bochicchio, Diretor do Campus Litoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR), destacou a importância do fortalecimento do Forcampi como espaço de troca de experiências dos dirigentes. “Todos aqui estamos unidos por uma pauta que nos uniu. Lutamos sempre com muita responsabilidade, tranquilidade e tentativas de diálogo. A gente sabe que o caminho não vai ser simples, mas este é nosso papel enquanto participantes deste movimento”.
O Secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Paulo Barone, listou outros entraves, como a falta de infraestrutura de algumas cidades que recebem os campi e unidades que ficam a até mil quilômetros da sede. Ele também reconheceu problemas de gestão e obras paradas e disse que a estabilização desta primeira fase de interiorização do ensino superior ainda vai levar tempo.
“Além da consolidação dos investimentos, será necessário certamente um prazo muito longo de consolidação, de maturação acadêmica dos nossos programas. Todos vocês entendem o que significa porque sabem que os tempos necessários para essa maturação são, por natureza, longos. O fenômeno acadêmico é um fenômeno de longa duração”, argumentou.
Paulo Barone destacou ainda a necessidade de reorganização do sistema de campi fora de sede. “É um imperativo de política. No futuro próximo este assunto será inevitável. Haverá demandas fortes por isso tanto nos campi fora de sede quanto na sede das instituições. Isso deverá ser objeto de um relacionamento franco e não vejo motivo para que não seja debatido abertamente”.
No encerramento, Peterson Andrade celebrou a ampla participação dos dirigentes ligados ao Ensino Superior neste que foi o quinto encontro para discussão sobre campi fora de sede realizado na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. “A gente vive um drama e precisamos fomentar este tipo de debate para também trocar informações e experiências com colegas que enfrentam problemas tão complexos, como por exemplo, a implantação de um curso de Medicina em uma universidade em processo de consolidação. Em Governador Valadares nós não temos Hospital de Ensino”.
Parlamentares e dirigentes das instituições reclamaram ainda da Emenda Constitucional 95, que limita gastos pelos próximos 20 anos. Atualmente há 332 campi universitários: destes, 268 unidades estão fora das sedes. No caso dos institutos federais, são 41 instituições e 650 campi espalhados pelo país.
Durante o seminário, os dirigentes das instituições de ensino superior pediram que a subcomissão da Comissão de Educação que trata dos problemas dos campi fora das sedes continue seus trabalhos. O prazo já foi estendido até o final deste ano.
*com informações da Agência Câmara Notícias