Em fevereiro de 2021, o município de Carangola, em Minas Gerais, foi atingido por uma das maiores enchentes já registradas, que deixou mais de mil pessoas desalojadas, 35 desabrigadas e com abastecimento de água reduzido pela metade. Em busca de mitigar esse problema, que historicamente afeta a região, foi desenvolvido o projeto de pesquisa e desenvolvimento “Apoio técnico para pesquisa e desenvolvimento visando a definição da melhor solução de controle de inundações no município de Carangola”.
A iniciativa é fruto de um convênio firmado no final de 2021 entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Prefeitura Municipal de Carangola, que também visa promover a conscientização pública sobre a conservação dos recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável da área. O projeto foi apresentado aos gestores locais em agosto deste ano durante audiência pública na cidade, sendo que o estudo e o desenvolvimento de toda a pesquisa foram realizados ao longo de 2022. O encontro contou com representantes da comunidade e municípios vizinhos, líderes governamentais, promotores públicos e especialistas em meio ambiente do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam).
Os pesquisadores da UFJF apresentaram as medidas que podem ser implementadas e o respectivo efeito e eficiência de cada controle potencial. De acordo com o coordenador da iniciativa, o professor do Departamento de Engenharia Ambiental, Celso Bandeira, a partir desse conhecimento técnico, a escolha do procedimento a ser seguido vai depender das prioridades e disponibilidade de recursos do órgão público municipal. Também estiveram envolvidos alunos de graduação e pós-graduação da Faculdade de Engenharia da UFJF e membros da Prefeitura de Carangola.
Dentre as possíveis intervenções a serem adotadas para controlar as inundações, Bandeira destaca que a construção de reservatórios potenciais de amortecimento de cheias à montante da cidade, atuando na retenção e atenuação do escoamento superficial, é um método eficiente para solucionar o problema.
“Os resultados alcançados permitem a realização do planejamento de ações e recursos necessários, visando a proteção da população da cidade de Carangola, em relação aos eventos de inundações, que são recorrentes lá”, explica. O engenheiro e assessor ambiental da Prefeitura de Carangola, Luís Gustavo Abdo Gante, acredita que “o impacto da pesquisa é extremamente positivo, uma vez que traz uma série de respostas, com embasamento técnico, ao poder público e a toda população”.
Controle de inundações
A partir de estudos hidrológicos e hidrodinâmicos, utilizando ferramentas de modelagem matemática, avaliação de infraestruturas e padrões climáticos, os pesquisadores apresentaram diferentes alternativas e possibilidades para o controle de inundações e proteção da população na cidade de Carangola. Inicialmente, houve o levantamento de bases de dados físicos e hidrológicos, da Bacia Hidrográfica do Rio Carangola, bem como a realização de vistorias no local.
O professor explica que, após o levantamento de dados e o entendimento das condições locais, foi realizada a parametrização e o ajuste de modelos matemáticos para reproduzir uma situação real, atual, observada e registrada. A partir do ajuste do modelo à situação, foi possível realizar simulações e prognósticos para avaliar qual seria a eficiência de diferentes medidas de controle, considerando diferentes cenários possíveis.
O coordenador do projeto destaca a construção de reservatórios como um método eficaz para solucionar o problema, que assola recorrentemente o município de Carangola. “Os estudos mostraram que o amortecimento de cheias pode chegar à ordem de 90%, dependendo das condições dos reservatórios de montante: foram feitas diferentes possibilidades de combinações de reservatórios. Outra alternativa é a construção de diques e polderes para contenção da onda de cheias nas habitações das áreas de várzeas, que são inundadas devido ao transbordamento da calha do Rio Carangola, em eventos de cheias”, informa Bandeira.
O projeto demonstra ainda que é importante a conscientização e participação conjunta da população e dos municípios quanto à Bacia Hidrográfica do Rio Carangola como um todo. “É muito importante conscientizar a comunidade e desenvolver a perspectiva de ações sobre a área da Bacia, onde todas as cidades no seu interior serão beneficiadas. Essa forma de gestão integrada é a melhor solução para o controle das inundações nessa região”, salienta Bandeira.
O assessor ambiental do município enxerga os benefícios do convênio para a população carangolense: “A parceria foi fundamental para obtermos um panorama da ocorrência das inundações do Rio Carangola, isto é, a caracterização da Bacia, a intensidade das chuvas, a dinâmica das cheias, além da definição da melhor solução de controle de inundações no município.”
A colaboração da comunidade local também é necessária para alcançar metas ainda mais eficientes. “Os moradores de Carangola podem ajudar ao realizar o descarte regular de resíduos sólidos, respeitar à legislação ambiental, em especial à que tange a ocupação de áreas marginais do cursos hídricos e áreas de riscos geológicos”, expõe Gante.
Ensino, pesquisa e extensão
Bandeira evidencia que diante do cenário atual de mudanças climáticas, em que as inundações nas áreas urbanas tendem a ficar mais frequentes e intensas, esse trabalho contribui para a evolução do conhecimento técnico para o enfrentamento e o controle de inundações. Além disso, é uma oportunidade de aprimorar a formação de alunos de graduação e pós-graduação, que podem vivenciar problemas práticos e reais da sua área de atuação, e promover uma inovação e evolução do conhecimento para controle de enchentes, considerando que foram gerados relatórios técnicos e publicação de artigos científicos em eventos nacionais.
O pesquisador argumenta que o estabelecimento de parcerias com prefeituras locais permite que o conhecimento acadêmico/técnico gerado nas Universidades chegue até a sociedade por meio de ações. No caso do projeto P&D, a população será beneficiada com a redução dos prejuízos causados pelas enchentes.
Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU
As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto de pesquisa citado nesta matéria se alinha aos ODS 6 (Água potável e saneamento), 11 (Cidades e comunidades sustentáveis) e 13 (Ação contra a mudança global do clima)