Professores trabalham com os impactos na saúde a partir das mudanças climáticas (Foto de Malachi Brooks na Unsplash)

Professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) participam do 13º Simpósio Brasil-Alemanha em Fronteiras da Ciência e Tecnologia (Bragfost), que acontece entre esta quinta-feira, 21, e domingo, 24. O encontro é realizado na cidade de Bremen, na Alemanha, com o seguinte tema: “Mudanças climáticas e os desafios para um desenvolvimento sustentável”. Aproximadamente 60 pesquisadores brasileiros e alemães integram as atividades do encontro, organizado em conjunto pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação Alexander von Humboldt, vinculada ao governo alemão. 

A UFJF será representada pelos pesquisadores Thiago Nascimento, do Departamento de Enfermagem Básica, e Julliane Dutra Medeiros, do Departamento de Biologia. Eles integram um conjunto de 60 cientistas brasileiros e alemães, que atuam em universidades, instituições de pesquisa e na indústria. 

O simpósio é composto por uma série de conferências interdisciplinares. Os pesquisadores têm a oportunidade de apresentar seus trabalhos, o que pode criar uma transferência de conhecimento e métodos, além de futuras colaborações internacionais. Apenas professores convidados participam do evento.

Efeitos das mudanças climáticas na saúde

Segundo Thiago, alterações climáticas têm ocasionado na expansão tanto dos arbovírus como dengue quanto dos mosquitos que os transmitem (Foto: Alexandre Dornelas)

De acordo com o professor Thiago Nascimento, o convite para participar do simpósio surgiu a partir de sua atuação junto ao Laboratório de Biologia Molecular da Faculdade de Farmácia. O docente irá apresentar resultados de pesquisa com o tema “Mudanças climáticas e emergência viral: vigilância sobre as infecções por arbovírus em uma cidade brasileira”. 

O estudo tem como objetivo avaliar o impacto e a dinâmica da cocirculação dos vírus da dengue, chikungunya e zika vírus e sua relação com as condições climáticas. As análises vêm sendo feitas desde junho de 2023, com o uso de amostras enviadas ao Laboratório de Biologia Molecular. 

As três doenças são transmitidas pela fêmea do mosquito Aedes aegypti. Um vetor secundário é o mosquito da espécie Aedes albopictus. As mudanças nos padrões de temperatura e precipitação podem gerar condições mais favoráveis para a transmissão dos vírus e permitir a reemergência das doenças.  

“Estudos têm demonstrado que as alterações climáticas estão contribuindo para o aumento das temperaturas globais e padrões alterados de precipitação, ocasionando a expansão tanto dos arbovírus quanto dos mosquitos que os transmitem. Esse fator contribui para um cenário de transmissão do vírus em regiões subtropicais e temperadas e que merece ser estudado para saber quais regiões do mundo estão em risco hoje e também no futuro”, avalia Nascimento.

Já a professora Julliane Medeiros irá apresentar resultados de pesquisa com o título “Explorando genomas bacterianos e resistência antimicrobiana: uma perspectiva de Saúde Única”. Assim como as alterações climáticas, a resistência de bactérias, fungos, vírus e parasitas à antimicrobianos, como os antibióticos, é mais um desafio para a saúde mundial, dificultando o tratamento de infecções.

A resistência antimicrobiana é um fenômeno natural impulsionado pela competição microbiana por recursos dentro dos ecossistemas. Mas a utilização excessiva de antimicrobianos na medicina humana, na veterinária e na cadeia de produção alimentar, aliada à poluição dos solos e das águas, contribui para o fenômeno. Esse contexto faz com que genes de resistência foram transferidos para diversas espécies de microrganismos, especialmente para bactérias. 

Julliane Medeiros aborda o conceito de Saúde Única, relacionando, por exemplo, a poluição com a resistência microbiana 

Ainda de acordo com o texto, estudos sobre o tema têm sido realizados sob a perspectiva de Saúde Única (One Health). Esta abordagem considera que as saúdes humana, animal e do ecossistema estão ligadas e que são necessárias estratégias integradas para compreender e enfrentar os desafios relativos à saúde. 

“Nosso grupo de pesquisa, que envolve diversos outros professores da UFJF, da área de microbiologia e ecologia, visa estudar o fenômeno da resistência através de análises do genoma de bactérias multirresistentes isoladas de diferentes fontes – por exemplo, alimentos”, explica a docente. 

UFJF com “um passo à frente”

Na avaliação de Julliane Medeiros, a participação no Bragfost é de grande importância para a internacionalização da UFJF, ao conectar pesquisadores de diferentes países e instituições. Para a professora, a possibilidade do estabelecimento de colaborações com pesquisadores brasileiros e alemães que são referências em suas áreas de atuação pode abrir portas para os alunos da Universidade em instituições estrangeiras. 

“As mudanças climáticas e os desafios para o desenvolvimento sustentável são assuntos que serão discutidos por pesquisadores de diferentes campos da ciência. A UFJF ter representatividade nesse tipo de discussão nos coloca um passo à frente.” 

O professor Thiago Nascimento destaca que o evento atende aos objetivos globais de sustentabilidade previstos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e, além disso, “busca a transversalidade, conectando pesquisadores de diferentes campos da ciência e da tecnologia”.