exposição passaredo de Clédson Vidigal - no Jardim Botânico UFJF - Foto Alexandre Dornelas UFJF - julho 2024

Exposição ‘Passaredo’, de Clédson Vidigal, é uma das 5 novidades a serem apresentadas nesta sexta, 12, no Jardim Botânico da UFJF (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Estar em meio à natureza, distante de buzinas e da correria da cidade, envolto também em arte e, para complementar a experiência, tomando um cafezinho com pão de queijo. Essa é a proposta do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para seus visitantes com a reabertura, na próxima sexta, 12, às 10h, da Casa-sede, que irá abrigar três novas exposições artísticas, um livro poema multimídia e uma cafeteria. 

O espaço passou por reforma, que incluiu pintura interna e externa, ajustes na captação pluvial e outras melhorias, para ser o lar, neste momento, de três novas mostras. “Passaredo” reúne 37 obras de Clédson Vidigal sobre aves, com inspiração na música homônima de Chico Buarque e Francis Hime. Já a mostra “As Aventuras do Jardim” é composta por oito painéis, em quatro totens, com pinturas sobre a flora e a fauna local, como orquídeas e bicho-preguiça, criadas pela bióloga e artista Izabela dos Reis, monitora de educação ambiental do Jardim. 

A terceira exposição tem o foco no acervo do Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da UFJF (Maea). É a segunda vez que a instituição exibe parte de sua coleção na Casa. Desta vez, a mostra “Hãmhitap hã’ ApnE’ – Aldeia ancestral” agrega cerca de 50 peças de cerâmica e tecelagem, produzidas pelas mulheres Maxakali, cerâmica arqueológica e peças líticas, como lâminas de machado, mão de pilão e raspador. São reproduzidas ainda pinturas rupestres, e duas vitrines trazem cenas do cotidiano de um grupo do período pré-coloniais e do trabalho arqueológico.

 A audiodescritora e artista Patrícia Almeida é a autora da arteinstalação “Transfusão Poética no Jardim Botânico”, em que exibe seu livropoema multimídia, intitulado “Retalhos”. A instalação é uma experiência visual que conecta a obra literária a um vídeo e prima pela acessibilidade. O livro é feito de tecido, a partir de retalhos e fuxicos escaneados em formato de flor, com capa ornamentada com miçangas e bordada. Cada página traz um verso do poema escrito em braile, português e kheol karipuna (língua dos povos originários Karipuna, do Amapá). Há ainda links para versão do vídeo em libras, audiodescrição e audiolivro.

Para a reabertura, o músico Estêvão Teixeira, professor do Conservatório Estadual de Música Haidée França-Americano, fará uma apresentação solo, na flauta instrumental, de canções como “Passaredo”, de Chico Buarque, e outras composições brasileiras. Teixeira tem relação forte com o Jardim, tendo participado do movimento ambientalista contrário à instalação de condomínio na área e compôs a música “Mata do Krambeck”, em homenagem à floresta que abriga o Jardim. 

Outra novidade é a inauguração da cafeteria “Flor da Mata”, localizada na própria Casa-Sede, agregando momento para pausa e sabor na visita. “A reabertura promete uma experiência enriquecedora, combinando cultura, lazer e gastronomia em um ambiente inspirador”, afirma o diretor do Jardim, Breno Moreira. 

O evento é aberto ao público em geral; e a visita à Casa-sede e o funcionamento da cafeteria, a partir desta sexta, serão no horário em que o Jardim Botânico fica aberto, de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada até às 16h (saiba mais detalhes de cada novidade abaixo).

Um voo entre ecologia e arte

Exposição Passaredo - de Clédson Vidigal - no jardim Botânico da UFJF - Foto de Alexandre Dornelas UFJF - julho 2024

Uma coleção de aves imortalizada nas obras de Clédson Vidigal (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Poética e ao mesmo tempo profética, a exposição “Passaredo”, de Clédson Eduardo Vidigal, alinha-se com o espetáculo das áreas verdes do Jardim Botânico, ao mesmo tempo em que faz oportuno apelo às causas ambientais do país. 

