É sempre encantador admirar as belezas que nascem da convergência entre o que vem da natureza e as mãos. Apresentar exemplares oriundos deste encontro é o objetivo da próxima exposição em cartaz na Galeria de Arte do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A mostra “Caminho”, dos artistas Rafael Monteiro e Caio Paro, traz ao público peças inéditas em madeira, confeccionadas de forma artesanal, através de técnicas de marcenaria tradicional, marchetaria e escultura. Os itens expostos expressam a filosofia de trabalho e o processo criativo da dupla, que compõe o Coletivo Malungo, com projetos que vão de mobiliário a esculturas e quadros.

A abertura, nesta terça-feira, dia 1º, às 18h30, contará com a presença dos artistas e do professor Ivan Santos, do Instituto de Artes e Design da UFJF. No encontro, os convidados falarão sobre suas trajetórias e criações, trocando experiências  e conhecimentos sobre design.

MATA VIVA, de Rafael Monteiro, usa diversas madeiras técnicas de marchetaria e marcenaria tradicional

A exposição conta com cerca de dez peças, entre elas, quadros em marchetaria, produzidos a partir das sobras da marcenaria, esculturas em madeira maciça e móveis, como os Bancos Touro, peças de design singular, criadas com madeiras reaproveitadas utilizando técnicas de marcenaria tradicional, encaixe e colagem. Outros itens utilitários como colheres, facas, tábuas e bandejas também integram a exposição. A mostra apresenta, ainda, os croquis do coletivo, evidenciando o desenho como primeira materialização do projeto e como ferramenta de concepção das obras.

Utilizando, principalmente, sobras de madeiras de construção e de demolição, materiais descartados e troncos de árvores caídas, o Coletivo Malungo se soma a um expressivo e essencial grupo de artistas que defende ser possível usufruir do meio ambiente de forma consciente e responsável. De acordo com Rafael Monteiro, “cada projeto é pensado aproveitando a qualidade e rigidez de madeiras antigas, sendo possível criar objetos duráveis, modernos e adequados ao mundo contemporâneo, numa produção artesanal e artística que prevê ou concebe utilização de todo tipo de madeira encontrada”.

Fugindo de modelos pré-concebidos e sorvendo-se de todas potencialidades da mente – e das mãos, é claro –, a dupla comprova que o processo de criar algo original é sempre mais trabalhoso, pede inspiração, doses de paciência, mas recompensa a todos com o privilégio do belo e da unicidade.

“Para nós, o ofício do artesão é de encurtar distâncias entre o desenho e a execução da peça, etapas que a partir da revolução industrial se afastaram e foram setorizadas pelo modelo fordista. A profissão do artífice soma conhecimentos teóricos e artísticos com os conhecimentos técnicos e práticos na produção de sua obra. Dessa forma é como se esse ofício fizesse o caminho de ida e volta entre peça finalizada e o desenho inicial e esse percurso também é parte criativa, pois as descobertas e sensações geradas no processo são parte do criar”, complementa Monteiro.

VELA, de Caio Paro, com madeiras braúna, goiabão e peroba rosa

O entalhar a madeira, as batidas com o formão, o ronronar das grossas, as estaladas dos martelos e até os barulhos das serras – todos esses elementos e outras diversas ferramentas compõem o processo de confecção das obras. É como o dançar de uma música em que apenas o artista e a madeira conhecem os passos.

Caio Paro explica que a criação das peças únicas parte de dois pontos. “O primeiro, a vontade de criar com as mãos, o segundo, a disponibilidade de matéria e ferramentas do atelier. O trabalho, que se torna íntimo com a madeira, nos faz buscar formas que estão além dos móveis. Peças corroídas trazem um desenho singular e curioso para nós, madeiras furadas, às vezes rachadas, criam formas por si só que nos trazem sensações e inspirações. A partir daí vem a concepção, a ideia e o desenho final do que vai ser criado”. Funcionalidade e segurança também são aspectos cuidadosamente pensados e executados pelos artesãos.

O coletivo vê o funcionamento de um atelier como um espaço cíclico e sustentável. Segundo Caio, “nada é perdido, tudo é aproveitado. O material bruto em sua forma original já é parte do desenho que está por vir, dele aproveitamos todas as suas qualidades, dureza, cor, brilho, textura, tudo é pensado para ser utilizado de alguma maneira”.

