Dois filhotes de onça-pintada são registrados, em 2023, seguindo a mãe, em área onde circula a onça capturada no Jardim Botânico, em 2019 (Foto: Reprodução de vídeo/Projeto Carnívoros do Rio Doce)

Há exatos quatro anos, no dia 25 de abril de 2019, uma onça-pintada macho foi avistada no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Capturada 17 dias depois, o felino foi levado para nova área florestal, mais ampla e segura. A UFJF torna público nesta terça, 25, um vídeo em que aparecem dois filhotes de onça-pintada, gravado, em janeiro de 2023, pela equipe de monitoramento no Parque Estadual do Rio Doce, local próximo de onde a onça de Juiz de Fora foi introduzida.

Quando foi feito o vídeo, os filhotes estavam com cerca de um ou dois meses de idade. Mais um filhote, de outra fêmea, com idade estimada de dois anos, também foi registrado. As gravações são feitas por meio de armadilhas fotográficas, instaladas em árvores ou outros suportes, acionadas automaticamente por meio de sensores de calor e movimento.

Veja o vídeo em que dois filhotes de onça-pintada são registrados seguindo a mãe, em área onde circula atualmente a onça capturada no Jardim Botânico da UFJF, em 2019:

 

No entanto, não há como afirmar se os novos animais são frutos de reprodução do felino que circulou em Juiz de Fora, pois é necessário realizar testes genéticos, para verificar a correspondência de DNA, conforme explica o professor Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), um dos responsáveis pela captura, no Jardim Botânico, e coordenador de projeto de monitoramento de carnívoros de grande e médio porte, no Parque do Rio Doce, o “Carnívoros do Rio Doce – fase Onças do Rio Doce”.

Outro motivo que impede a identificação da paternidade a partir das imagens disponíveis, neste momento, é o fato de a onça que passou por Juiz de Fora, chamada de Juiz pela equipe do projeto, não ser o macho dominante no território, embora transite pela área onde está a fêmea. O macho Kadu, que comanda a região estudada, também circula no local. No total, a região do Parque possui 12 representantes da espécie, sendo 3 machos e 6 fêmeas, todos adultos, e 3 filhotes.

Parque do Rio Doce possui 12 exemplares de onça-pintada (Foto: Reprodução de vídeo/Projeto Carnívoros do Rio Doce)

“Continuamos monitorando os animais no Rio Doce. O Juiz tem sido registrado sim. Mas não temos como afirmar se já conseguiu reproduzir ou não. Teríamos que fazer análises de genética com animais capturados, e não estamos com essa demanda de capturas”, afirma Azevedo. O projeto “Onças do Rio Doce” é executado pelo Instituto Prístino, em cooperação técnica com a UFSJ, o Ministério Público de Minas Gerais e a Plataforma Semente. Um dos vídeos mais recentes da onça que circulou pelo Jardim é datado de 2021. Outras gravações de felinos foram feitas, em 2022, mas ainda estão sendo analisadas, devido a entraves relacionados à pandemia.

Independentemente da paternidade, o registro de três novos animais da espécie, no local, é motivo de comemoração em termos demográficos, uma vez que esse felino é ameaçado de extinção. Existem apenas cerca de 300 onças-pintadas vivendo na Mata Atlântica, conforme levantamento realizado em 2016.

Vídeo mostra onça-pintada que circulou em Juiz de Fora, em 2019, passando em frente a armadilha fotográfica, em 2021, na região do Parque Estadual do Rio Doce (MG):

 

O Parque Estadual do Rio Doce, localizado na região do Vale do Aço, em Minas Gerais, possui a maior área contígua de Mata Atlântica preservada do estado – o mesmo bioma do Jardim Botânico. São 35.976 hectares de área, sendo mais de 430 vezes maior do que o Jardim, de 82,7 hectares, e quase 100 vezes mais amplo do que a Mata do Krambeck inteira. Na época, o local de introdução da onça não havia sido revelado para evitar mobilização em torno do animal, considerando a repercussão do caso.

Onça e legado de educação ambiental
A presença da onça-pintada em Juiz de Fora mobilizou equipes de nove instituições públicas, que atuaram em conjunto para a captura do felino, que circulou pelo menos desde 25 de abril de 2019 a 12 de maio, quando foi pego em armadilha no Jardim Botânico, onde foi mais avistado. À época, o animal tinha 51,6 quilos e 1,81 metro de comprimento. A idade estimada era de 4 anos, um jovem adulto, robusto, com a pelagem boa e todos os dentes.

Em sua passagem local, a onça chamou atenção da população, foi tema de reportagens nacionais e viralizou em redes sociais. Apesar da beleza e da raridade de uma onça-pintada na região, foram identificados perigos de o animal ser atropelado, ferido ou abatido, ante a uma situação de ameaça em uma de suas visitas urbanas. O animal foi filmado em frente a hotel, ruas e próximo a uma praça, no Bairro Industrial. Possivelmente atacou um galinheiro em duas noites seguidas, no Bairro Parque das Torres, na Zona Norte. O trabalho de especialistas e a conscientização da população local foram essenciais para o sucesso da captura.

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Primeiros momentos da onça-pintada quando foi introduzida em nova área (Foto: Pedro Nobre/UFJF – 2019)

Com a aparição do felino, o Jardim Botânico precisou ser fechado, dias após ser inaugurado, em 12 de abril de 2019. Quando foi reaberto à visitação pública, a onça se tornou um dos destaques do programa de educação ambiental, desenvolvido por meio de projeto de extensão universitária. Um dos pontos de abordagem é o fato de o felino ser um predador que ocupa o topo da cadeia alimentar. Para sobreviver, esse e outros animais dependem da existência de suas presas, que, por sua vez, também precisam da floresta viva para abrigo, alimentação e reprodução. Há, portanto, toda uma conexão dependente da manutenção da biodiversidade de flora e fauna.

“A onça que passou por aqui hoje faz parte da mitologia e da história do Jardim Botânico. Foi um processo muito enriquecedor para a Unidade e toda a equipe de trabalhadores. Para eternizar esse momento tão mágico, criamos em nosso Centro de Educação Ambiental um painel intitulado “O Causo da Onça-pintada”, que contém uma linha do tempo sobre momentos desde o registro do animal até a sua captura e soltura no Parque Estadual do Rio Doce”, ressalta o diretor do Jardim Botânico, Breno Moreira.

Para conhecer o painel com o “causo”, basta visitar o Jardim Botânico da UFJF, que funciona de terça a domingo, das 8h às 17h, com última entrada permitida até 16h. A visitação é gratuita e não precisa agendar.

Outras informações:
ufjf.br/jardimbotanico
institutopristino.org.br

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