O artista reproduz, em tinta a óleo sobre linho, 37 aves inspiradas na antológica música de Chico Buarque e Francis Hime, dando asas ao talento, à técnica e à força criativa que vem acalentando há décadas e que agora chega a um ponto especial de evolução. 

“Bico calado/ Toma cuidado / Muito cuidado/ Que o homem vem aí”, canta Chico Buarque na letra de “Passaredo”, gravada em 1975 – um apelo à liberdade, a voos maiores, ainda nos chamados “Anos de Chumbo”. Na letra metafórica, os autores incitam diversos pássaros à liberdade, como martim-pescador, saíra e tuim, todos possíveis de serem avistados no Jardim e nas telas do artista plástico. 

“Independentemente do tempo, passado e presente se fundem para fazer valer a importância de se preservar as espécies, respeitando o meio ambiente, sua fauna, sua flora e as histórias daqueles que viveram nessas terras desde tempos distantes”, afirma Vidigal.

Parte das obras expostas no Jardim já percorreu escolas de Juiz de Fora, e outros quadros continuarão nesse trajeto. Isso porque o artista criou a série “Passaredo”, entre 2020 e 2023, para fazer parte do seu projeto “A arte vai às escolas”. 

“Cores, movimentos e sons estão mesclados e implícitos nas formas realistas captadas, como a lembrar aos visitantes desta exposição que a natureza oferece um espetáculo que pode, sim, ser reproduzido, mas nunca sem prescindir da vida ali representada”, completa o artista.

Painéis

Painéis da mostra Aventuras do Jardim, de Izabela dos Reis - no Jardim Botânico da UFJF - Foto de Alexandre Dornelas UFJF - julho 2024

Criados pela artista Izabela dos Reis, monitora de educação ambiental, 8 painéis retratam parte da flora e da fauna local (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Desde janeiro de 2023, a bióloga e artista Izabela dos Reis Freitas atua, por meio de projeto de extensão da UFJF, como monitora de educação ambiental no Jardim, onde conseguiu de forma mais abrangente consolidar e aprimorar seus conhecimentos no campo das ciências biológicas.

Imersa toda semana neste fragmento de Floresta Atlântica, Izabela criou oito painéis que retratam parte da flora e da fauna local, formando a exposição “Aventuras do Jardim”. Nos murais, utilizando a técnica de óleo sobre madeira, a artista exibe seu olhar a respeito de exemplares da flora e da fauna, como a “íris-da-praia”, uma planta com flor branca e roxa em formato de leque; a “mariposa-espelho”, com suas asas simétricas e a ave “araçari-de-bico-branco”, integrante da mesma família dos tucanos e que gosta de se alimentar do fruto da palmeira-juçara, bastante presente no Jardim.

“É na sutileza, na quietude ou no caos da natureza que podemos observar e contemplar a vida desabrochar. Assim espero que apreciem a exposição. Em especial, fiz um painel sobre o bicho-preguiça, animal que pude ver  aqui, no Jardim, apenas uma vez. Acredito que, quanto mais raro seja o encontro com um animal, mais importante e emocionante o evento se torna. Além disso, a preguiça é exclusivamente sul-americana e brasileira”, destaca.

Outro mural foi criado especialmente para retratar a polinização de abelhas, como a da espécie Euglossa dilemma, conhecida como abelha das orquídeas, de tom verde metálico. “Sobre esse painel gostaria de destacar que devemos ter mais empatia para com animais como os insetos que podem nos parecer grotescos, entretanto, são tão belos, diversificados e importantes para o ecossistema.”

