Pelo seu aspecto natural, a luz é o meio necessário para enxergar o que não é visto, um recurso fundamental para o ato de discriminar. No campo da religiosidade e da espiritualidade, a luz eleva a reflexão em direção ao ato de se conhecer e de enxergar a relação do homem com o mundo. Mas, segundo o professor de Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Dilip Loundo, há a tendência de o ego, associado simbolicamente à escuridão, influenciar as decisões a respeito da religiosidade.
Conforme o pesquisador, parece sensato agrupar o que há de melhor em cada doutrina para aplicá-lo de acordo com as inclinações de comportamento do indivíduo, que se encaixam exatamente no padrão e estilo de vida praticados. “Entretanto, pode ocorrer um grande equívoco, caso isso não seja efetuado pelo intermédio da religião. Desse modo, o responsável por guiar as ações é o ego, que está escolhendo suas opções e caminho, substituindo a função da religião. Hábitos e práticas não estão sendo questionados, consequentemente, a transformação pessoal ocorre sem orientação externa”, destaca.
Estudos e discussões sobre a luz na ciência, da religião à engenharia, são o tema da série de notícias publicadas pelo Portal da UFJF nesta Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. As linhas de pesquisa do Núcleo de Estudos Religiões e Filosofias da Índia da UFJF, a que Loundo pertence, investigam a pluralidade de tradições religiosas e filosóficas que se desenvolveram no subcontinente indiano ao longo de mais de quatro mil anos.
É justamente por associarem solidão à escuridão que o ponto comum das tradições ocidentais e orientais está em
atribuir à luz a forma de estar no mundo. Para Loundo, reconhecer-se enquanto ser “ignorante” é essencial para a iluminação pessoal, a fim de enfraquecer o ego e expandir a percepção. “O fundamental na figura do Cristo é dizer que ele é um humano capaz de amar todos os outros da mesma maneira. Ele tem a magia de se compartilhar pelo universo”. A falta de compartilhamento impulsionada pela descrença religiosa pode significar a tentativa de um caminho de salvação extremamente solipsista, egocêntrico, e talvez muito mais esquizofrênico, destaca Dilip.
Nesse sentido, apesar de a prática religiosa ser alvo de questionamentos atualmente, isso não significa que as doutrinas em si são ineficazes. “A falta de aplicabilidade também está relacionada às instituições, que têm imposto maneiras de comportamento ineficazes aos seus frequentadores”, diz o professor. A espiritualidade vem, então, acolher quem não têm achado as respostas desejadas ante a inoperância, o desapontamento e a decepção com a religião e as referências previamente escolhidas. “Estamos em um momento em que as pessoas estão um pouco perdidas”, pontua Dilip.
Sair de si mesmo
Tanto no Ocidente quanto no Oriente, divindades são a imagem e o caminho para se alcançar o ideal. No hinduísmo, mestres e gurus auxiliam a buscar a iluminação, pois são a extensão da divindade na forma humana, ajudando a eliminar a escuridão do outro, inibindo a influência do ego.
As concepções indianas acreditam na possibilidade de transformação pelo advento da imaginação e da criatividade, pelas quais o ser humano precisa se projetar em algo que pretende alcançar. Ou seja, deve ser capaz de expandir a visão que tem sobre si mesmo. É por essa razão que os artistas dizem ser detentores de iluminação. Assim, conforme o professor, a expressão “sair de si mesmo” é pedagógica para induzir aos questionamentos no âmbito do autoconhecimento.
Outras informações:
(32) 2102-3116 (Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião)
Núcleo de Estudos em Religiões e Filosofias da Índia
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