A exposição tem como objetivo realizar um compilado dessas produções que se relacionam de forma simbiótica, apresentando o caminho percorrido pelo coletivo até hoje. Busca também valorizar e resgatar o trabalho milenar com a madeira enquanto um ofício artístico, mostrando sua importância e inúmeras possibilidades de trabalho de forma sustentável e ecológica.

PANTERA, de Rafael Monteiro, em braúna e base em angelim pedra

“Caminho” segue em cartaz até o dia 18 de agosto, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.

Rafael Monteiro e Caio Paro foram artistas selecionadas pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2023, cujo resultado foi divulgado no dia 27 de fevereiro. 

Um dia de artesão no Forum

A fim de conectar, ainda mais, o público com as técnicas utilizadas em suas obras, Rafael e Caio oferecerão uma oficina gratuita de acabamento em madeira na sexta-feira, 11 de agosto, de 14h às 17h, no Forum da Cultura. 

Os participantes terão a oportunidade de entender melhor os diferentes tipos de acabamentos e suas finalidades, conhecer a preparação da madeira e os processos de aplicação de cada produto. Serão utilizados óleos, ceras, vernizes e tingidores, em várias espécies de madeira para fins de comparação. O curso fornecerá todos os materiais necessários.

Os interessados em participar deverão realizar um cadastro simples através do formulário presente no link a seguir: https://forms.gle/NPW8ujfib7H684HE6

As vagas são limitadas, voltadas para pessoas a partir de 16 anos e serão preenchidas seguindo a ordem de cadastro no formulário. Não é necessário ter experiência ou habilidades com trabalhos manuais para participar. 

Conhecendo o Coletivo Malungo

A Malungo é formada por dois amigos, artistas-arquitetos, que não concebiam a ideia de projetar espaços e ambientes sem estar inseridos também na execução das obras. Da tela do computador para a prancheta e dela para as ferramentas manuais e elétricas, abriu-se um mundo de possibilidades dentro do ofício da marcenaria.

A palavra malungo significa “companheiro” e vem do Quicongo, uma das línguas faladas no Congo. Ela foi escolhida pelos artistas para nomear o coletivo, enquanto assistiam a uma entrevista do compositor baiano Xangai. “Durante a entrevista, Xangai explica o significado do termo fazendo uma interessante analogia com a amizade dos bois-de-carro no contexto rural. Essa fala nos gerou uma identificação pelo sentido em si da palavra e por estar inserida nesse cenário do imaginário rural, que é uma de nossas linhas de pesquisa”, explica Rafael.

A mostra no Forum da Cultura trata-se da primeira exposição de um conjunto de peças do coletivo em um espaço voltado para arte. Entretanto, a dupla também já exibiu seus trabalhos em outros locais e feiras de Juiz de Fora. Eles contam inclusive com a obra “Capivara de Tróia”, uma escultura rolante de mais de 2 metros de comprimento, em exibição no Museu Ferroviário da cidade.

Mais sobre os artistas

Rafael Monteiro é arquiteto e urbanista graduado pela UFJF, trabalha com a elaboração de projetos arquitetônicos de bioconstrução, execução e acompanhamento de obras desde 2017. Neste mesmo ano criou o escritório compartilhado e espaço cultural Casario em São João Nepomuceno, revitalizando um antigo casarão da cidade com a ideia de valorizar a cultura local. Trabalhou com o grupo de arquitetos e bioconstrutores de Juiz de Fora Taba Bambu. Com o foco num pensamento ecológico e permacultural, atua na criação, no desenho e na produção de móveis em madeira e nas artes plásticas, utilizando sobras da construção civil.

Caio Paro também é arquiteto e urbanista formado pela UFJF, realizou diversos cursos de construção ecológica, estagiou em canteiros de obras de bioconstrução em Juiz de Fora e região e trabalhou como aprendiz na marcenaria Quadratto. Atua na elaboração de projetos arquitetônicos, design de móveis e na produção das peças na oficina.

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

Endereço e outras informações

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306