O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fala durante assinatura da medida provisória Brasil Soberano, no Palácio do Planalto. (Foto: José Cruz/Agência) Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, nesta quarta-feira, 13, a primeira parte do pacote de medidas para proteger empresas afetadas pela sobretaxa de 50% que atinge parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos. A principal medida do pacote, batizado de Brasil Soberano, é uma linha de crédito de 30 bilhões, além de adiar a cobrança de tributos por até dois meses de produtos perecíveis como pescados, manga e mel.

Para entender sobre a tarifa e suas consequências, separamos cinco pontos principais explicados pelo professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Weslem Rodrigues Faria

O que é o tarifaço?

A tarifa de exportação sobre produtos é uma medida anunciada pelo atual governo norte-americano impactando diversos países com a intenção de proteger sua economia internamente. Diversos países como Síria, Suíça e Canadá foram impactados. No caso brasileiro, a medida inclui uma tarifa de 50% sobre itens como café, carne bovina e frutas. 

A medida foi anunciada inicialmente para todos os produtos brasileiros, mas pouco antes do início da cobrança, Trump assinou uma ordem executiva adiando a aplicação para 6 de agosto e retirando da lista 694 produtos, como laranja, minérios e alguns equipamentos industriais. Segundo o governo norte-americano, a exclusão ocorreu para preservar setores estratégicos americanos e evitar impactos significativos em cadeias de produção domésticas que dependem desses insumos importados.

O governo brasileiro já está adotando medidas para reduzir os impactos do tarifaço, com foco nos setores mais impactados.

Como funciona a tarifa?

A taxa atua como um imposto adicional sobre os produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, o que aumenta o preço final pago pelos consumidores americanos. Mesmo tendo excluído quase 700 itens da medida, produtos importantes para a economia brasileira como café, carne bovina e ovos permanecem sujeitos à tarifa de 50%. Isso significa que, ao entrar nos Estados Unidos, o valor original destes itens recebe um acréscimo equivalente à metade do seu preço, encarecendo-os para o consumidor final, podendo até mesmo inviabilizar sua comercialização. 

“Os produtos ficam mais caros para o consumidor americano, e a forma que o Trump fala em entrevistas e em suas redes dá a entender que o Brasil é que está pagando por isso, o que engana a população americana”, adverte o professor de Economia Weslem Faria (Foto: Twin Alvarenga)

Quem será afetado?

O professor Weslem Faria ressalta que esse custo adicional não será pago diretamente pelos brasileiros, mas torna os produtos nacionais muito pouco atrativos para os norte-americanos. Assim, à medida que os preços aumentam, os importadores nos EUA tendem a substituir produtos brasileiros por mercadorias de outros países. Segundo Faria, os principais impactos do tarifaço atingem diretamente os exportadores brasileiros dos produtos listados e, indiretamente, toda uma cadeia de produção e logística. “Os produtos ficam mais caros para o consumidor americano, e a forma que o Trump fala em entrevistas e em suas redes dá a entender que o Brasil é que está pagando por isso, o que engana a população americana. Na verdade, quem paga a tarifa de importação é quem compra o produto”, reforça o pesquisador.

Por outro lado, a queda das exportações devido ao tarifaço pode beneficiar o mercado nacional brasileiro. Isso porque o aumento da oferta interna desses itens pode reduzir os preços para o consumidor a curto e médio prazo. Para Faria, os exportadores também podem usar esse momento para buscar novos mercados externos, o que já está acontecendo.

“Os produtos ficam mais caros para o consumidor americano, e a forma que o Trump fala em entrevistas e em suas redes dá a entender que o Brasil é que está pagando por isso, o que engana a população americana. Na verdade, quem paga a tarifa de importação é quem compra o produto”, Weslem Faria

Motivações do presidente americano

O professor destaca que uma das motivações de Donald Trump para impor tarifas sobre parceiros comerciais é o cumprimento de promessas eleitorais voltadas à proteção e ao estímulo da economia americana, especialmente de setores específicos da indústria, como o siderúrgico.

Ele acrescenta que, no contexto brasileiro, há também razões de ordem política. Em relação ao julgamento de Bolsonaro e as medidas do Supremo Tribunal Federal, ele afirma: “É uma questão de tentar fazer dominar a sua ideologia no entorno do globo e aqui na América do Sul. Para eles é importante, acredito que seja a visão do Trump, ter o domínio na América toda”.

Faria lembra que o Brasil já enfrentou disputas comerciais com outros países no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas ressalta que a postura de Trump é inédita.

Posicionamento do governo brasileiro

O governo brasileiro já está adotando medidas para reduzir os impactos do tarifaço, com foco nos setores mais impactados. Faria destaca que esse pacote é fundamental para prospecção de novos mercados, e evita que empreendimentos cessem suas atividades. 

O professor afirma que os EUA não são o principal parceiro comercial do Brasil, nem nas exportações, nem nas importações. Assim, é possível direcionar parte desses produtos para outros mercados ou ofertá-los internamente, minimizando os efeitos sobre a população. 

Em sua avaliação, o posicionamento brasileiro tem sido adequado: não houve retaliação imediata, e o país buscou insistentemente o diálogo com autoridades americanas. Ele observa que o Executivo não poderia recuar totalmente, já que o tema relacionado ao julgamento de Bolsonaro envolve o Judiciário.