O Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Neuropsicologia e Gerontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com o Laboratório de Neurociência e Cognição (LaNC), oferece atendimento gratuito para reabilitação de pessoas com sequelas cognitivas de Covid-19. As inscrições são contínuas e devem ser feitas por meio de formulário eletrônico. O projeto é coordenado pelas professoras Eliana Toscano e Nadia Shigaeff.
Para participar da iniciativa, os critérios são: diagnóstico de Covid-19 nos últimos 6 meses; residir em Juiz de Fora; e acreditar ter algum comprometimento cognitivo por consequência da infecção, por exemplo, dificuldade de memória e fala; sintomas depressivos; confusão mental e falta de coordenação motora. O projeto é gratuito e busca ajudar na reabilitação cognitiva dessas pessoas.
Segundo a pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Neuropsicologia e Gerontologia, Nadia Shigaeff, o diagnóstico clínico cognitivo pode auxiliar na recuperação dos pacientes, pois é feito através da aplicação de alguns instrumentos, assim como a análise clínica e pré-clínica dos sintomas.
Após o diagnóstico, o tratamento é realizado no Ambulatório de Neurologia do Hospital Universitário (HU-UFJF). Além das sessões de reabilitação cognitiva, será coletada uma amostra de sangue dos pacientes em intervalos estratégicos durante o estudo. “Isso porque há evidências muito recentes sobre a relação da inflamação sistêmica e a inflamação no cérebro em pacientes com Covid”, explica a outra pesquisadora, Eliana Toscano, líder do grupo de Neuroimunologia Translacional.
Segundo Eliana, ainda não se sabe com profundidade por quais mecanismos a Covid-19 afeta o cérebro, causando sequelas cognitivas em algumas pessoas. No entanto, há evidências crescentes de que o vírus, direta ou indiretamente, pode causar danos no sistema nervoso central.
Iniciada ainda em 2021, a pesquisa do núcleo “Ensaio clínico sobre o efeito da reabilitação cognitiva em indivíduos com Covid-19 grave”, apontou uma das evidências possíveis. As abordagens teóricas neste ensaio consideraram que o vírus SARS-CoV-2 possui, em sua membrana, diversas glicoproteínas que interagem com a angiotensina-2, uma enzima conversora presente em vários locais do corpo humano, inclusive no cérebro, tendo a capacidade de causar sequelas neurocognitivas.
Nádia explica que a iniciativa do estudo surgiu quando foi percebido que a Covid-19 não causava apenas sintomas respiratórios. “Passou a ser possível perceber que as pessoas, após a infecção, apresentavam queixas cognitivas como dificuldades de memória, atenção e linguagem. Então, tivemos a ideia de fazer esse estudo para testar uma estratégia terapêutica, que já é comprovadamente efetiva, agora verificando seus efeitos associados aos sintomas cognitivos após a doença.”
Voluntários são peça central para avanços da ciência
Para Eliana Toscano, os voluntários são a peça central que fazem a engrenagem da pesquisa girar e gerar respostas que possam melhorar a vida da comunidade. “Portanto, gostaríamos de agradecer a todos os participantes que têm, semanalmente, comparecido às sessões de reabilitação cognitiva e contribuído para a construção de um conhecimento que é urgente e tem demanda mundial”, enfatiza a pesquisadora.
Para a estudante de psicologia e estagiária em neuropsicologia no Hospital Universitário, Larissa Scoralich,o projeto permite uma experiência única, já que, atualmente, é o único projeto em Juiz de Fora com esse objetivo. “É uma chance de participar de algo inovador e de contribuir para a reabilitação desses pacientes, para que eles consigam perceber uma melhora em seus sintomas cognitivos. Além disso, é também uma excelente forma de dar um retorno do que aprendemos na Universidade para a nossa comunidade”, finaliza.
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