Aldeia ancestral

Cena de trabalho arqueológico na exposição Aldeia Ancestral no Jardim Botânico da UFJF - Foto Alexandre Dornelas UFJF - julho 2024

Cena de trabalho arqueológico na exposição ‘Hãmhitap hã’ ApnE – Aldeia Ancestral’  (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Pela segunda vez, o Jardim Botânico receberá uma exposição sobre os povos indígenas Maxakali, que habitam a região nordeste de Minas Gerais, na divisa com a Bahia. É um dos poucos povos nativos do Brasil a ter a língua original viva e falada pela maioria do grupo, composto por cerca de 1.500 integrantes.

A mostra “Hãmhitap hã’ ApnE’ – “Aldeia ancestral” agrega cerca de 50 peças da coleção etnográfica Maxakali e de coleção arqueológica da Zona da Mata mineira, pertencentes ao Museu de Arqueologia e Etnologia Americana da UFJF. 

Será possível conhecer e observar cerâmicas e tecelagem, produzidas pelas mulheres Maxakali, cerâmica arqueológica e peças líticas, como lâminas de machado, mão de pilão e raspador, distribuídas em três galerias na Casa. 

Na primeira galeria, há o simulacro de um abrigo com pinturas rupestres com a intenção de gerar uma discussão sobre as formas de comunicação visual, da materialidade do registro das imagens da cultura humana.

Na segunda, são apresentados artefatos produzidos pelos Maxakali, como vasilhames cerâmicos e tecelagem com a finalidade de trazer ao debate as formas de uso e função dos objetos e os recursos extraídos da natureza para sua produção.

Na varanda da Casa, duas vitrines com painel ao fundo expressam como a pesquisa arqueológica e etnográfica podem trazer à luz informações sobre o modo de vida das populações no passado. Em uma cena temos a representação de um grupo de pessoas em um abrigo sob rochas produzindo ferramentas líticas feitas de diferentes tipos de rocha. Na outra vitrine, a cena demonstra o trabalho de investigação arqueológica, escavando o mesmo local exibido na primeira representação.

O conceito de Aldeia Ancestral, Hãmhitap hã ApnE’, expressão em Maxakali, diz respeito não só ao nosso planeta, nosso cosmos, mas ao nosso próprio corpo. A vida é uma dádiva e ela está em tudo ao nosso redor. “Não podemos tratar o meio ambiente natural apenas como fonte de recursos que podemos apropriar e expropriar ao bel prazer para o atendimento de anseios criados pela sociedade de consumo capitalista, sob a ideia de bem estar e conforto”, explicam as curadoras da exposição, a diretora do museu, Luciane Monteiro Oliveira e da arqueóloga e colaboradora do Maea, Maria Fernanda van Erven.

Hãmhitap hã’ ApnE’” fica em cartaz, no Jardim, até o fim de 2024, durante o horário de visitação pública. Há a perspectiva de receber grupos escolares por meio de agendamento.

Livropoema

Livropoema 'Retalhos' de Patrícia Almeida será exposto no Jardim Botânico da UFJF - Foto Transfusão Poética

Obra multimídia e com valorização da acessibilidade, o livropoema ‘Retalhos’ de Patrícia Almeida será exposto no Jardim Botânico (Foto: Transfusão Poética)

“Transfusão Poética no Jardim Botânico” é uma instalação multilinguagem criada pela audiodescritora e multiartista Patrícia Almeida que combina poesia e arte têxtil, dialogando acessivelmente.

Com a contribuição de inúmeros profissionais, Patrícia criou um livro feito de tecido, cuja estampagem é composta por diversos retalhos e fuxicos em formato de flor escaneados. Cada página do livro contém um verso do seu poema “Retalhos”, escrito em braile, português e kheol karipuna – língua dos povos originários Karipuna, do Amapá. Um vídeo relativo à obra é então exibido em um monitor, formando uma videoinstalação. Estão ainda disponíveis links para acesso a versões do videopoema com libras e audiodescrição e ao audiolivro.

São versos como “são tantos panos plissados/ com cores tão convergentes/ que as dores se calam/ e tudo em paz recomeça/ sem se saber o destino de cada peça”. Como destaca Patrícia, “o experimento visual Retalhos, enquanto livropoema, veio como material extra, no intuito de possibilitar às pessoas com deficiência visual e leitoras de braile, o contato com as palavras usadas no videopoema”.

