Trajetória do ex-ministro da Educação é ligada aos primórdios da Universidade (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Amigos e familiares do ex-ministro da Educação e do Desporto e professor da UFJF Murílio de Avellar Hingel (1933-2023) se reuniram em cerimônia póstuma em sua homenagem realizada na tarde desta terça-feira, 10, no Memorial da República Presidente Itamar Franco. O corpo de Hingel foi cremado na França, onde faleceu no último dia 4. Representantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) prestaram seus tributos ao político e educador. 

O reitor da UFJF, Marcus David, destacou que Hingel, ao conhecer um Brasil em que o acesso à educação era um privilégio de poucos, não se conformou com o que via e lutou pela democratização do acesso à educação no país. 

“Um homem que se permitiu conhecer de perto a realidade dos brasileiros e suas mazelas. Especialmente as dos educadores e educandos. Murílio defendeu durante toda a sua vida, prioridade para as populações necessitadas. Com os melhores professores, escolas, bibliotecas”, afirmou David.

Para Marcus David, Hingel “se permitiu conhecer de perto a realidade dos brasileiros e suas mazelas” (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

O reitor também destacou a associação da trajetória de Murílio Hingel com a UFJF, antes mesmo da criação da Universidade. Marcus David lembrou a atuação de Hingel como diretor da antiga Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile), posteriormente incorporada pela UFJF, seu papel como mentor do processo de aquisição do prédio que abrigava a Fafile (onde hoje está sediada a Escola de Artes Pró-Música) e o trabalho de idealização do Colégio de Aplicação João XXIII. 

Ainda de acordo com Marcus David, para Murílio Hingel, a educação e a cultura deveriam estar em mútua conexão. O reitor enumerou ações realizadas por Hingel no Ministério da Educação e do Desporto, que tiveram repercussão na cultura brasileira e na UFJF. 

“Em especial, citamos a aquisição e o traslado para o Brasil, da coleção de artes plásticas de Murilo Mendes, que deu origem ao Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm). Ainda como ministro, sua atuação foi fundamental na viabilização da reforma e modernização do Teatro do Forum da Cultura. Decisiva foi sua contribuição para a aquisição do Cine-Theatro Central, com as obras de reforma e restauro, fundamentais para integrá-lo a uma nova fase, sob a ética da UFJF.”

Também presente na cerimônia, a prefeita de Juiz de Fora, Margarida Salomão, relembrou sua relação pessoal com Murílio Hingel, de quem foi aluna na Escola Estadual Sebastião Patrus de Sousa. “Foi um dos melhores professores que eu tive na minha vida”, enalteceu. 

Prefeita Margarida Salomão, sobre Hingel: “Um dos melhores professores que tive na minha vida” (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

A prefeita relembrou a atuação de Hingel como diretor da Faculdade de Educação, após a divisão da Fafile no antigo Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) e na Faculdade de Educação. Na época, o país vivia sob a Ditadura Militar (1964-1985). 

“O quanto ele foi corajoso, resistente e democrático naquele tempo. Mais tarde nos reencontramos ao participarmos da primeira administração de Tarcísio Delgado como prefeito de Juiz de Fora (1983-1988), onde, naturalmente, pontificava, como um grande gestor que era”, destacou.

Defesa da universidade pública

Outro legado de Murílio Hingel destacado na cerimônia, foi seu trabalho em prol das universidades públicas no Ministério da Educação e do Desporto. A prefeita Margarida Salomão recordou que Hingel era visto como “um ministro que dialogava com os reitores e levava adiante as propostas nascidas nas universidades”.

Em nome da família de Murílio Hingel, a professora aposentada da UFJF, Maria José Féres, agradeceu aos amigos e admiradores presentes. A docente trabalhou com Hingel nas passagens do educador pelo MEC e pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Maria José lembrou da “luta” por recursos para as universidades no período do ministério. 

“Vi a luta para levar às universidades públicas, os recursos que eram necessários para que elas pudessem se manter e se expandir. Todas viviam uma situação muito difícil. Isso foi feito tanto na base orçamentária, como também com projetos – incentivando graduação, licenciatura, extensão.”

“Vi a luta por recursos para as universidades públicas”, destacou a professora Maria José Féres (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

Em menção ao local em que a cerimônia foi realizada – o Memorial Itamar Franco – Maria José salientou que o espaço é “o lugar mais adequado para fazermos essa homenagem a Murílio”, que chefiou as pastas de Educação nas gestões de Itamar Franco como prefeito de Juiz de Fora (1967-1971/1973-1974), governador de Minas Gerais (1999-2003) e presidente da República (1992-1995). “Mais ligação com Itamar Franco é impossível”, destacou. 

A cerimônia contou, ainda, com a presença do padre Geraldo Dondici, que fez uma oração junto aos presentes. A professora aposentada do Colégio de Aplicação João XXIII Lucy Brandão, companheira de Murílio Hingel por toda a sua vida, recebeu os convidados e suas manifestações de afeto. O ex-reitor da UFJF Renê Matos e o ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado também compareceram à cerimônia. 

Saiba mais: Nota de pesar da UFJF pelo falecimento do ex-ministro Murílio Hingel.