A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) teve 27 projetos de pesquisas contemplados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por meio da Chamada Universal CNPq/MCTI Nº 10/2023. No total, R$ 1.798.231,00 foi destinado a projetos de pesquisadores da instituição, parte dos R$ 300 milhões de recursos globais do edital.

Os trabalhos selecionados pertencem às duas categorias da chamada, sendo 15 na Faixa A, para grupos emergentes e projetos de até R$ 165 mil; e 10 na Faixa B, destinada a grupos consolidados com financiamentos de até R$ 275 mil. O financiamento, de acordo com a própria agência de fomento, visa apoiar projetos de pesquisa que contribuam significativamente para o desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação no país.

Pesquisa sobre eosinófilos feita em parceria com Harvard

A pesquisadora Rossana Melo em frente à Escola de Saúde Pública da Harvard (Foto: Divulgação)

Dentre os projetos da UFJF aprovados na chamada, está a iniciativa liderada pela professora Rossana Melo, do Departamento de Biologia. O projeto, desenvolvido em parceria com a Universidade de Harvard (EUA), recebeu um aporte de R$ 226.019,00 e concentra-se no estudo dos eosinófilos – células essenciais do sistema imune inato – e seu papel na resposta à infecção pelo SARS-CoV-2, o vírus causador da Covid-19. “O grupo de pesquisa tem investigado, há 20 anos, diversos mecanismos que regulam as funções dos eosinófilos na saúde e na doença”, pontua a docente.

“Nós iremos estudar como essas células reagem e o que elas produzem, incluindo se têm atividade de resistência ao vírus Sars-Cov-2. Dessa forma, forneceremos informações que serão essenciais para o desenvolvimento de terapias e para avançar no tratamento da doença. Isso é o que chamamos de pesquisa básica”, elucida Melo.

Além da própria UFJF e de Harvard, a equipe do projeto é composta por pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fluminense (UFF), bem como da Akita, universidade localizada no Japão.

Estigma e saúde mental: enfocando familiares de usuários de drogas

“Há mais de uma década, nos dedicamos a estudos sobre estigma e uso de drogas, e agora focamos nos familiares”, explica Ronzani (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Outro projeto aprovado na Faixa B é o “Estigma de Cortesia e Saúde Mental entre Familiares de Usuários de Substâncias Psicoativas: Estudo Multicêntrico Internacional”. Sob a coordenação do professor Telmo Ronzani, pesquisador do Departamento de Psicologia e próximo vice-reitor da UFJF, o estudo, que recebeu um financiamento de R$ 105.750,00, tem como foco melhorar estratégias de cuidado e analisar o impacto do estigma social na saúde mental destes familiares.

A pesquisa é uma colaboração multidisciplinar que inclui docentes e estudantes de graduação e pós-graduação da UFJF, assim como especialistas da Universidade Católica de Petrópolis (UCP) e da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). Além disso, conta com a participação de pesquisadores de instituições da América Latina e da Europa. “Há mais de uma década, nos dedicamos a estudos sobre estigma e uso de drogas, e agora focamos nos familiares, uma oportunidade de aprofundar e aprimorar nossa linha de pesquisa”, destaca Ronzani.

“A motivação para inscrever o projeto na chamada advém da relevância do tema para o avanço no conhecimento científico e a relevância social”, resume o pesquisador. “Ser contemplado também fortalece nossa rede internacional já estabelecida com a participação de diferentes pesquisadores nacionais e internacionais, consolidando a liderança internacional da UFJF na área.”

Segurança em edificações e resistência em altas temperaturas

O estudo do comportamento do concreto e dos revestimentos de construções em situações de alta temperatura, particularmente em casos de incêndio, é o que o grupo liderado pela professora Júlia Mendes tem como objetivo. O projeto intitulado “Investigação do Comportamento Termomecânico de Matrizes Cimentícias sob Altas Temperaturas – Ensaios Experimentais e Modelagem Computacional” une uma equipe de cientistas, que é 80% composta por mulheres, da Faculdade de Engenharia da UFJF e da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). O estudo foi contemplado com R$ 64.456,00 na Faixa A da chamada de financiamento.

O objetivo, segundo Júlia Mendes, é aprimorar a resistência ao fogo em estruturas de concreto armado, focando em melhorias no revestimento (Foto: Divulgação)

Mendes pontua que será possível adquirir softwares, sensores e materiais necessários para a execução do projeto. Os recursos também contribuirão para estruturar o Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFJF, possibilitando futuras pesquisas e o desenvolvimento de experimentos com protótipos em escala real. A pesquisadora destaca a visibilidade e o alcance que essa conquista proporciona para um tema – a segurança das edificações no Brasil – que, segundo ela, é frequentemente subestimado.

A pesquisa tem um impacto direto tanto na salvaguarda de vidas quanto na preservação do patrimônio cultural e histórico. “Queremos identificar oportunidades de melhoria na resistência ao incêndio em estruturas de concreto armado a partir do revestimento (que é fácil de mudar), não da estrutura (que é permanente e difícil de alterar)”, explica Mendes.

Casos de incêndios como o da Torre Grenfell, na cidade de Londres em 2017, que resultou na morte de 72 pessoas, são exemplos de como materiais inflamáveis podem agravar as consequências de um incêndio. A BBC News, em 2019, ressaltou o papel dos painéis de alumínio e polietileno no revestimento externo do edifício. A professora destaca que, além de vidas perdidas, casos como o do Museu Nacional no Rio de Janeiro, em 2018, causam danos históricos e irreparáveis.

Nutrição e diabetes: desenvolvimento de estratégias educativas efetivas

Fábio Carbogim detalha que o projeto visa criar métodos para avaliar estratégias nutricionais para diabéticos (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

O professor Fábio Carbogim, da Faculdade de Enfermagem da UFJF, lidera a iniciativa que recebeu o financiamento de R$ 60.320,00, inscrito na Faixa A. O projeto se deu a partir da pesquisa de doutorado do nutricionista Iury Souza e tem como objetivo desenvolver, validar e aplicar uma escala de avaliação da efetividade de estratégias educativas de atenção nutricional a pacientes com diabetes na atenção básica.

“As expectativas são que o trabalho gere mecanismos que permitam aos enfermeiros e outros profissionais de saúde avaliarem diversificadas estratégias educativas visando a adesão nutricional do diabético”, projeta Carbogim.

“Melhorias gerais no estilo de vida, incluindo hábitos alimentares e de exercícios, podem ser significativas, mesmo que as reduções de peso alcançadas sejam apenas modestas. Os resultados têm implicações importantes para a prevenção do diabetes baseada em cuidados primários de saúde. Logo, a escala poderá avaliar e indicar as estratégias educativas de atenção nutricional mais efetivas.” Para o docente, o montante recebido pelo projeto colaborará para o fortalecimento de estudos multicêntricos nacionais e internacionais.

Outras informações:

Chamada Universal CNPq/MCTI Nº 10/2023