A instalação faz parte do projeto “Transfusão Poética” lançado em 2022 com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes 2021, através do edital Pau Brasil. Mas a paixão de Patrícia por tecidos vem desde a infância, influenciada por sua mãe costureira, quando desenvolveu habilidades em crochê, tricô e confecção de roupas para bonecas. 

Esse interesse evoluiu para a criação de flores de fuxico e a digitalização de tecidos, permitindo composições únicas que integravam seus poemas. Entre 2007 e 2008, a artista começou a declamar seus poemas enquanto vendia pães, o que a inspirou a criar o livro “Vendo Pão & Água”, inicialmente distribuído em formato de xerox e posteriormente publicado em 2010.

Especialista em audiodescrição pela UFJF, seu trabalho também focou na inclusão de pessoas com deficiência visual, com a adaptação de suas obras para o braile e audiodescrição, destacando a importância de tornar a arte acessível. Esse compromisso se materializou no projeto “Transfusão Poética”, lançado em 2022. 

“Com a infinidade de possibilidades, cores e estampas, tanto a composição destas imagens quanto o resultado plástico, fizeram com que eu sentisse vontade de uni-las à minha outra prática de compor poesias”, declara.

Cafeteria

Cafeteria em instalação na Casa Sede do Jardim Botânico da UFJF - Foto Alexandre Dornelas UFJF

Cafeteria Flor da Mata em instalação na Casa-Sede do Jardim (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Uma demanda solicitada há mais tempo pelo público é a instalação de uma cafeteria. Prevista desde a abertura do Jardim, o empreendimento precisava  angariar interessados. Licitações foram realizadas mas sem sucesso. Porém, a partir desta sexta, 12, será possível sentir diversos aromas e sabores pela Casa com a cafeteria “Flor da Mata”. 

O objetivo dos proprietários é oferecer opções de cafés de qualidade em diferentes formatos como expressos, drips, capuccinos, frapês, entre outros. Além de itens como pães de queijo, salgados e confeitarias.

A expectativa dos proprietários, com gerência geral de Eduardo Suhett, é complementar o espaço do Jardim Botânico com um ambiente para alimentação, a fim de que o passeio dos visitantes seja mais completo. A equipe da Flor da Mata já atua em cantinas de outros espaços da UFJF, como o Colégio de Aplicação João XXIII.

Reforma

Reforma da Casa-sede do Jardim Botânico UFJF - Foto Alexandre Dornelas UFJF - julho 2024

Casa-sede recebeu novas pinturas interna e externa, com substituição de decks e mais calhas de captação pluvial (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Desde janeiro deste ano, a Casa-sede do Jardim Botânico estava passando por reforma. Todo o ambiente interno recebeu nova pintura em cor pérola, areia e terracota. Externamente a construção foi pintada em tom de areia.

Os rodapés de madeira, que estavam carunchados, foram substituídos por modelos de alvenaria, conforme o engenheiro civil José Roberto Chamhum Salomão. Foram ainda instaladas calhas em pontos específicos, para captação de águas pluviais. 

O deck de madeira da entrada lateral, que estava apodrecido, foi retirado, e o local passou por revitalização com a construção de uma mureta de concreto para nivelamento da área, reaterro e instalação de piso com placas de concreto rejuntadas com grama. Ainda está prevista a retirada do deck de madeira existente em frente à entrada principal e revitalização desse ponto. 

Visitas
O Jardim Botânico da UFJF funciona de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada até às 16h. A visita é gratuita e sem necessidade de agendamento, exceto para grupos escolares e ensaios fotográficos. Está localizado na Rua Coronel Almeida Novais s/nº, Bairro Santa Terezinha. Não há estacionamento próprio, e as duas linhas de ônibus com ponto próximo são as 111 e 112 – Santa Terezinha. Mais orientações estão disponíveis no site ufjf.br/jardimbotanico.

Outras informações
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