“Falar da trajetória acadêmica do professor Saulo é falar do Núcleo de História e Filosofia da Psicologia, do acervo bibliográfico que esse núcleo hoje preserva. A criação do Nuhfip e a chegada desse acervo ao Brasil representam conquistas notáveis para o Departamento de Psicologia e para a comunidade acadêmica da UFJF. Mas, acima de tudo, são reflexos marcantes da vida profissional e pessoal do Saulo.” Com essas palavras, Monalisa Louro, esposa do professor Saulo de Freitas Araújo, homenageou o pesquisador durante cerimônia in memoriam, realizada na última terça-feira, 17, no Departamento de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas (ICH).
O evento contou com a presença de colegas, de estudantes e do vice-reitor da UFJF, Telmo Ronzani, para oficializar a renomeação da sala que abriga o Núcleo de História e Filosofia da Psicologia Wilhelm Wundt. A partir de agora, o espaço será conhecido como Sala Professor Saulo de Freitas Araújo, em reconhecimento ao legado deixado pelo docente.
“Eu aproveitei muito pouco do que poderia do Saulo. Queria ter mais, desfrutar mais momentos com ele. Ele faz muita falta no departamento, porque sempre foi uma voz de consenso, alguém que nos unia e era essencial para a harmonia que o nosso departamento tanto precisa. Sua capacidade acadêmica e intelectual dispensa comentários, mas quero ressaltar essa parte humana”, destacou Ronzani, que também integra o Departamento de Psicologia.
O espaço abriga a biblioteca particular do renomado historiador da Psicologia, o norte-americano William Woodward, da University of New Hampshire, pioneiro da “Historiografia Crítica da Psicologia”. O acervo foi inaugurado em 7 de junho de 2013, fruto da iniciativa de Araújo, que integrou as obras ao Nuhfip, enriquecendo significativamente o núcleo.
Com o apoio institucional do então pró-reitor de Planejamento e Gestão, Alexandre Zanini, cerca de 2.100 obras raras e de difícil acesso no Brasil foram doadas, consolidando o espaço como referência para estudos na área. Desde a criação da biblioteca, Araújo atuou como seu administrador e coordenou o Nuhfip de 2010 a 2024, contribuindo diretamente para o desenvolvimento acadêmico e científico da UFJF.
O diretor do Departamento de Psicologia, professor Antenor Rodrigues, relembrou, emocionado, a trajetória de Araújo e sua marcante contribuição para o curso. “Ele teve uma carreira tão brilhante e ao mesmo tempo tão breve. É como se ele soubesse que ia ter um destino curto, porque correu tanto e produziu tanto. Para nós, como colegas, foi uma alegria conviver com ele, de forma que essa homenagem é mais que justa.”
A professora Mariza Cosenza, uma das idealizadoras da homenagem, comenta que a amizade com o pesquisador começou ainda na graduação, quando ela era sua professora. “Aprendi muito com o equilíbrio do Saulo, e às vezes com sua rabugice. Quando finalmente estava tudo pronto para conhecer a biblioteca que ele havia idealizado, era como se fosse um espaço não apenas dele, mas de todos. Gostaria que esse espaço continuasse a viver como uma memória ativa, não apenas como um registro estático. Que fosse ocupado por alunos para estudos em grupo e que todos os que fizeram parte do Núcleo de Historiografia da Psicologia possam voltar aqui, compartilhando ideias e poesia.”
Legado
Com 24 anos dedicados ao magistério superior, o professor Saulo de Araújo construiu uma carreira brilhante, interrompida precocemente por sua morte em 2024. Formado em Psicologia pela UFJF em 1997, ingressou como professor efetivo do Departamento de Psicologia em 2000, após concluir o mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Araújo obteve o doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com a Universität Leipzig, além de realizar estágio de pós-doutorado na Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha. Entre 2016 e 2017, foi professor na University of West Georgia, nos Estados Unidos. Reconhecido por sua contribuição à área, publicou oito livros e cerca de 70 artigos científicos. Participou de bancas de mestrado e doutorado em diversas instituições brasileiras e recebeu prêmios como o Fellow of the American Psychological Association (2018), o Prêmio Carolina Martuscelli Bori (2015), em parceria com Cíntia Fernandes Marcellos, e o Early Career Award da American Psychological Association (Divisão 26), em 2013.
Diante deste histórico, ele é um dos homenageados in memoriam neste ano com a medalha Juscelino Kubitschek, a mais alta honraria concedida pela Universidade. A cerimônia aconteceu nesta quarta-feira, 18. A indicação foi feita pelo Instituto de Ciências Humanas (ICH). “Saulo transmitia amizade e simpatia de forma natural. Para nós, que tivemos o privilégio de trabalhar e conviver com ele, a perda é profundamente sentida. Na última reunião do Conselho de Unidade, decidimos por unanimidade conceder a medalha como forma de reconhecer sua contribuição como servidor, pesquisador, colega e amigo. Todas as homenagens que pudermos prestar a ele serão sempre merecidas.” comenta o diretor do ICH, Fernando Perlatto.