Comemorado nesta terça-feira, 22, o Dia do Folclore reforça a importância da cultura popular brasileira. A data, institucionalizada em 1965, recorda o registro mais antigo da palavra “folk-lore”, feito em 1846 pelo pesquisador William John Thoms. O termo é uma junção de folk, do inglês “povo”, e lore, que pode ser traduzido como “conhecimento” – portanto, o folclore pode ser entendido como o conhecimento popular ou, ainda, “aquilo que o povo faz”. Na cultura brasileira, o conceito vai muito além de personagens conhecidos, abrangendo festas típicas, danças, costumes e trajes.

Museu de Cultura Popular, localizado no Forum da Cultura (Foto: Forum da Cultura/UFJF)

Na zona da mata mineira, um marco no âmbito cultural aconteceu em 1963, antes mesmo do 22 de agosto ser nacionalmente reconhecido. Naquele ano, foi fundado o Departamento de Folclore do Centro de Estudos Sociológicos de Juiz de Fora. Motivado por ele, o professor Wilson de Lima Bastos, então presidente do centro, reuniu peças de artesanato popular por meio de viagens a campo e doações. Por fim, em março de 1975, a coleção do professor – à época, composta por cerca de 1.500 peças – foi transferida para o Forum da Cultura, com exposição permanente do acervo.

Mais de uma década depois, em setembro de 1987, as peças foram doadas à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), motivando o professor Antônio Henrique Weitzel a fundar, oficialmente, o Museu de Cultura Popular. Também foi Weitzel que iniciou o registro e o processo de tombamento histórico das peças, além de promover cursos, seminários e mostras por todo o Brasil, o que incentivou a doação de ainda mais peças para o museu. “Foi uma época de grande vibração no campo da cultura popular”, conta o professor.

O professor Weitzel (à esquerda) é fundamental na preservação e divulgação das tradições culturais populares (Foto: Forum da Cultura/UFJF)

Hoje, aos 91 anos, o folclorista compartilha que a essência das tradições folclóricas está enriquecida com saberes que escapam dos confins das salas de aula convencionais. Um exemplo ilustrativo mencionado por ele são as plantas medicinais, legados das gerações passadas que, através da sabedoria popular, desvendaram os princípios ativos subjacentes às folhas e flores, empregados no enfrentamento de vários tipos de enfermidades.

“Temos também as cantigas, as danças – como a festa junina, por exemplo, que é uma festividade folclórica, do povo. O folclore é funcional e espontâneo: essas são as características desse conjunto de costumes, tradições, lendas e narrativas”, define Weitzel. A relação dele com o tema vem da infância: neto de benzedeira, o professor conviveu com diversos costumes populares desde criança, assim como vários brasileiros. Além de atuar como coordenador do Museu de Cultura Popular por seis anos, entre 1987 a 1993, Weitzel também é autor de sete livros sobre folclore.

Mais de três mil peças em acervo

A sugestão de nomear o acervo como “Museu de Cultura Popular” veio do professor Edmilson de Almeida Pereira, pesquisador da UFJF, também conhecido nacionalmente por seu trabalho como poeta e escritor, recebendo o primeiro lugar no Prêmio São Paulo de Literatura em 2020, uma das mais prestigiosas premiações literárias do país. Uma vez batizado, a programação do museu foi incorporada aos eventos do Fórum da Cultura, incluindo mostras temáticas mensais que resgatam o trabalho do fundador do espaço.

Museu exibe exposição “Folclore: herança cultural” até 1º de setembro (Foto: Forum da Cultura/UFJF)

A riqueza do museu é evidenciada por uma coleção vasta que, atualmente, abrange mais de três mil itens, oferecendo aos curiosos e aos estudiosos um repertório eclético de artefatos de cultura popular, oriundos de coleções tanto nacionais quanto internacionais. A cerâmica, com ênfase na portuguesa, nordestina e mineira, figura ao lado de coleções de brinquedos populares mineiros, imagens religiosas, trançados, tecidos e presépios. No espaço, aberto e gratuito ao público, o folclore e a cultura são retratados através de ofícios, crenças e saberes.

Exposição “Folclore: herança cultural”

Até o dia 1º de setembro o Fórum da Cultura está com a exposição “Folclore: herança cultural”. Com o intuito de resgatar, apresentar e celebrar essa rica tapeçaria de mitos, crenças, contos populares, lendas, tradições e costumes, a mostra se desenha como um convite à imersão nas raízes da cultura brasileira. Nela, o público pode conferir representações de danças, estatuetas, jogos, serigrafias e representações de objetos incorporados no dia a dia do fazer popular.

A exposição conta com mais de quarenta peças confeccionadas com materiais como cerâmica, madeira, ferro e tecidos. Alguns itens são originários de diferentes localidades do país – por exemplo, São Luís, no Maranhão; Guaratinguetá e Taubaté, em São Paulo; Caruaru e Petrolina, em Pernambuco; Juiz de Fora e Pirapora, em Minas Gerais; e Salvador, na Bahia.

Entre os destaques da exposição, estão as cores vívidas e a alegria inerente ao Bumba meu boi, uma celebração que reúne devoção, festa, arte, crenças, mitos, música, teatro e artesanato; o Maracatu, com sua coreografia que simula a pompa da aristocracia; a Congada, uma expressão cultural e religiosa que conjuga canto coletivo, encenações e fé, reverenciando divindades de origem africana e/ou católica; e o Jongo, uma manifestação afro-brasileira que amalgama percussão de tambores, dança coletiva e elementos mágico-poéticos.

As visitações ocorrem de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

Coleção “Bumba meu boi”, originário de São Luis, Maranhão (Foto: Forum da Cultura/UFJF)

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Outras informações:
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306