Já pensou em tirar fotos sem usar nenhuma câmera? Pois é exatamente essa a proposta que a pesquisadora Bárbara Almeida, do Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), levou para os alunos do 7º ano da Escola Municipal José Calil Ahouagi, na terça-feira, 4.
A cientista foi à escola para conversar com os estudantes sobre a relação da química com a fotografia e levou para a turma a experiência de fazer fotos no papel. O encontro faz parte do projeto de extensão “A ciência que fazemos”, da UFJF, que procura aproximar a pesquisa acadêmica do cotidiano e desmistificar a imagem estereotipada do cientista na sociedade.
Fotografia com papel transparente?
Em uma rápida explicação, Bárbara fala sobre a pesquisa científica na sociedade. “Lá na Universidade a gente também faz ciência. Com nossas pesquisas, tentamos descobrir as coisas para melhorar o mundo, ajudar as pessoas, e adquirir novos conhecimentos”, comenta. “Na Universidade, eu resolvi fazer pesquisa com ciência e fotografia. Mas não é a fotografia digital, feita no celular. É a fotografia no papel, que surgiu na década de 1840, quando descobriram como registrar as imagens no papel”, desenvolve a pesquisadora.
O processo para produzir essas fotografias é detalhado: “Os cientistas descobriram duas substâncias que mudavam de cor quando entravam em contato com a luz. Passavam essas substâncias em um papel e colocavam para secar”, inicia Bárbara. “Em outro papel branco, eles desenhavam e passavam cera, para que o papel ficasse transparente. Ao fim, posicionavam a imagem transparente acima da folha com as substâncias e as levavam ao sol”, conclui.
Com a reação das substâncias químicas, a parte transparente muda de cor e os lugares com algum desenho mantêm sua cor anterior, por não terem tido contato direto com o sol. Após alguns minutos, é necessário apenas lavar a fotografia já pronta.
Diferentes substâncias formam diferentes cores
Ao mostrar fotografias em diferentes cores para a turma, Bárbara explica que, antes de terem diferentes cores, todas eram azuis. “Depois que todas ficaram azuis, fui mergulhando elas em diferentes substâncias e elas foram reagindo e mudando de cor”, declara. A cientista explica que já usou bicarbonato de sódio, chá, vinho e água de feijão para ter fotos em diferentes tons de cores.
“E se você mergulhar só metade da foto?” – surge a pergunta no meio da classe. “Então a fotografia vai ficar metade azul e metade da outra cor, dependendo da substância”, esclarece a cientista.
Fotografia com plantas
Para promover uma dinâmica com os alunos, a pesquisadora sugere que a turma se divida em duas partes. Com a orientação dos bolsistas do projeto de extensão “Química, fotografia e arte”, Pedro Bicalho, estudante do Curso de Química, e Rodrigo Pedretti, do Curso de Artes Visuais do Instituto de Artes e Design (IAD), os alunos acompanham o processo de cianotipia acontecendo. Depois de passar as duas substâncias no papel, é hora de colocar a imagem desejada por cima.
Nesse caso, foram usadas pequenas plantas e folhas para comporem as imagens que seriam criadas a partir das escolhas dos alunos. Após pressionar os papéis e levar ao sol, a reação é instantânea: a folha se torna imediatamente azul e os alunos se reúnem em volta para observar o fenômeno.
Sophia Almeida, uma das alunas da turma, ao acompanhar o processo, repara uma mudança acontecer e logo indaga: “por que a folha que estava azul ficou esbranquiçada?”. “Esse processo que deixa a folha branca se chama solarização. Essa substância azul que está se formando se chama azul da Prússia. Mas se ela tomar muito sol, forma uma outra mais branca, que se chama branco da Prússia”, esclarece a cientista. “Essa substância branca não é estável, quando você molha ela volta ao azul da Prússia”.
Depois de aproximadamente dez minutos, Bárbara retorna à sala de aula com os alunos para o passo final do experimento. Com as imagens de volta na sombra, os papéis são banhados na água e revelam a fotografia final, com as silhuetas das plantas usadas em branco e o restante da imagem em azul.
A Universidade como futuro próximo
“Essas visitas levam aos alunos a possibilidade de sonhar”, revela a professora de ciências Letícia Stephan Tavares, parceira do projeto desde 2019. “Além de discutir a ciência de forma agradável, esses encontros também podem dar uma perspectiva de futuro”, reflete.